Na adolescência: quando e quanto sofrimento é normal?
O sofrimento psicológico caracteriza o Ser Humano no seu projeto vital e constitui-se da sua sensibilidade ao que é relevante e em relação aos desafios do seu desenvolvimento. Porém, certas formas de sofrimento parecem ter causas não abordáveis pelo sujeito que sofre e alteram as suas capacidades de funcionar na sua vida.
Na distinção entre sofrimento normal e patológico não parece possível considerar apenas um elemento quantitativo, pois não existe uma barreira tangível que nos ofereça o cunho patológico e é fundamental atender a aspetos qualitativos.
Quando procuramos um sofrimento patológico devemos dissecar com o jovem se existe uma descontextualização biográfica, colocando ao sujeito que o sente uma vivência paradoxal ("não tenho motivo para sentir isto"); estranheza das vivências, motivando o mesmo a não nos falar da sua narrativa de vida, mas sim do que sente ("isto que sinto é novo e estranho"); alteração do sono, apetite e outros aspetos instintivos (deixou de dormir? Deixou de comer?); perturbação do dia-a-dia e do funcionamento nas esferas familiar, escolar e de amizades.
Se na adolescência se manifestam sintomas precursores de doenças mentais graves ou podem surgir os primeiros episódios das mesmas, neste grupo é difícil destrinçar sofrimentos normais pois repercutem-se sobre os jovens o novo que experimentam nesta fase e a reconstrução do que viveram na infância à luz de novos conceitos e valores que descobrem.
Desta forma, na adolescência, hipoteticamente, quase todo o sofrimento pode ser normal - seja na intensidade, como o desgosto amoroso ou "Os Sofrimentos do Jovem Werther" de Goethe, seja na inversão do horário do sono, seja no isolamento social ou na distância afetiva dos familiares pela necessidade de individuação na construção do seu projeto individual, ou ainda nos comportamentos disruptivos ou com calosidade, muitas vezes transformados e com consumos de substâncias.
Porém, o sofrimento, se patológico e ignorado, pode impedi-los no desenvolvimento e encerrar movimentos essenciais, levando-os ao ruminar incessante sobre as experiências patológicas e a uma paralisia defensiva. São exemplos clássicos disso episódios depressivos, psicóticos e várias formas de perturbações de ansiedade.
Nesta complexidade e na dúvida, pode fazer sentido falar com um profissional de saúde - seja trazendo o adolescente para ser observado, seja procurando ajuda os que se preocupam com eles, por exemplo, serem os pais a ir discutir o que os preocupa com técnicos de saúde.
Além de permitir ajuda médica ou psicológica, clarificar se o sofrimento é normal ou patológico permitirá aos pais e família, namorados/as e amigos e professores reconsiderar que papel devem ter em face a esse sofrimento - seja de os desafiarem, organizarem (com limites) ou estimularem.