Música
Quando o único músico português da Orquestra do Algarve, Joaquim Moita, foi solicitado pelo maestro João Tiago Santos para mostrar e tocar o seu instrumento à plateia de miudagem que quase encheu o Cine-Teatro Louletano, no passado dia 25 de Janeiro, num dos concertos pedagógicos que a instituição realiza mensalmente, durante o ano lectivo, para as escolas algarvias, foi a risota geral.
Não se pense, contudo, que o músico se intimidou e a sua exibição revelou qualquer falha de concentração. Joaquim Moita tocou uns acordes com o maior dos à vontades, acabando por ser dos elementos mais aplaudidos pelos alunos. A explicação para este sucesso é simples. Joaquim Moita toca fagote, um instrumento perfeitamente desconhecido pelo público presente e que, quer pelas suas grandes dimensões, quer pelo próprio som, levou os alunos ao rubro. "Que ganda nóia, tocar uma cena destas", comentava um dos assistentes, miúdo na casa dos 10/11 anos, interrogando-se sobre "como é que ele tem força para pegar naquilo?".
Ao fagote, sucederam exibições de todos os tipos de instrumentos que compõem a Orquestra Algarvia, bem explicados pelo maestro convidado - os representantes das famílias das cordas, sopros e percussão. Dos contrabaixos, violoncelos, violinos, flautas, clarinetes e trompetes, já muita miudagem tinha ouvido falar e alguns até conheciam, mas quanto ao oboé, à viola de arco e à trompa, o caso mudou de figura.
Os alunos do 4º ao 6º ano de várias turmas de escolas de Aljezur, Silves e Tavira seleccionadas pela Direcção Regional de Educação para o concerto pedagógico de Janeiro, ficaram literalmente de boca aberta ao verem e ouvirem "aquelas coisas esquisitas". A apoteose final que quebrou a admiração geral pelo desconhecido, aconteceu com os tímpanos, a fazer lembrar "a bateria, que é uma curte". "Foi o melhor ritmo da sessão", opinou o Rafael Pessoa, de 11 anos, da Escola Básica Integrada + Jardim de Infância de Aljezur que, tal como a esmagadora maioria dos colegas, nunca tinha assistido ao concerto de uma orquestra.
A ÓPera. A iniciativa começou, porém, não com a apresentação dos instrumentos, mas sim, com a peça de abertura da ópera O Barbeiro de Sevilha, tocada para uma plateia juvenil inusitadamente silenciosa, quase em êxtase.
No final, o maestro gabou a postura, "rara entre gente da vossa idade", e perguntou se conheciam a peça e a ópera. Resposta geral "Não!". Convidada a responder à pergunta "o que é uma ópera?", uma aluna respondeu com convicção: "é uma senhora gorda e um senhor a cantar de uma forma assim um bocadinho diferente". Os músicos riram, o maestro sorriu e deu a devida explicação. "Já ouviram ao menos falar no Barbeiro de Sevilha?". Desapontamento total, quando se voltou a ouvir um "Não!" generalizado.
A peça foi tocada de novo, depois de divulgada a história da ópera e, no final, os alunos foram chamados ao palco para fazer perguntas ao maestro e aos músicos. "É difícil tocar estes instrumentos?", questionou o Lénio. "O que é ser músico de uma orquestra?", indagou a Simone. "É preciso treinar muito?". "Quais são os instrumentos mais difíceis?". As questões sucederam-se a um ritmo quase alucinante, agravadas pela dificuldade das respostas, já que os músicos da jovem Orquestra do Algarve ainda só "arranham" o português. E também pelo tipo de perguntas formuladas. É que, na cabecinha do Daniel, por exemplo, uma orquestra tem "qualquer coisa a ver com um grupo de músicos, parecidos àqueles que tocam lá na minha terra, os da banda". Daí a curiosidade do aluno que apanhou de surpresa o maestro e divertiu à grande os músicos "então, quando isto acabar, a banda vai desfilar ali fora, na avenida?"...