Museu Judaico em Alfama abre portas em 2017

História dos judeus em Portugal vai ser contada num novo edifício que vai nascer no Largo de São Miguel. Projeto envolve um investimento de cerca de cinco milhões de euros
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"Temos um dever de memória para com o nosso passado judaico." As palavras são do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, ontem, na cerimónia que formalizou o lançamento do novo Museu Judaico da cidade. O projeto, que implicará um investimento de cinco milhões de euros, estará pronto no próximo ano. Para contar "sem reservas" a história dos judeus em Portugal, garantiu o presidente da autarquia, Fernando Medina.

A memória desse percurso vai ser contada no novo edifício que se vai erguer no Largo de São Miguel, em Alfama. Da autoria da arquiteta Graça Bachmann, terá dois corpos distintos, um primeiro semelhante ao edificado residencial típico do bairro, um segundo com uma fachada já diferenciada, em pedra lioz e com um friso em baixo relevo que desenha a Estrela de David (e que se prolonga pela fachada lateral, na rua de São Miguel). Ao DN, Graça Bachmann diz que o grande desafio foi a "integração" do projeto com a envolvente, fortemente marcada pela Igreja de São Miguel (imóvel de interesse público), logo ali a dois passos. A solução passou por fazer uma "continuação da habitação, dado este ser um bairro essencialmente habitacional", e depois uma fachada "com um revestimento que é um dos símbolos de Lisboa [a pedra lioz], que é também a pedra da igreja". No interior, um piso semienterrado terá uma sala polivalente, receção e loja. Os pisos de cima funcionarão em open space, constituindo o espaço museológico propriamente dito. No último andar haverá um terraço com uma cafetaria.

Esther Mucznik, antiga vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa e responsável pelo plano museológico explica que o museu terá um primeiro espaço com uma exposição de objetos e imagens da cultura religiosa judaica (que serão doados pela comunidade) e passará depois ao percurso dos judeus em Portugal. "Acentuando os lados positivos e os contributos da comunidade judaica" ao país, referiu ontem, mas sem deixar esquecidos os períodos mais obscuros - leia-se a expulsão e perseguições aos judeus. Um aspeto também sublinhado por Fernando Medina, presidente da autarquia: "A presença da comunidade judaica em Portugal, além de milenar, é feita de períodos de luz e de períodos negros. O museu tem que ser capaz de contar essa história no que ela teve de brilhante e de sombrio".

Falando na cerimónia de assinatura dos protocolos entre as várias entidades envolvidas no projeto, Medina classificou o dia de ontem como "histórico", o princípio do fim na concretização de uma "velha ambição" da autarquia. Já quanto aos custos, o presidente da Câmara de Lisboa apontou para um "investimento total de cinco milhões de euros" numa primeira fase "de construção e funcionamento". Um valor que será suportado em grande medida pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa (a chamada taxa turística) e por uma doação da Fundação Lina e Patrick Drahi (o dono da Altice, empresa francesa que é dona da Portugal Telecom) no valor de cerca de 1,2 milhões de euros - segundo Medina um dos maiores contributos financeiros de um doador privado a um projeto na capital. Presente ontem na assinatura dos protocolos, Drahi explicou que a história da sua família se liga à história de Portugal - "No fim do século XV as famílias Drahi, Sicsu e Amoyal deixaram Lisboa e o Algarve. Destas regiões os meus antepassados, expulsos, seguiram a estrada do sul e instalaram-se na África do Norte".

À comunidade israelita caberá ceder o espólio para o Museu, que será gerido pela Associação de Turismo de Lisboa. A ATL fica com os direitos de superfície, por um período mínimo de 50 anos, sobre o terreno onde será construído o museu, um espaço que tinha até agora três prédios camarários e um quarto, propriedade de um privado, que a câmara já adquiriu. Ao DN Fernando Alves Costa, o proprietário , diz que vai entregar as chaves no final deste mês, mas está muito pouco satisfeito com o negócio: "Foi muito mal pago. Tinha aqui um rendimento, um café e duas casas alugadas, deram-me 100 mil euros e uma loja em Telheiras".

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