Das imponentes colunas revestidas a inox resta o esqueleto em betão. Dos tectos trabalhados sobraram os vestígios que resistiram aos martelos. Do chão, do balcão e das paredes onde outrora se recebiam os clientes do Banco Nacional Ultramarino (BNU) ficaram apenas os luxuosos painéis de mármore verde de Viana. Foi neste ambiente "descarnado", mas propositadamente conservado assim, que se inaugurou em Lisboa o MUDE - Museu do Design e da Moda..Seis anos depois da compra da Colecção Francisco Capelo pela Câmara Municipal de Lisboa e três anos após a saída do acervo do Centro Cultural de Belém, a história atribulada do MUDE conhece agora um novo capítulo: a abertura ao público em espaço próprio, num prédio de sete andares que ocupa todo um quarteirão da Baixa Pombalina, entre as ruas Augusta, da Prata, de S.Julião e dos Correeiros..Antes de arrancarem as obras definitivas, com projecto de Manuel Reis e Alberto Caetano, esta foi "a forma mais criativa e inovadora" que se encontrou para voltar a apresentar a colecção, que nos últimos três anos esteve guardada nas reservas que a CML construiu para o efeito nos Olivais, conta ao DN Bárbara Coutinho, directora do MUDE. .Com um orçamento de um milhão de euros para um ano e meio de programação e manutenção do edifício - valor totalmente financiado pelo Turismo de Portugal -, o MUDE arranca com a exposição Ante-estreia, uma selecção de cerca de 180 peças que, até 11 de Outubro, se propõe explorar as relações entre o design, as artes, a política e o contexto socioeconómico..Pela primeira vez aqui se exibe parte do acervo de moda, que nunca foi apresentado no CCB. Pontuando os 15 núcleos de design industrial e de mobiliário desde a década de 1930 à actualidade - com objectos que protagonizaram "importantes transformações ao nível da própria noção do design, da habitabilidade do espaço, dos hábitos das pessoas e do próprio modo de entender o corpo", como salienta Bárbara Coutinho -, há peças de vestuário famosas assinadas por Pierre Balmain, Courrèges, Paco Rabanne, Gaultier, Vivienne Westwood ou John Galiano..Nos 1200 metros quadrados do piso térreo, transformados pelos arquitectos Ricardo Carvalho e Joana Vilhena, destacam-se agora os armários de Tejo Remy e Ronan Bouroullec, a estante Carlton de Ettore Sottsass, a Living Tower de Verner Panton, o candeeiro Moloch de Gaetano Pesce ou o "quarto universitário" de Le Corbusier e Charlotte Pérriand, assentes sobre plataformas de madeira branca pousadas do chão de cimento..Num ambiente assumidamente de estaleiro, em que a luz das inúmeras janelas é coada por redes de obra, exibem-se ainda electrodomésticos, objectos de cerâmica e cinco vídeos que contextualizam as peças - entre os quais, o do debate televisivo entre Kennedy e Nixon, Zabriskie Point (de Antonioni), A Dama de Xangai (de Orson Welles) e Marilyn a cantar Diamonds are a Girl's Best Friend..Com cafetaria, livraria especializada (entregue à A+A) e auditório no primeiro andar (piso onde, a 4 de Junho, se inaugurará a exposição de cartazes Ombro a Ombro - Retratos Políticos, vinda do Museu de Design de Zurique), o MUDE já tem nas bancas o seu catálogo, em formato de revista, ao preço de cinco euros. A estratégia, conta a directora, é tornar acessível a colecção e cativar o público, contribuindo para a dinamização cultural e turística da Baixa..O MUDE abrirá de terça a domingo, das 10.00 às 20.00 - encerra às 22.00, às sextas e sábados. No primeiro mês, a entrada é grátis.