Municipais brasileiras. Covas vence em São Paulo, Paes no Rio

Resultados sem surpresas nas duas maiores cidades do país. No geral, uma vitória dos partidos do centro político, dizimado nas presidenciais de 2018. O PT de Lula da Silva, sem gerir nenhuma capital estadual, e, sobretudo, o presidente Jair Bolsonaro sofreram derrotas amargas
Publicado a
Atualizado a

Bruno Covas, atual prefeito de São Paulo, foi eleito para dirigir por mais quatro anos a maior cidade do Brasil. Quase 60% dos nove milhões de eleitores paulistanos deram a vitória ao político de 40 anos do PSDB. Guilherme Boulos, 38 anos, do PSOL, uma espécie de Bloco de Esquerda, chegou com surpresa à segunda volta mas acabou por ficar aquém do esperado na segunda, com menos de 40%.

"As urnas falaram e eu saberei ouvir o recado: São Paulo pode contar comigo, agora vamos transformar a esperança em realidade, é possível fazer política sem ódio e falando a verdade", disse Covas no discurso de triunfo.

Covas, eleito vice-prefeito em 2016, chegou à prefeitura a meio da legislatura anterior, substituindo João Doria, que concorreria e ganharia, a meio do mandato, as eleições de 2018 para governador do estado.

Neto de Mário Covas, fundador do seu partido, ao lado de Fernando Henrique Cardoso e outros, Bruno Covas foi diagnosticado com um cancro no aparelho digestivo no ano passado do qual ainda se recupera.

"Ele foi um guerreiro na campanha, ganhou com força, garra e fé", disse Doria, tendo em conta a doença.

Por sua vez, Boulos, com covid-19, não pôde participar no último debate na TV Globo. O candidato, que chegou a ser comparado a Lula da Silva, pelo estilo combativo ao longo da campanha, e que se tornou notado pela sua ação à frente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, era apoiado por toda a esquerda.

"Agradeço a todos, nós vamos ganhar, não ganhamos nesta eleição mas vamos ganhar", disse Boulos da varanda do seu prédio, onde está confinado, após a divulgação dos resultados.

Jair Bolsonaro, presidente da República, participou na campanha de Celso Russomanno, do Republicanos, partido ligado à IURD, que acabou em quarto lugar na primeira volta, há 15 dias.

A eleição de Covas em São Paulo acaba por servir de ilustração do tom geral das eleições: os partidos do centro e do centro-direita venceram a maioria das prefeituras em disputa; a esquerda, embora em recuperação após a debacle nas municipais de 2016, também sai derrotada: e o bolsonarismo, movimento surgido nas presidenciais de 2018 em torno de Jair Bolsonaro, quase desaparece, com o desaire dos três candidatos apoiados pelo presidente em capitais estaduais.

A começar por Marcelo Crivella, do Republicanos, derrotado por Eduardo Paes, do DEM, de centro-direita, no Rio de Janeiro. Paes obteve quase dois terços dos votos dos cariocas - 64% - num sinal claro de rejeição a Crivella, atual prefeito e sobrinho do bispo Edir Macedo.

"Esta cidade pode voltar a ser a cidade da diversidade, o Rio vai voltar a olhar para a frente com esperança e confiança, o governo reacionário anterior foi ruim na gestão e piorou a vida das pessoas, esta é uma vitória da política", disse Paes, no discurso da vitória, fazendo-se acompanhar de Rodrigo Maia, o presidente da Câmara dos Deputados, uma das duas casas legislativas, seu colega de partido, que vem mantendo relação atribulada com governo de Bolsonaro.

Paes, 51 anos, fora prefeito da cidade por dois mandatos consecutivos antes de Crivella. Em 2018, concorreu ao governo do estado sendo batido por Wilson Witzel, do PSC, de direita, um candidato eleito na esteira do bolsonarismo entretanto afastado por impeachment.​​​​​​

Durante uma campanha muito atribulada, Crivella chegou a acusar Paes de "promover a pedofilia nas escolas" caso fosse eleito.

Paes conseguiu o apoio oficioso na segunda volta de praticamente todos os partidos, mesmo da esquerda, considerando-o o mal menor. Até a página de Facebook sob o nome "Fora Eduardo Paes", crítica às primeiras gestões do político no Rio, declarou apoio a... Eduardo Paes.

Os candidatos bolsonaristas em Belém e em Fortaleza também perderam: no primeiro caso, o Delegado Eguchi foi derrotado por um candidato do esquerdista PSOL, Edmilson Rodrigues; e no segundo, o Capitão Wagner para José Sarto, um aliado de Ciro Gomes, do PDT, de centro-esquerda, o terceiro classificado nas presidenciais de 2018.

Uma das eleições mais aguardadas, entretanto, ocorria no Recife, onde as sondagens davam um empate a 50% entre João Campos, do PSB, e Marília Arraes, do PT, ambos de centro esquerda e primos. Campos, de apenas 27 anos, acabou por vencer com perto de 14 pontos de avanço sobre Marília, de 36.

Ambos são descendentes de Miguel Arraes, antigo governador pernambucano, sendo que João é filho de Eduardo Campos, o candidato às presidenciais de 2014 que morreu em acidente aéreo.

"Não posso deixar de me lembrar do meu pai, minha referência na vida e na política", disse Campos, na hora da vitória.

O PT não venceu, aliás, em nenhuma capital estadual: perdeu também em Vitória, no Espírito Santo, onde João Coser foi batido pelo Delegado Pazolini, do Republicanos, braço político da IURD.

Em Porto Alegre, Sebastião Melo, do MDB, o partido do ex-presidente Michel Temer, bateu, com 56%, a comunista Manuela D'Ávila, do PCdoB, que chegou a liderar a corrida e a parecer vir a tornar-se a primeira mulher prefeita da capital do Rio Grande do Sul mas não passou dos 44%.

Destaque ainda para Goiânia, onde o vencedor, Maguito Vilela, do MDB, não participou na campanha por estar há semanas hospitalizado em estado grave com covid-19. Segundo apoiantes, Vilela não sabe sequer que foi eleito.

No total, houve segundas voltas em 57 cidades, das quais 17 eram capitais estaduais, envolvendo 38 milhões de eleitores. Há 15 dias, os outros 5548 municípios do Brasil já haviam escolhido os seus autarcas, até porque apenas para cidades com mais de 200 mil eleitores está previsto o instituto da segunda volta.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt