Mundial: 28 portugueses postos à prova por entre os trilhos italianos

Atletas da seleção nacional vão subir e descer 50 quilómetros nas montanhas de Badia Prataglia, este sábado, na região de Toscana
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Cinquenta quilómetros e 3000 metros de elevação acumulada para percorrer em montanha. É este o desafio dos 28 atletas portugueses, 14 masculinos e outros tantos femininos, que vão representar a seleção nacional no Campeonato do Mundo de trail, sábado, em Badia Prataglia, na região de Toscana.

Para o selecionador José Santos será uma competição com a "exigência de qualquer prova de trail", ou seja, "sempre grande". "Exige uma preparação muito específica e uma adequada gestão de nutrição, hidratação e equipamento. Além da distância e do desnível, a natureza vai colocar alguns obstáculos, sobretudo na segunda metade, em que a dureza estará concentrada. O percurso não é tão técnico como outros, mas os atletas estarão expostos a elementos como o calor", perspetivou o treinador nacional, 58 anos, acerca de uma prova que tem início marcado para as oito horas locais (mais uma do que em Portugal continental) e que, para os primeiros classificados, deverá terminar após o meio-dia. "Os primeiros deverão precisar de cerca de 4 horas e 15 minutos para chegar à meta. Os outros poderão demorar cinco ou seis horas...", anteviu.

Simulação na Madeira

Terceiro Mundial de trail, terceira participação portuguesa. Depois de as senhoras terem melhorado o 13.º lugar inicial no ano passado, quando ficaram em 6.º, e de os homens terem subido de 19.º para 5.º, o objetivo agora passa por continuar a progredir na classificação. "A nossa ambição é igualar ou superar o resultado do ano passado. O nosso foco é a classificação coletiva e não tanto a individual. Ficámos à frente de países que são fortes e têm tradição, como Itália e Estados Unidos no caso masculino, e Alemanha e Áustria no feminino", recordou José Santos, que justifica a evolução com "vários fatores" como "mais experiência, implementação de regras e preparação e planeamento".

Por falar em preparação e planeamento, a seleção nacional realizou dois estágios para chegar, no ponto, ao dia da competição. "Fizemos um estágio em Itália, no local da prova, a 13 e 14 de maio, para reconhecer o percurso e ter em atenção todos os detalhes. Por vezes, um detalhe faz a diferença entre um bom e um mau desempenho, por isso estamos no mesmo hotel do estágio e chegámos três dias antes da prova. O segundo estágio foi feito na Madeira, a 27 e 28 de maio, para treinar a gestão da prova, tentando replicar o perfil do percurso que vamos encontrar no Campeonato do Mundo. Treinámos especificamente as transições nos postos de abastecimento, uma vez que os atletas terão de ser muito rápidos nesses pontos, pois 15 ou 20 segundos podem ditar a perda de vários lugares na classificação", explicou o técnico, fundador da Associação de Trail Running de Portugal (ATPR) e selecionador desde a formação do conjunto nacional, em 2015.

Do meio-fundo à montanha

Entre os 28 atletas que vão representar Portugal em Badia Prataglia, há um nome que salta à vista: Hélio Fumo. Representou o Sporting e tornou-se internacional por se destacar em provas de meio-fundo, entre os 800 e os 3000 metros, mas recentemente deu um salto brutal para o trail, onde já começa a ter bons resultados. "Tem tido uma evolução muito rápida e tem ficado bem posicionado em algumas provas internacionais. Fez uma boa preparação e tem mais um ano de experiência. Não é caso virgem. Atletas de outros países também têm feito essa transição, nomeadamente para trails curtos", afirmou José Santos, em declarações ao DN.

As características do antigo meio--fundista nascido em Moçambique, 34 anos, até podem encaixar no perfil da prova de sábado. "É uma prova que favorece atletas mais rápidos. É diferente de distâncias entre 80 e 85 quilómetros que têm 5000 metros de ascensão, como foi no Mundial do ano passado, no Gerês", comentou o selecionador nacional.

Hélio Fumo é um dos cerca de 300 mil associados da ATRP, ainda que existam muitos mais praticantes de trail em Portugal, e em "crescimento exponencial". "É o desporto outdoor que mais tem crescido a nível mundial. Tem tido um crescimento mundial. Há cinco anos, tínhamos 50 eventos anuais em Portugal. Hoje, temos 250, um número maior do que os das provas de atletismo de estrada. Creio que não seja uma questão de moda, até porque o trail proporciona desafios e contacto com a natureza", analisou o técnico, que começou a correr em trilhos em finais do século passado.

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