Enquanto combatiam as forças da resistência aparentemente deixadas ao seu destino, no vale de Panshir, e ouviam dezenas de mulheres nas ruas de Herat a reclamar os seus direitos, os talibãs ultimavam a apresentação do seu projeto de governo após três dias de reuniões em Kandahar, o "berço espiritual" do movimento fundamentalista islâmico..Segundo fontes ouvidas pela AFP, tal deve acontecer já nesta sexta-feira, horas depois de terem ouvido dirigentes norte-americanos e britânicos reconhecerem a necessidade de manterem uma relação, ainda que não reconheçam o governo de forma oficial..Ao segundo dia do ataque talibã às forças comandadas por Ahmad Massud, o governo do Tajiquistão decidiu homenagear o seu pai, Ahmad Shah Massud, o "leão de Panshir", lendário combatente que manteve a região montanhosa impenetrável quer para soviéticos, quer para talibãs, tendo sido morto num ataque suicida da Al-Qaeda há 20 anos..DestaquedestaqueO porta-voz da Frente Nacional da Resistência do Afeganistão confirmou que os talibãs ofereceram ao líder Ahmad Massud um lugar no governo, mas este declinou porque não estavam assegurados os direitos de todos os afegãos..Segundo o porta-voz das forças da resistência, Fahim Dashty, em declarações à indiana NDTV, os talibãs ofereceram um lugar a Massud no governo, mas este recusou porque o objetivo do movimento não é ter cadeiras no poder, mas "defender o Afeganistão e assegurar os direitos de todos os afegãos". A recusa de Massud carimbou o fim de uma frágil linha diplomática que tinha sido iniciada na semana anterior, numa reunião de três horas..Pelo meio, numa entrevista à Foreign Policy, o líder de 32 anos mostrava-se aberto à via da paz. "Se os talibãs estiverem dispostos a alcançar um acordo de partilha de poder onde este seja igualmente distribuído e descentralizado, então podemos avançar. Qualquer coisa menos do que isto será inaceitável para nós, e continuaremos a nossa luta e resistência até alcançarmos justiça, igualdade, e liberdade", disse o homem educado no Reino Unido..Perante a vitória no resto do país e a retirada total das forças estrangeiras, os talibãs exigiram ao grupo para depor armas. O resto já se sabe: centenas de combatentes foram para a região localizada 150 quilómetros a nordeste de Cabul..Do lado das forças antitalibãs, relatos de que "não se perdeu um quilómetro de território" e de terem morto 350 talibãs e capturado outros 35; do lado dos combatentes islamistas houve o reconhecimento de "baixas pesadas" de ambas as partes. Na quinta-feira, segundo a Al-Arabya, a resistência disse que aos talibãs juntaram-se forças da Al-Qaeda, uma alegação que, a confirmar-se, poderia mudar a forma como os outros países, a começar pelos Estados Unidos, vão lidar com o poder talibã. Um dos pontos do acordo com os norte-americanos é não fazer do Afeganistão um porto de abrigo dos movimentos terroristas internacionais..Sem ninguém no governo da Frente Nacional da Resistência do Afeganistão, à qual se juntou o ex-vice-presidente Amrullah Saleh, especula-se se o executivo incluirá o ex-presidente Hamid Karzai ou Abdullah Abdullah, o homem que liderou as negociações com os talibãs nos últimos meses. Ao contrário do presidente Ashraf Ghani, não fugiram do país, e a sua inclusão iria dar cumprimento à promessa dos talibãs de terem um governo diverso..A outra dúvida relativa à diversidade prende-se com a presença das mulheres. Sher Mohammad Abbas Stanikzai, que fez parte do governo talibã nos anos 90, disse à BBC que as mulheres podem continuar a trabalhar na administração pública, mas "não poderia" haver um lugar para elas em cargos de topo, agora ou no futuro..Contra esta visão primitiva, em Herat, cidade no oeste do país, cerca de 50 mulheres desafiaram o medo e saíram à rua, numa manifestação a exigir o direito ao trabalho e à participação feminina no novo governo. "A educação, o trabalho e a segurança são nossos direitos", foi a frase de ordem das manifestantes. "Não temos medo, estamos unidas", disseram. "Queremos que os talibãs nos consultem", disse Taheri. "Não vemos nenhuma mulher nas suas reuniões", lamentou uma das organizadoras do protesto, Basira Taheri, à AFP..Um porta-voz talibã, Bilal Karimi, confirmou que as reuniões em Kandahar não incluíram quem não seja talibã, o que necessariamente afasta as mulheres. "Não se falou em incluir ou não incluir" líderes antitalibãs no novo governo, disse ainda..O que já parece claro é quem será o dirigente máximo: Haibatullah Akhundzada, um estudioso do islão de Kandahar cujo filho foi um bombista suicida, e que deverá receber uma designação semelhante à do guia supremo do Irão, sendo de esperar que abaixo de si na hierarquia seja designado um presidente ou chefe do governo, o qual deverá estabelecer-se em Cabul, ao contrário de Akhundzada, que permanecerá na sua cidade..Abdul Ghani Baradar, cofundador e vice-líder do movimento, e que esteve preso no Paquistão, é o nome apontado para gerir o executivo. Outros dirigentes de topo do movimento fundamentalista que devem fazer parte da estrutura de transição de movimento de insurreição para um regime são Abdul Ghani Baradar, co-fundador dos talibãs, Sirajuddin Haqqani, vice-líder, e Mawlawi Muhammad Yaqoub, filho de Muhammad Omar, o "mulá Omar", antigo líder dos talibãs que morreu em 2013..cesar.avo@dn.pt
Enquanto combatiam as forças da resistência aparentemente deixadas ao seu destino, no vale de Panshir, e ouviam dezenas de mulheres nas ruas de Herat a reclamar os seus direitos, os talibãs ultimavam a apresentação do seu projeto de governo após três dias de reuniões em Kandahar, o "berço espiritual" do movimento fundamentalista islâmico..Segundo fontes ouvidas pela AFP, tal deve acontecer já nesta sexta-feira, horas depois de terem ouvido dirigentes norte-americanos e britânicos reconhecerem a necessidade de manterem uma relação, ainda que não reconheçam o governo de forma oficial..Ao segundo dia do ataque talibã às forças comandadas por Ahmad Massud, o governo do Tajiquistão decidiu homenagear o seu pai, Ahmad Shah Massud, o "leão de Panshir", lendário combatente que manteve a região montanhosa impenetrável quer para soviéticos, quer para talibãs, tendo sido morto num ataque suicida da Al-Qaeda há 20 anos..DestaquedestaqueO porta-voz da Frente Nacional da Resistência do Afeganistão confirmou que os talibãs ofereceram ao líder Ahmad Massud um lugar no governo, mas este declinou porque não estavam assegurados os direitos de todos os afegãos..Segundo o porta-voz das forças da resistência, Fahim Dashty, em declarações à indiana NDTV, os talibãs ofereceram um lugar a Massud no governo, mas este recusou porque o objetivo do movimento não é ter cadeiras no poder, mas "defender o Afeganistão e assegurar os direitos de todos os afegãos". A recusa de Massud carimbou o fim de uma frágil linha diplomática que tinha sido iniciada na semana anterior, numa reunião de três horas..Pelo meio, numa entrevista à Foreign Policy, o líder de 32 anos mostrava-se aberto à via da paz. "Se os talibãs estiverem dispostos a alcançar um acordo de partilha de poder onde este seja igualmente distribuído e descentralizado, então podemos avançar. Qualquer coisa menos do que isto será inaceitável para nós, e continuaremos a nossa luta e resistência até alcançarmos justiça, igualdade, e liberdade", disse o homem educado no Reino Unido..Perante a vitória no resto do país e a retirada total das forças estrangeiras, os talibãs exigiram ao grupo para depor armas. O resto já se sabe: centenas de combatentes foram para a região localizada 150 quilómetros a nordeste de Cabul..Do lado das forças antitalibãs, relatos de que "não se perdeu um quilómetro de território" e de terem morto 350 talibãs e capturado outros 35; do lado dos combatentes islamistas houve o reconhecimento de "baixas pesadas" de ambas as partes. Na quinta-feira, segundo a Al-Arabya, a resistência disse que aos talibãs juntaram-se forças da Al-Qaeda, uma alegação que, a confirmar-se, poderia mudar a forma como os outros países, a começar pelos Estados Unidos, vão lidar com o poder talibã. Um dos pontos do acordo com os norte-americanos é não fazer do Afeganistão um porto de abrigo dos movimentos terroristas internacionais..Sem ninguém no governo da Frente Nacional da Resistência do Afeganistão, à qual se juntou o ex-vice-presidente Amrullah Saleh, especula-se se o executivo incluirá o ex-presidente Hamid Karzai ou Abdullah Abdullah, o homem que liderou as negociações com os talibãs nos últimos meses. Ao contrário do presidente Ashraf Ghani, não fugiram do país, e a sua inclusão iria dar cumprimento à promessa dos talibãs de terem um governo diverso..A outra dúvida relativa à diversidade prende-se com a presença das mulheres. Sher Mohammad Abbas Stanikzai, que fez parte do governo talibã nos anos 90, disse à BBC que as mulheres podem continuar a trabalhar na administração pública, mas "não poderia" haver um lugar para elas em cargos de topo, agora ou no futuro..Contra esta visão primitiva, em Herat, cidade no oeste do país, cerca de 50 mulheres desafiaram o medo e saíram à rua, numa manifestação a exigir o direito ao trabalho e à participação feminina no novo governo. "A educação, o trabalho e a segurança são nossos direitos", foi a frase de ordem das manifestantes. "Não temos medo, estamos unidas", disseram. "Queremos que os talibãs nos consultem", disse Taheri. "Não vemos nenhuma mulher nas suas reuniões", lamentou uma das organizadoras do protesto, Basira Taheri, à AFP..Um porta-voz talibã, Bilal Karimi, confirmou que as reuniões em Kandahar não incluíram quem não seja talibã, o que necessariamente afasta as mulheres. "Não se falou em incluir ou não incluir" líderes antitalibãs no novo governo, disse ainda..O que já parece claro é quem será o dirigente máximo: Haibatullah Akhundzada, um estudioso do islão de Kandahar cujo filho foi um bombista suicida, e que deverá receber uma designação semelhante à do guia supremo do Irão, sendo de esperar que abaixo de si na hierarquia seja designado um presidente ou chefe do governo, o qual deverá estabelecer-se em Cabul, ao contrário de Akhundzada, que permanecerá na sua cidade..Abdul Ghani Baradar, cofundador e vice-líder do movimento, e que esteve preso no Paquistão, é o nome apontado para gerir o executivo. Outros dirigentes de topo do movimento fundamentalista que devem fazer parte da estrutura de transição de movimento de insurreição para um regime são Abdul Ghani Baradar, co-fundador dos talibãs, Sirajuddin Haqqani, vice-líder, e Mawlawi Muhammad Yaqoub, filho de Muhammad Omar, o "mulá Omar", antigo líder dos talibãs que morreu em 2013..cesar.avo@dn.pt