Mulheres imigrantes são cada vez mais e chegam sozinhas Portugal

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Mulheres imigrantes são cada vez mais e chegam sozinhas Portugal

São cada vez mais as mulheres que imigram para Portugal e que optam por o fazer sozinhas, muitas delas deixando os filhos ao cuidado de familiares. Oriundas sobretudo da Ucrânia, do Brasil e de Cabo Verde, estas mulheres dedicam-se a trabalhos desqualificados - em especial empregadas de limpeza, de mesa ou domésticas - e queixam-se de discriminação e burocracia, que dizem ser responsável por estarem ilegais durante anos.

Estas são algumas conclusões do estudo Female Migration Vision que será apresentado hoje à tarde no Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa. É o primeiro relatório nacional realizado no âmbito do projecto da Comissão Europeia sobre imigração feminina na Europa, sendo coordenado pela socióloga Karin Wall, e analisa as trajectórias de ucranianas, brasileiras e cabo-verdianas por serem as comunidades com maior expressão em Portugal.

A "nacionalidade e a etnicidade influenciam o tipo de trajectória e o percurso das mulheres imigrantes", em presença crescente no mercado laboral português, mas há características comuns, refere Karin Wall. A imigração tradicional, em que emigra primeiro o homem e depois a mulher, mantém-se através do reagrupamento familiar, só que há uma grande diversidade de trajectórias. "Temos de pensar na imigração feminina de uma forma autónoma", sublinha a socióloga.

São cada vez mais as Júlias, as Augustas, as Marlis, as Neuzas, as Katiúchas e as Ludmilas que chegam sozinhas a Portugal. Mas, sós ou acompanhadas, todas reclamam que o processo de legalização é burocrático, contribuindo para a situação de legalidade em que se encontram. E, desta forma, são mais vulneráveis ao trabalho clandestino, à instabilidade laboral, à exploração dos empregadores, ao assédio sexual e à habitação sem condições. As brasileiras e ucranianas queixam-se de discriminação nos primeiros anos. As cabo-verdianas dizem-se vítimas do racismo para sempre. As ucranianas referem, ainda, a dificuldade no reconhecimento das suas habilitações.

Há mulheres que emigram por um período inferior a cinco anos e para ganhar o máximo de dinheiro, sendo substituídas por conhecidas. Geralmente, são brasileiras que trabalham como domésticas a 500 euros por mês, com cama e comida. Há jovens, com filhos pequenos deixados no país de origem, e mais velhas, em geral casadas e com filhos adultos. Esta é uma situação que se verifica na Itália e que as investigadores descobriram, com surpresa, em Portugal. Problemas financeiros, de saúde ou o pagamento dos estudos dos filhos são os principais motivos que levam estas mulheres a emigrar.

Refazer a vida no estrangeiro é o motivo de um segundo grupo de estrangeiras, sendo esta uma imigração de longa duração e com mais mulheres sós, algumas das quais com filhos. Por último, há uma imigração yo-yo, marcada por uma grande mobilidade em termos laborais e geográficos, sempre à procura de meios de sobrevivência. São mulheres oriundas de famílias numerosas e pobres.

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