Mulheres. Educação, conhecimento e liberdade
Assinala-se nesta sexta-feira o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas como forma de alertar para a desigualdade de género, que penaliza as oportunidades e carreiras das mulheres nos domínios da ciência, da tecnologia e da inovação.
Nunca como hoje a utilização do digital foi tão determinante nas nossas vidas, mas esta realidade confronta-se com os reduzidos níveis de participação das mulheres. Sabemos que, em Portugal, as mulheres especialistas em TIC são apenas 1,8% do emprego total, face a 6,2% entre os homens (2021-DESI). As profissionais das TIC passaram de 26,2% em 1999 para 20,1% em 2020 e, em 2018, as adolescentes que aos 15 anos aspiravam a trabalhar nas TIC correspondiam a apenas 0,2%, uma das percentagens mais baixas da União Europeia.
A União Europeia e Portugal enfrentam uma escassez sem precedentes de profissionais TIC, pelo que a desconstrução dos estereótipos de género que influenciam as escolhas educativas e potenciam o fosso existente no emprego tecnológico assume especial relevância, traduzindo-se numa via verde para uma sociedade mais sustentável a nível económico e social. A promoção da igualdade de género no digital é uma questão de inclusão social que pretendemos para o nosso futuro coletivo, o que reforça a urgência na eliminação do gender digital gap.
Portugal tem vindo a trabalhar no âmbito da Iniciativa Intergovernamental INCoDe.2030, Iniciativa Nacional Competências Digitais e.2030, que tem como objetivo melhorar o nível de competências digitais dos portugueses e colocar o nosso país ao nível dos países europeus mais avançados nesta dimensão. Esta iniciativa garante que a transição digital tem de estar assente na promoção da igualdade de género, incentivando o aumento da participação das mulheres no digital em todas as linhas de intervenção, incluindo na educação, formação profissional, empregabilidade, literacia digital, empreendedorismo de base digital e desenvolvimento económico e empresarial.
Programas como o Engenheiras por 1 Dia, Eu Sou Digital, Upskill ou o PRR - Plano de Recuperação e Resiliência, que inclui mecanismos para garantir que as mulheres participam nos programas de educação e capacitação digital nas várias componentes, são exemplos do trabalho que tem sido feito no âmbito da Igualdade e com metas muito concretas.
Por outro lado, também as empresas estão atentas a esta necessidade e têm sido cada vez mais as que incluem políticas de igualdade de género nos seus Planos Estratégicos. Entre as entidades, destacam-se, por exemplo, a própria .PT, a Huawei, a EDP, a NOS, a Natixis, a Siemens, a Accenture, a Cisco e a Microsoft, que assinaram a Aliança para a Igualdade nas TIC, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento científico e tecnológico igualitário, inclusivo e orientado para o futuro, conforme Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação 2018-2030 Portugal+Igual.
São estas ações concertadas entre a política pública e as práticas empresariais que já permitiram ver Portugal subir cinco posições no DESI - Digital Economy and Society Index, no indicador Mulheres Especialistas TIC, com um aumento para 22%, valor acima da média europeia.
A igualdade é um pilar da democracia que temos de construir e reforçar em permanência, crentes dos muitos passos que têm sido dados, mas sobretudo do quanto ainda há por fazer e do caminho que ainda temos de percorrer.
Só com a manutenção e o impulso de ações concretas como as que temos empreendido na área das Ciências e das TIC poderemos caminhar de forma sustentada para um Portugal mais igual e digital.
Presidente do Conselho Diretivo do .PT e coordenadora-geral do INCoDe.2030