Mulher raptada foi salva da morte por asfixia pela PJ
Como num filme de ação, os inspetores da Polícia Judiciária de Setúbal arrombaram ontem de manhã, ao pontapé, várias portas da casa na aldeia de Azinheira dos Barros, Grândola, onde Paulo Roque se encontrava barricado com a ex-mulher que raptara há cinco dias. "Quando entrámos ele estava a asfixiar a mulher com uma braçadeira de plástico. Estava a tentar matá-la. Nós puxámos a mulher e cortámos a braçadeira", descreveu ao DN o diretor da PJ de Setúbal ,Vítor Paiva. A decisão de entrada na casa, tomada pela Judiciária, foi "de grande risco", que seria igualmente elevado, para a mulher, se a polícia optasse por não entrar.
"A casa estava toda barricada, com portas fechadas por dentro, janelas com ferros atravessados, e mobílias pelo meio". A prioridade da PJ foi salvar a mulher. Anabela Lopes "saiu muito mal da casa", em "estado comatoso", e só não foi transportada de helicóptero pelo INEM para o hospital de Santa Maria, em Lisboa, por causa do nevoeiro. "Foi vítima de múltiplas agressões, a murro e com objetos contundentes. Tinha lesões na cabeça, no rosto e na boca. Apresentava um traumatismo craniano", descreveu Vítor Paiva.
Não aceitou separação
Paulo Roque não se conformou com a separação da mulher há um mês. No primeiro dia do ano, domingo, raptou-a de Grândola e levou-a num carro furtado para o Algarve e depois para Espanha, perto de Huelva, onde ele já tinha trabalhado. "A viatura furtada ainda não apareceu mas já é claro que ele esteve em Espanha com a vítima", adiantou.
O caso é de natureza passional . Paulo queria Anabela de volta mas via-a como um objeto. Quanto ao motivo para deixar o local onde a deixaria em cativeiro, Espanha, para voltar a Grândola, ainda está a ser apurado. Mas Vítor Paiva compara o comportamento deste suspeito ao de Manuel "Palito" ou ao de Pedro Dias: ambos regressaram a casa depois de vários dias em fuga porque podiam contar com ajudas. E a PJ ainda está a tentar perceber se Paulo Roque também teve cúmplices no rapto e fuga da mulher.
O suspeito já era experiente em fugir e regressar a casa. Segundo a PJ, teve esse comportamento quando foi investigado pela violação de uma enteada.
Desta vez, a hipótese de ele regressar à casa de Azinheira dos Barros esteve sempre pendente. E por isso, como descreveu Vítor Paiva, "a habitação foi monitorizada pela Judiciária o tempo todo, tal como outros locais".
Quando se apercebeu de que a polícia ia entrar em casa, ontem de manhã, Paulo Roque terá tentado realizar um plano instantâneo: estrangulava a mulher e matava-se a seguir. Na presença dos inspetores, ainda se terá tentado suicidar com golpes de faca mas sem consequências de maior. Nada que impedisse a sua detenção, que se consumou, e o seu interrogatório à tarde pelos inspetores da PJ.
Também o filho do casal, de 17 anos, foi interrogado para se perceber qual foi o seu grau de participação no rapto da mãe pelo pai. A PJ está inclinada para descartar a participação criminal do rapaz, que se deslocava frequentemente a casa do pai para cuidar dos animais. E sabe-se que o filho foi contactado por telefone pelo pai quando este se encontrava em fuga mas pode não ter tido um envolvimento maior.
De quinta para sexta-feira passou a haver uma "forte possibilidade" de Paulo Roque regressar a casa, que se viria a confirmar. O suspeito iria ontem passar a noite numa cela da Polícia Judiciária para ser hoje presente a tribunal. Anabela ficou internada em estado crítico no hospital de Santa Maria.