Mueller quer ouvir ex-diretora da Cambridge Analytica sobre Rússia e Trump

Porta-voz de Brittany Kaiser, próxima da campanha Leave.EU no Reino Unido, confirmou que procurador norte-americano a convocou para colaborar na investigação sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA
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Brittany Kaiser, ex-diretora de desenvolvimento de negócios da Cambridge Analytica, foi convocada pelo procurador Robert Mueller para colaborar na investigação à alegada interferência russa na campanha eleitoral para as presidenciais de 2016 a favor de Donald Trump.

A informação foi confirmada pelo seu porta-voz ao Guardian, o qual indicou que a jovem se encontra a colaborar, tendo aceitado colaborar ainda com investigações do Congresso dos EUA às atividades da empresa, entretanto dissolvida, tendo entregado documentos e dados voluntariamente.

Kaiser foi ouvida no Parlamento britânico, em abril do ano passado, depois de o Observer ter revelado o mau uso de dados dos utilizadores do Facebook e a relação entre isso e as atividades da Cambridge Analytica. Além disso, no referendo do Brexit, em 2016, Kaiser surgiu ao lado de Arron Banks no lançamento da campanha Leave.EU pela saída do Reino Unido da União Europeia. Homem de negócios e político britânico, Banks foi um dos rostos do Brexit e um dos principais financiadores do partido Ukip que, em 2016, era liderado por Nigel Farage.

No referendo do Brexit, a 23 de junho de 2016, 52% dos britânicos votaram a favor da saída, 48% contra. A diferença foi mínima. Informáticos denunciaram, em março de 2018, que houve batota e que essa batota pode ter influenciado o resultado final.

Christopher Wylie, o canadiano de 28 anos que foi cérebro da Cambridge Analytica, afirmou em entrevista a vários jornais europeus, como o El País e o Die Welt, que sem a intervenção da empresa de análise de dados os partidários do Brexit não teriam conseguido ganhar o referendo.

"O referendo foi ganho com menos de 2% dos votos e muito dinheiro foi gasto em publicidade na medida certa, com base em dados pessoais", disse Wylie, referindo-se ao resultado da consulta: 51,89% Sim e 48,11% Não. "Não trabalhei na campanha do Brexit mas fui uma presença fantasma porque conhecia muita gente e ajudei a montar a empresa posta a serviço da campanha. Sabia tudo o que se passava. Coloquei-os em contato e acompanhei o que faziam", garantiu, na entrevista, que publicada no final de março.

Wylie apontou o dedo à campanha do Vote Leave, mas também a outros três grupos: o BeLeave, os Veteranos pela Grã-Bretanha, e o Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte. Segundo este jovem a campanha do Vote Leave contornou os limites de financiamento impostos pela lei eleitoral, que são de sete milhões de libras (oito milhões de euros).

Quando se aproximou o fim da campanha e esse limite estava perto de ser atingido, o Vote Leave doou 625 mil libras (715 mil euros) ao grupo BeLeave, destinado a jovens que eram a favor do Brexit, fazendo o dinheiro chegar diretamente à Aggregate IQ. Os procedimentos foram denunciados por Shahmir Sanni, que ajudou a estabelecer o BeLeave. Segundo ele, o BeLeave até partilhava escritórios com o Vote Leave.

Recorde-se que os principais rostos desta campanha foram Michael Gove e Boris Johnson. Um ainda é ministro no atual governo de Theresa May. O outro já não. O primeiro é responsável pela pasta do Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais. O segundo teve a dos Negócios Estrangeiros. Em reação a estas notícias Boris Johnson disse: "Vote Leave ganhou de forma justa e clara - e legal. Daqui a um ano vamos sair da UE". A Aggregate IQ, com sede em Victoria, na Columbia Britânica, Canadá, negou pertencer à Cambridge Analytica.

Além do Brexit, Christopher Wylie, que este ano esteve na Web Summit, em Lisboa, reclamou também para a Cambridge Analytica uma intervenção a favor da eleição de Donald Trump em 2016. Tudo através do uso de dados de 50 milhões de utilizadores do Facebook. Estas revelações deixaram o fundador do Facebook sob nova pressão. Mark Zuckerberg foi ouvido no Congresso dos EUA e pelos líderes dos grupos políticos do Parlamento Europeu. Entretanto, na União Europeia, entraram em vigor as novas regras sobre a proteção de dados.

Em julho de 2018, a Comissão Eleitoral do Reino Unido anunciou uma multa de 61 mil libras para a campanha do Vote Leave, por violação da lei eleitoral na campanha para o referendo do Brexit. Mas em novembro de 2018 a Justiça britânica decidiu que não havia provas sólidas de que a Cambridge Analytica influenciou o resultado do Brexit. Falta ver se, nos EUA, em relação às eleições presidenciais que deram a vitória a Trump, em 2016, o entendimento será diferente ou não. O presidente norte-americano, tal como o seu homólogo russo, Vladimir Putin, têm garantido, em diversas ocasiões, que não houve qualquer interferência russa para influenciar o desfecho daquele escrutínio nos EUA.

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