MUDANÇA NOS REPUBLICANOS
1 . Depois do choque psicológico e do excepcional êxito político da Convenção Democrática, que uniu o partido e impressionou profundamente milhões de americanos, esperava-se o contra-ataque da Convenção Republicana, reunida em St. Paul, no Minnesota. O que se chamou a "tempestade do século", o furacão Gustav, não fez os estragos que se temiam - com a memória ainda fresca da tragédia do Katrina, em Nova Orleães e noutras cidades - mas atrapalhou bastante a festa da Convenção Republicana. É certo que forneceu o pretexto para a ausência do Presidente George W. Bush, no ponto mais baixo da sua impopularidade, cuja presença era vista como perigosa, ainda por cima com a lembrança do Katrina, uma das grandes manifestações de incapacidade da sua Administração
McCain, cuja estratégia eleitoral da sua campanha consistiu, até então, em distanciar-se de Bush, surpreendentemente, mudou de linha política, ao convidar para sua vice-presidente a quase desconhecida e ultraconservadora governadora do Alasca, Sarah Palin. Por ser mulher? Por ser antiga miss e actual governadora no Alasca, embora quase desconhecida na América? A verdade é que ela produziu um discurso inesperadamente electrizante, que contrastou e deixou em segundo plano o de McCain, descabido, confuso e pouco convincente.
A sr.ª Palin, com as suas palavras, ultrapassou, pela direita radical, as posições desastrosas de Bush e de Cheney. Um discurso que, embora muito aplaudido na Convenção, fará mais estragos, no eleitorado americano, do que se imaginava pudesse criar o Gustav. Ela foi o verdadeiro furacão que abalou a Convenção, mas irá afastar, seguramente, muito do eleitorado moderado e flutuante, republicano ou independente, que McCain tentava captar...
Realmente, a sr.ª Palin - cuja relativa juventude contrasta com os 72 anos que acaba de festejar McCain - tem ideias dificilmente aceitáveis pelo eleitorado moderado (mesmo republicano) que tem vindo a afastar-se de Bush. É uma neocon radical. Reclama mais armas, mais política de força, intensificação das guerras, mais pena de morte, mais petróleo, sem a mínima preocupação com a defesa do planeta ameaçado. É religiosa fanática, contra o aborto, contra os gays, criacionista, subscreve os desvarios anticientíficos contra a teoria da evolução, unilateralista, está convencida que a América, com a bênção de Deus, poderá governar o mundo. Ignora as crises, o desemprego, o déficit astronómico, e quanto à política externa, zero. Quer dizer, se fosse eleita, a América teria mais quatro anos do mesmo... ou pior. Um pesadelo e um desastre para o Ocidente - nomeadamente para a União Europeia - e para o mundo.
2.As eleições em Angola, infelizmente, não correram bem. Como temia. Não havia, ao que parece, cadernos eleitorais em muitas secções e a própria organização do acto eleitoral, pelo menos em Luanda, foi um desastre: atrasou na abertura das secções de voto, que não abriram a tempo, muitos eleitores não puderam votar, e a Comissão Eleitoral teve de prolongar por mais um dia, à pressa, as votações
Pelo menos três partidos da oposição protestaram. E a UNITA e a FNLA pediram a impugnação e a repetição do voto em Luanda. Observadores europeus, presididos pela deputada europeia italiana Luisa Morgantini, quando escrevo, ainda não tornaram público o seu relatório, mas já disseram à Reuters que "houve ilegalidades". Curiosamente, muitos angolanos, uma vez que não havia cadernos eleitorais, "votaram onde calhou", disse um angolano. Mas, como pessoas de boa vontade, esperaram horas para votar, pacificamente e interessadas. O que foi um sinal positivo, ao cabo de 16 anos sem eleições. Contudo, as eleições, que deram obviamente uma vitória esmagadora ao MPLA, são contestáveis, segundo os critérios internacionais.
O escritor angolano, que tanto aprecio, José Eduardo Agualusa sublinhou, com bom senso, que "a paz venceu". É verdade e é importante. Não houve incidentes de violência e os angolanos, apesar de silenciosos, antes, durante e depois do acto eleitoral prolongado, mostraram que queriam mesmo votar. É um bom sintoma. Mas, nem por isso, apesar da propaganda governamental, as eleições deixaram de representar uma frustração colectiva e uma ocasião perdida, num momento internacional em que Angola - finalmente em paz - era tempo de se afirmar como uma grande potência africana, tanto no plano político e económico como moral.
3.Conheço mal Paulo Pedroso. Mas tenho por ele - e pelo que dele sei, por amigos comuns - uma imensa consideração e simpatia. Sempre acreditei na sua inocência. Como, aliás, sempre repudiei, no meu foro íntimo e publicamente, as acusações que fizeram a Eduardo Ferro Rodrigues, de quem sou amigo e admirador, desde há longos anos, como do seu pai, meu companheiro desde o MUD Juvenil.
Considero o infindável processo da Casa Pia uma imensa trapalhada, que não prestigia a Justiça portuguesa nem o Ministério Público ou a Polícia Judiciária que o instruíram. Mas, obviamente, não conheço o processo. E só dele sei o que tem sido divulgado, por vezes contraditoriamente, pela imprensa escrita e falada.
A questão do complot, contra as cúpulas do Partido Socialista, tantas vezes levantada, no processo, também sempre a considerei - e considero - pertinente. Por isso, entendo que deve ser averiguada e esclarecida, até ao fim, nos planos jurídico, político e moral. É obrigação do Estado de Direito fazê-lo.
Dito isto, não escondo que fiquei muito satisfeito com a corajosa sentença da juíza Amélia Loupo, que condenou o Estado a pagar a Paulo Pedroso uma indemnização pelo "erro grosseiro" cometido pelo juiz Rui Teixeira ao condenar Paulo Pedroso a "prisão preventiva" e ainda pior: lançando uma suspeita pública sobre a sua pseudoculpabilidade, que só agora - cinco anos depois - se dissipa.
Honro-me, por isso, de ter sido testemunha de Pedroso no processo que lhe deu razão. Mas, como disse o seu advogado, Celso Cruzeiro, "há ainda muitas coisas a esclarecer". Pois que se esclareçam, quanto mais cedo melhor. Felicito ainda Paulo Pedroso por ter resolvido voltar a ocupar o seu lugar na Assembleia da República, apesar do recurso interposto pelo Ministério Público. Quem não deve não teme.
4.António Lobo Antunes, que tanto admiro, como escritor, cronista e como pessoa humana, vai ser justamente condecorado, pelo Governo francês, com a insígnia de comendador da Ordem das Artes e das Letras, só atribuída a personalidades de reconhecida cultura e criatividade "por méritos excepcionais". A sua vasta obra literária, que se encontra traduzida em várias línguas, é conhecida e muito apreciada em França, terra de cultura e das boas letras. Posso testemunhá-lo.
Claro que os prémios e as condecorações só interessam, muito relativamente, aos grandes escritores, como Lobo Antunes. Mas, no seu caso, tão conhecido e admirado no estrangeiro, não tem sido em Portugal tão acarinhado como merecia. Quando receber um dia o Prémio Nobel - como espero -, talvez os portugueses, enfim, compreendam e festejem os altos méritos do seu compatriota.
É sempre assim, cá na nossa terra...