Mr. Bean vai de férias e não pensa regressar
Mais desastrada do que nunca, a personagem de Mr. Bean criada por Rowan Atkinson para a televisão, volta hoje às salas de cinema portuguesas com Mr. Bean em Férias. Dez anos depois de Bean - Um Autêntico Desastre, o seu filme de estreia .
Desta vez, Bean faz uma viagem de férias de Londres para o sol da Riviera francesa, que termina com uma caótica irrupção em pleno Festival de Cannes. Pelo meio, acontece um pouco de tudo: Bean espalha o caos em Paris, separa um cineasta russo do filho no comboio, perde o bilhete e a carteira, e tem de angariar fundos para chegar a Cannes, contando com a ajuda da jovem actriz Sabine (Emma De Caunes).
O DN conversou com Rowan Atkinson sobre o seu novo filme, num hotel de Londres. Sentado a uma mesa, falando pausadamente, o actor de vez em quando pousa as mãos no queixo, ou vai coçando a testa enquanto procura a resposta certa. Uma tranquilidade e uma compostura muito britânicas, que contrastam com a figura delirante que fez sucesso na televisão e que, tudo indica, vai agora despedir-se do grande público: "Não é definitivo, mas é muito provável que sim. Acho que estou a ficar velho para fazer de Mr. Bean e para dizer a verdade também não gosto de trabalhar com muita frequência [risos]. Se isto fosse uma franchise de Hollywood, nesta altura devia estar no Bean número 4 ou 5. Se demorei 10 anos a fazer um segundo filme, não me estou a ver fazer um terceiro daqui a mais dez", revela Atkinson.
Ao vivo, Rowan Atkinson não tem o cabelo tão penteadinho comMr. Bean. Tão-pouco veste aqueles casacos de tweed antiquados, uma vez que aparece para a entrevista usando uma camisa às riscas azuis e brancas, calças de ganga escuras e sapatos pretos. Mas é impossível desligar o actor da figura que criou em 1990, e que se transformou num ícone da comédia britânica, universalmente reconhecido e aplaudido. "É uma personagem que cresceu dentro de mim e que ainda está no meu subconsciente", afirma. "É muito fácil entrar na pele de Mr. Bean. Entro instantaneamente no papel e também saio imediatamente, o que é ainda melhor", acrescenta o actor.
Uma criança adulta
Para quem tantas vezes representou a personagem, é inevitável perguntar o que pensa afinal o criador da sua própria criatura. "Ele é uma criança num corpo de adulto, é isso que o torna tão interessante para uma audiência internacional", começa por dizer Atkinson. "No fundo, é uma criança sem supervisão de adultos. Eu próprio, quando me transformo em Mr. Bean, torno-me imprevisível. É um pouco estranho, porque de repente vejo-me com esta visão completamente anárquica do mundo e só faço o que ele gostaria de fazer. Para os actores, Bean é uma personagem com a qual é difícil, contracenar, porque ele não fala. É um miúdo de nove anos que ninguém sabe muito bem o que vai fazer a seguir", explica.
Enquanto Rowan Atkinson vai discorrendo, por vezes nota-se que tem dificuldade em articular as palavras. É uma ligeira gaguez que vem de infância e que se manifestou uma ou duas vezes durante os 20 minutos da conversa. Mas em Mr. Bean em Férias, esta fraqueza nunca foi posta à prova. "O primeiro filme de Bean foi um sucesso, mas foi pensado para ser uma comédia familiar ao estilo americano. Nessa altura fiquei com a sensação de que haveria mais um filme para fazer, com um toque mais europeu, e um filme em que a personagem falasse bastante menos. Não gostei do facto de Bean falar muito no primeiro filme, prefiro que ele não fale", frisa. Porquê? "Acho que Bean foi concebido para ser mudo. Às vezes , é necessário dizer umas palavras para manter o realismo, mas quanto menos ele falar melhor. Essa foi uma das razões que nos levaram a fazer o filme em França, onde não teria de falar de todo".
Aliás, as poucas palavras que a personagem diz naquele que deverá ser o seu derradeiro filme, são em francês: "Oui" e "Non"... e ainda "Gracias". Só podia suceder no universo de Mr. Bean, claro.