MpD regressa ao poder após 15 anos na oposição em Cabo Verde

Sétimas eleições multipartidárias dão maioria absoluta à principal força da oposição. Novo primeiro-ministro foi presidente do maior município do arquipélago de 2008 a 2015.
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Foi com dez minutos de fogo de artifício e uma intervenção quase com idêntica duração que o líder do Movimento para a Democracia (MpD), Ulisses Correia e Silva celebrou o regresso do seu partido ao poder em Cabo Verde, pondo fim a um ciclo de 15 anos do PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde) no governo.

"Agora é o momento de se pôr mãos à obra e mostrar que Cabo Verde tem solução", afirmou Correia e Silva, que dirige o MpD desde 2013 e que foi entre 2008 e 2015 presidente da principal autarquia do do arquipélago e sua capital, a Praia. É precisamente no poder autárquico que o MpD tem tido a base do seu poder, sendo o partido com a maioria das 22 câmaras municipais em Cabo Verde, 14 enquanto o PAICV dirige oito.

Para Correia e Silva, ministro das Finanças no último governo do MpD, "a primeira tarefa será pôr de pé um programa de emergência para (...) dar respostas concretas aos problemas que os cabo-verdianos sofrem neste momento e à expectativa que foi criada".

Antes de ser ministro das Finanças entre 1999 e 2001, Correia e Silva foi secretário de Estado da mesma pasta entre 1995 e 1998, tendo anteriormente desempenhado funções no banco central do arquipélago.

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De acordo com os resultados divulgados na madrugada de segunda-feira, o MpD conseguiu a maioria absoluta e foi a formação política com maior número de votos em todos os círculos, inclusive na ilha do Fogo, onde tradicionalmente era o PAICV o partido mais votado. Assim, em termos de votos expressos, o MpD conseguiu 119 401 votos (53,7%) e 37 deputados, o PAICV 82 246 (37%) e 26 eleitos enquanto a UCID teve 15 438 votos (6,9%) e subiu de dois para três eleitos. Falta conhecer o voto da emigração que elege seis deputados.

A abstenção foi de 33,4%, tendo aumentado face às anteriores legislativas, quando foi de 23,9%. Estavam inscritos 350388 eleitores, mais 51 821 do que em 2011.

Autárquicas no Verão

A vitória de Correia e Silva, de 53 anos e licenciado em organização e gestão de empresas pelo Instituto Superior de Economia de Lisboa, é também uma evidente derrota para a líder do PAICV, Janira Hopffer Almada, que como o líder do MpD se estreou como candidata à chefia do governo nas eleições de domingo. Um mais longo currículo político e, principalmente, o trabalho desenvolvido no município da Praia estarão na origem da vitória do MpD, que capitalizou ainda o desgaste do partido no poder e algum receio da perpetuação deste no poder.

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Com uma ligação desde jovem ao PAICV, tendo sido ministra aos 29 anos, Hopffer Almada, apesar do envolvimento na campanha do primeiro-ministro cessante José Maria Neves (que alcançou três maiorias absolutas para o PAICV) não conseguiu levar o partido a um quarto mandato consecutivo.

O próximo desafio da agora líder da oposição vai ser a preparação das eleições autárquicas a decorrerem no Verão. No discurso de derrota, Hopffer Almada, de 36 anos, na chefia do PAICV desde dezembro de 2014, garantiu que não iria deixar a direção do partido e que serão analisados os resultados "de forma serena" e tomadas as "medidas que se impõem". A mesma dirigente notou ainda que "o povo é sempre soberano e o povo decidiu. E o PAICV, como um partido histórico, com passado, mas também com futuro, deve valorizar esta decisão".

Estas foram as sétimas eleições legislativas multipartidárias em Cabo Verde, disputadas domingo, confirmando-se uma prática democrática que tem feito do arquipélago motivo de elogio e exemplo da vida política em África. As eleições de domingo confirmam ainda a bipolarização na sociedade cabo-verdiana.

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