Mozart para os mais novos

Publicado a
Atualizado a

Constância e os amigos Pedro e Blondie foram raptados pelo Paxá Selim. O namorado de Constância, Belmonte, vai reunir esforços e fazer de tudo para os trazer de volta no seu barco. Mas o guarda Osmin vai dificultar-lhe a tarefa? ainda por cima, o Paxá persegue a impetuosa Constância com propostas românticas que muito a aborrecem. Contudo, no final, é o muçulmano que acaba por se revelar no verdadeiro herói da história, devido à generosidade com que deixa os quatro amigos partirem do seu palácio na Turquia para voltarem a ser felizes.

Este é o enredo da peça infantil O Rapto, baseado livremente na ópera O Rapto do Serralho, de Wolfgang Amadeus Mozart. A encenação é de Patrícia Carreira, que com apenas dois actores consegue dar vida a seis personagens. Durante os curtos intermezzos onde se escuta algumas áreas da ópera, os actores trocam o avental de Blondie pela saia de Constância e os punhos do espanhol Belmonte pelo turbante do Paxá. É nesses instantes que a narrativa é interrompida para que os actores possam falar às crianças sobre cantores de ópera, instrumentos de orquestra, chocolates e dar algumas lições como a necessidade de se pedir desculpa "Eles dão as suas opiniões. E não se calam", testemunha a encenadora. "O actor tem de saber manejar esse período de escuta, que é levado ao máximo neste tipo de espectáculos infantis."

Teatro de escola. Dirigida à faixa etária entre os quatro e os nove anos, a peça foi concebida para ser representada em diversos estabelecimentos de ensino. Daí as primeiras representações no palco do Belém Clube, no início de Setembro, terem criado um certo afastamento entre os actores e o público. "Perde-se um bocadinho o jogo da proximidade", explica Patrícia. Para recriar essa aproximação, a solução foi sentar as crianças no chão do próprio palco em vez de usar as cadeiras da sala, que ficam reservadas aos adultos, os pais e acompanhantes.

O Rapto não será a obra de Mozart mais representada para o público infantil, habituado a peças como A Flauta Mágica. Mas a opção de Patrícia Carreira para assinalar os 250 anos sobre o nascimento do compositor foge ao comum não é uma ópera, embora se ouçam alguns trechos; é bastante mais cómica que trágica e aposta na fisicalidade dos actores para prender a atenção da assistência.

"Vi-me de certa forma obrigada a fazer os intermezzos de música e explicação, para que houvesse uma total compreensão", explica Patrícia. Mas "o objectivo não é ensinar", adverte a encenadora, apenas contar uma história "através de gags e musicalidade". Por isso, Maria Ladeira e Nelson Boggio fazem verdadeiras acrobacias para distinguir as personagens umas das outras, exemplificadas no agressivo guarda do paxá ou em Belmonte. Ambos os actores são formados pela Escola de Teatro da Conservatória, tal como a encenadora e o director da companhia Magia e Fantasia, Paulo Lage.

E como as personagens estranhas são demasiadas para serem fixadas nos 45 minutos da peça, o que fica guardado na memória são os nomes dos actores que se apresentam no final. Que o diga a Joana, 8 anos, que gostou "quando a Maria (Constância) dá um beijinho na cara do Nelson (Paxá)".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt