Movimentos em defesa das bacias do Douro, do Tejo e do Guadiana contra transvases

Ecologistas estão contra "auto-estrada da água" e acusam "lobby do regadio" de "visão estritamente mercantil"
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Os movimentos em defesa das bacias do Douro, do Tejo e do Guadiana opõem-se ao transvase que integraria as bacias hidrográficas do Douro, do Tejo, do Guadiana e do Sado para transportar água do Minho para o Algarve, mais concretamente com destino à albufeira do Alqueva.

Estas plataformas de cidadãos acusam o "lobby constituído em torno do regadio", de pretender perverter o "princípio de unidade de gestão das bacia hidrográficas" estabelecido na Diretiva Quadro da Água, segundo o qual cada bacia deve bastar-se a si própria gerindo as suas pressões e necessidades de água considerando as suas próprias disponibilidades de água.

Além disso, apontam, "essa proposta assenta na desconsideração pelas funções sociais e ecológicas da água, aprofundando uma visão estritamente mercantil deste recurso que contraria todo o conhecimento científico acumulado."

Para este conjunto de movimentos [Juntos pelo Sudoeste, MovRioDouro - Movimento de cidadania em defesa dos rios da bacia hidrográfica do Douro, Plataforma Água Sustentável e proTEJO - Movimento pelo Tejo], "este projeto de transvase de água criará uma ilusória sensação de abundância de água na bacia de recetora de água gerando um ciclo vicioso de aumento de procura e consumo de água que não existe no local onde está a ser consumida, estabelecendo novas pressões quantitativas e qualitativas, bem como uma necessidade permanente de abastecimento a partir da bacia cedente (Douro) ainda que não existam condições para o suportar, podendo gerar conflitos sociais e económicos com expressão regional entre bacias cedentes e recetoras."

Os defensores das bacias do Douro, do Tejo e do Guadiana consideram, aliás, "falso que a bacia do Douro seja excedentária" e lembram que "em 2022 atingiu, em metade da sua extensão, a seca extrema e, neste momento, o setor superior atingiu na sua totalidade a seca severa e o índice de água no solo é já inferior a 10%".

Apontam ainda "flagrantes exemplos mal sucedidos, como as autoestradas da água na Califórnia ou o transvase Tejo-Segura, que transfere água da cabeceira do Tejo em Espanha para a zona do Levante no sul, a partir da Comunidade Autónoma de Castilla La Mancha para a Comunidade Autónoma de Murcia, que impediu a existência de caudais ecológicos suficientes no troço do médio Tejo em Espanha, durante décadas, mas que estão agora a ser impostos pelo Supremo Tribunal espanhol. Isto após longas décadas de conflitos político-sociais entre as regiões da bacia cedente e recetora, respetivamente, a Comunidade Autónoma de Castilla e a Comunidade Autónoma de Múrcia. Não queiramos importar para Portugal os maus exemplos dos nossos vizinhos".

Os movimentos ecologistas referem que "os mentores e promotores desta "autoestrada da água" são os mesmos que pretendem construir novos açudes (4) e barragens (2) no rio Tejo, de Abrantes a Lisboa, transformando em charcos de água estagnada os seus últimos 127 km de rio vivo e livre, fragmentando habitats, piorando a qualidade da água e destruindo ecossistemas fundamentais à sobrevivência das espécies, incluindo a humana, sendo de relevar os desequilíbrios ecológicos irreversíveis que serão causados no estuário do Tejo. Tudo isto para manter e aumentar a área de agricultura superintensiva, absolutamente insustentável no Alentejo.

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