Movimento quer acautelar impactes de culturas intensivas no Alentejo
Trata-se do Movimento Alentejo Vivo, que foi criado por "um conjunto de cidadãos preocupados com impactes associados à agricultura intensiva" praticada no Alentejo e decorrente dos novos blocos de rega do Alqueva, explicou hoje à agência Lusa José Paulo Martins, da comissão coordenadora do movimento.
Segundo José Paulo Martins, o movimento quer "lançar o debate em torno de várias questões associadas à instalação de mais de 200 mil hectares de culturas intensivas no Alentejo", com destaque para o olival intensivo e superintensivo.
Desta forma, o movimento quer "acautelar os impactes que começam já a ser manifestos" na conservação do solo, na qualidade da água superficial e subterrânea, na saúde humana, na perda de biodiversidade, na afetação de património arqueológico e, "de algum modo também, na perda de uma certa identidade" da região.
O Alentejo Vivo também quer "denunciar irregularidades" e realizar ações públicas para "alertar consciências e obrigar o poder político a agir com o objetivo último de defender o ambiente e a saúde das populações e garantir a qualidade de vida das comunidades locais".
No seu manifesto, o movimento refere que a introdução de novas culturas e técnicas associadas ao regadio alterou a paisagem tradicional do Alentejo e "não nega" que "levou ao incremento da rentabilidade económica direta das explorações agrícolas".
No entanto, com a mudança, "vieram também os impactes ambientais previsíveis quando se instala um sistema com culturas em regime intensivo nesta escala" e "sem que se tenham acautelado toda uma série de aspetos relacionados com o impacte no território, nas pessoas e no ambiente" e "garantido a capacidade de acompanhamento e fiscalização por parte das entidades" competentes.
E os impactes "não se cingem apenas aos blocos de rega" do Alqueva, "mas também aos perímetros confinantes e outras explorações" onde culturas e práticas em regime intensivo estão a ser instaladas "de forma algo descontrolada", lê-se no manifesto.
A fiscalização é "insuficiente" e a legislação "parece não estar a ser suficiente ou eficaz", alerta o movimento, referindo que as entidades competentes, "por indiferença, inércia ou falta de capacidade dos serviços", "não estão a fazer o suficiente para contrariar" o problema e as autarquias "têm-se ficado pela manifestação de preocupações muito genéricas, sem um verdadeiro empenho em alterar o caminho que este processo tem vindo a tomar".
O movimento refere que, "à medida que os sistemas de regadio se vão implementando", tem-se vindo a assistir a um conjunto de situações preocupantes, como erosão e aumento do risco de desertificação de "alguns dos melhores solos do Alentejo" e utilização "desregrada" de pesticidas e fertilizantes "com impactes" na saúde das populações, na qualidade da água e na riqueza biológica da região.
A poluição do ar provocada por fábricas de extração de óleo de bagaço de azeitona, linhas de água que "passaram a ser meras valas de drenagem, com destruição das galerias ribeirinhas e vegetação", mortalidade de aves devido a colheita mecânica de azeitona durante a noite, destruição de património arqueológico e recurso a imigrantes em regime precário para realização de trabalhos agrícolas são outras das situações preocupantes.
Hoje, na Assembleia da República, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, anunciou o fim da concessão de apoios a novos projetos para instalação de olival no perímetro do Alqueva ou à instalação de agroindústrias associadas, no âmbito do atual quadro comunitário de apoio.