"Mourinho foi uma inspiração para os técnicos portugueses"

Portugal é o país com mais treinadores nas provas da UEFA. Eriksson elogia o facto e destaca trabalho de Leonardo Jardim no Mónaco
Publicado a
Atualizado a

Os treinadores portugueses estão a viver um período de grande afirmação internacional. O excelente trabalho que muitos estão a fazer um pouco por todo o lado tem reflexo, por exemplo, nas competições da UEFA, que se reiniciam na próxima semana e logo com sete técnicos nacionais envolvidos - nenhum outro país tem tantos em prova no início das fases a eliminar da Champions e da Liga Europa.

Rui Vitória (Benfica), Leonardo Jardim (Mónaco), Nuno Espírito Santo (FC Porto), Paulo Bento (Olympiacos), Paulo Fonseca (Shakhtar Donetsk), Paulo Sousa (Fiorentina) e José Mourinho (Manchester United) são os treinadores que vão procurar chegar à glória na próxima semana, como forma de consolidar o estatuto de uma classe cada vez mais credenciada.

O sueco Sven-Göran Eriksson, que aos 69 anos é um dos mais experientes treinadores a nível mundial, não acredita que proliferação de treinadores portugueses pelo mundo seja uma questão de moda, prefere dizer que "é uma geração que trabalhou para conseguir bons resultados" e que, em sua opinião, teve um inspirador muito especial: "O trabalho de José Mourinho serviu provavelmente de motivação aos outros, embora considere que todos eles são diferentes."

O antigo treinador do Benfica, que orienta agora os chineses do Shenzhen FC, tem a certeza de que "com tudo o que aprenderam e estudaram estão preparados para treinar em qualquer liga, embora cada uma delas tenha características muito próprias". Ou seja, os técnicos portugueses estão devidamente preparados e é por isso que "têm sucesso em Portugal, Espanha, Grécia, França, Inglaterra, Itália". "Sei bem o valor que têm e gostam muito de aprender", frisou.

As lições de Jardim em França

Um dos casos de maior impacto internacional é o de Leonardo Jardim no Mónaco, que lidera a liga francesa com mais três pontos do que os milionários do PSG. Apesar de estar na China, Eriksson está atento e assume que o técnico madeirense "tem feito um trabalho extraordinário" e explica porquê: "Começou um projeto quase do zero, num campeonato dominado pelo PSG, mas o seu trabalho começa a dar resultados. É um treinador que aprecio bastante, simpático, e com ideias muito originais. Terá muito sucesso", vaticina o sueco.

O impacto de Jardim no futebol francês é explicado ao DN por Regis Dupont, jornalista do diário desportivo L"Équipe. "O futebol francês pode, na minha opinião, dividir-se em duas eras: uma antes e outra depois de Leonardo Jardim." Após ultrapassar uma fase em que foi "bastante criticado por causa da sua metodologia de treino, sempre com bola", começou a convencer os jogadores, pois "Toulalan, por exemplo, não se sentia nada confortável" com aqueles métodos.

"Aos poucos começou a perceber-se que a metodologia de Leonardo Jardim é boa e tem sucesso. E recentemente, no jogo com o PSG, percebeu-se claramente qual é a equipa que pratica melhor futebol em França", acrescentou Regis Dupont, lembrando que "em poucos meses os franceses aprenderam duas lições: uma com Fernando Santos na final do Europeu e outra com Leonardo Jardim". E, nesse sentido, assume que os treinadores portugueses são "os mais evoluídos do mundo". Dupont revela ao DN que "a direção técnica da Federação Francesa vai introduzir novos métodos por influência clara dos treinadores portugueses".

José Mourinho, o patriarca

Em Inglaterra a boa imagem dos técnicos nacionais está cada vez mais consolidada e não só por causa de José Mourinho, que Eriksson considera "fantástico em tudo o que fez" até agora. "É diferente de todos os outros, tem um estilo muito próprio, talvez o mais pragmático, mas é um dos melhores do mundo", frisou o sueco.

Apesar de estar a viver uma fase menos feliz, sobretudo por esta época ter tido um mau arranque no Man. United, depois de meio ano desastrado no Chelsea, Mourinho está aos poucos a fazer renascer os red devils, que já aparecem perto da zona de qualificação para a Champions, além de estarem na final da Taça da Liga e manterem intactas as aspirações a conquistar a Taça de Inglaterra e a Liga Europa.

Tom Collomosse, jornalista do London Evening Standard, pega precisamente no exemplo do Special One para dizer que foi ele a começar a mostrar que "os treinadores portugueses são considerados competentes", mas assume que "é simplista dizer que são todos como Mourinho", embora reconheça o técnico do Manchester United como "uma espécie de padrinho, patriarca, para os treinadores portugueses que têm vindo a surgir".

Em Espanha, Mourinho não é esquecido e José Manuel Oliva, jornalista da rádio Cadena Cope, admite que "é um ícone", mas deixa claro que os técnicos portugueses "têm evoluído bastante, principalmente num jogo assente na posse de bola". E nesse sentido diz mesmo que "Portugal pode orgulhar-se de estar a criar a sua própria escola de treinadores", algo que "explica a presença maciça de portugueses nas provas europeias".

Quatro líderes na Europa

Além de Rui Vitória no Benfica e Jardim no Mónaco, há ainda outros dois técnicos portugueses que lideram os campeonatos onde trabalham: na Ucrânia, Paulo Fonseca tem o seu Shakhtar Donetsk com um avanço de 13 pontos para o segundo, o Dínamo Kiev; enquanto na Grécia Paulo Bento conduz o Olympiacos para mais um título, tendo também 13 pontos de vantagem sobre a concorrência.

De resto, Leonardo Jardim está na final da Taça da Liga, nos oitavos-de- -final da Taça de França e da Champions. Já Paulo Fonseca, além da liga da Ucrânia, pode ainda vencer a Taça e está na corrida pela Liga Europa, um cenário semelhante ao de Paulo Bento na Grécia. Já Paulo Sousa está a lutar para levar a Fiorentina a um lugar europeu na Série A, encontrando-se a cinco pontos desse objetivo, além de ter intacto o sonho de levantar o troféu da Liga Europa.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt