Uma porta de vidro no Mosteiro de Alcobaça gerou a discórdia entre a paróquia, que a instalou, e a Direção Geral do Património, que a mandou retirar, alegando não ter autorizado a obra no monumento Património da Humanidade..A porta de vidro foi, em maio de 2016, colocada na Capela do Senhor dos Passos, localizada no interior do Mosteiro de Alcobaça, pela Paróquia do Santíssimo Sacramento..Mas, segundo a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) assegurou à agência Lusa, "sem autorização" e sem "acompanhamento técnico", apesar ser uma intervenção num monumento classificado pela Unesco como Património da Humanidade..A Lei de Bases do Património Cultural obriga a que "os estudos e projetos para as obras de modificação em bens classificados sejam elaborados por técnicos de qualificação legalmente reconhecida" e que qualquer intervenção seja autorizada e acompanhada pela própria DGPC..Porém, esclareceu aquele organismo, "a porta foi colocada durante a noite, sem conhecimento prévio das autoridades competentes", o que levou a DGPC a notificar a paróquia para a retirar..Contactado pela Lusa, o pároco Ricardo Cristóvão confirmou hoje que a obra decorreu de noite "para não incomodar os fiéis e os visitantes" do Mosteiro, mas negou que a intervenção tenha sido feita sem autorização..O padre diz ter tido "o acordo verbal" da anterior direção do Mosteiro e que, entre 12 e 18 de março de 2015, foram trocados mails com "uma técnica superior (ex-diretora do monumento), solicitando [à paróquia] um orçamento a propósito desta adjudicação".."À Igreja não lhe foi pedido que esperasse por qualquer autorização, mas tão-somente que apresentasse uma 'informação' que contextualizasse a proposta de orçamento", acrescentou Ricardo Cristóvão, esclarecendo que "após mudança de direção no Mosteiro, tal compromisso não foi honrado, tendo a Igreja, com os seus recursos, colocado a dita porta, uma vez recusadas todas as tentativas de diálogo por parte da DGPC"..De acordo com o padre, houve "uma reunião com o diretor interino da DGPC e a diretora do Mosteiro a 06 de novembro de 2015, que foi inconclusiva, não tendo sido, a partir daí, concedida qualquer outra audiência" e não tendo a paróquia recebido "qualquer documento em que se proíba a colocação da referida porta ou negue a sua intenção, manifestada com mais de um ano de antecedência, senão depois da sua efetiva realização"..A retirada da porta, por ordem da DGPC, no final do ano passado, deu origem a uma petição subscrita por mais de 500 pessoas, que exigem a sua recolocação para assegurar "o silêncio e recolhimento de quem ali se dirige para rezar"..A polémica levou também os socialistas eleitos pelo círculo de Leiria a questionar o Ministério da Cultura sobre o que consideram ser "um excesso de zelo" da DGPC e "uma afronta "à paróquia, que põe em causa a relação entre o Estado e a Igreja..À Lusa, a DGPC esclareceu que "a proteção do serviço religioso tem sido praticada pelo Mosteiro e pela Igreja, através da interdição dos visitantes à Igreja, não só durante o horário de culto, mas também cerca de meia hora antes e meia hora depois, horários que são assegurados pelos vigilantes da DGPC e por colaboradores da Igreja"..Já por parte do padre, mantém-se a expectativa de que, em resposta à petição, a porta "seja recolocada" e a capela volte a estar aberta à comunidade para além dos períodos em que "há disponibilidade de voluntários da paróquia para garantir a segurança" do espaço, que voltou a ser fechado com a original porta de madeira.