Moscovo responsabiliza Governo afegão pelo conflito com talibãs

O MNE russo, Sergei Lavrov, critica o facto de, perante a situação atual, os talibãs optarem por "tentar resolver a situação através de meios militares" e de o governo afegão não "estar muito interessado em retomar as negociações".
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O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, responsabilizou hoje o Governo afegão pelo atual conflito naquele país da Ásia Central, por alegadamente interromper as negociações com os talibãs.

"Infelizmente, faz um ano e meio ou dois anos que o Governo [do Afeganistão] não está muito interessado em retomar as negociações", apontou o ministro em declarações à comunicação social.

Para Sergei Lavrov, perante a situação atual, os talibãs optaram por "tentar resolver a situação através de meios militares".

O governante assegurou que Moscovo não está satisfeito com a situação e já instou a retoma do diálogo entre as duas partes através da "participação de todas as forças políticas, étnicas e religiosas do país".

No entanto, Sergei Lavrov admitiu que, segundo os dados recolhidos por representantes russos junto dos dois lados do conflito, "não é fácil criar um consenso na sociedade afegã".

Sobre o apelo de Cabul para o Conselho de Segurança da ONU convocar uma reunião de urgência, o ministro dos Negócios Estrangeiros alertou que esta só será "útil" se resultar em diálogo, esperando que também se juntem às conversações países como Paquistão, Irão e Índia.

"A nossa principal preocupação é que o que aconteceu no Afeganistão não se espalhe pela Ásia Central e territórios dos nossos parceiros da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC)", frisou.

O governante apontou ainda que nem a Rússia, nem países como o Cazaquistão ou Tadjiquistão, que partilham mais de 1.300 quilómetros de fronteira com o Afeganistão, pretendem acolher parte das tropas norte-americanas que estão em retirada daquele país.

"Está a haver a tentativa de criar uma nova presença com o claro objetivo de usar a força no território do Afeganistão além da fronteira, o que tornará os nossos parceiros reféns da política norte-americana", vincou.

Devido ao avanço dos talibãs, a Rússia decidiu reforçar a sua base militar no Tadjiquistão com armamento moderno, além de estar a realizar exercícios com este país e a China.

Os talibãs conquistaram na sexta-feira Pul-e-Alam, a capital da província de Logar, situada a apenas 50 quilómetros a sul de Cabul, assim como Lashkar Gah, capital da província de Helman, Kandahar, a segunda cidade do Afeganistão e capital da província com o mesmo nome, Feroz Koh/Chaghcharan, capital de Ghor, e Tirin Kot, capital do Uruzgan.

A maior parte do norte, oeste e sul do país está agora sob o controlo dos rebeldes, que lançaram esta grande ofensiva em maio com o início da retirada final das tropas norte-americanas e estrangeiras, a qual deverá estar concluída até 31 de agosto.

Inicialmente, conquistaram grandes áreas rurais sem encontrarem muita resistência. Nos últimos dias, a progressão das forças talibãs acelerou, com vários centros urbanos a cair nas mãos dos rebeldes, igualmente sem grande dificuldade.

Cerca de 250.000 pessoas foram deslocadas pelo conflito desde o final de maio -- 400.000 desde o início do ano -, 80% das quais são mulheres e crianças, segundo a ONU.

Muitos civis migraram nas últimas semanas para Cabul, que arrisca uma crise humanitária.

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