Moscovo relança ambição polar
Russos reivindicam região do tamanho de Angola e com riquezas no subsolo
Exploradores russos colocaram ontem uma bandeira do seu país, fabricada em titânio, no fundo do Oceano Árctico, a mais de 4300 metros de profundidade. O mergulho dos dois mini-submarinos no pólo norte inseriu-se numa expedição que reforça a reivindicação, como território da Rússia, de uma larga fatia do Oceano Árctico, com 1,2 milhões de quilómetros quadrados (o equivalente a Angola) e múltiplas riquezas naturais.
Apoiados por um navio de investigação, que abriu caminho no gelo com ajuda de um quebra-gelos nuclear, os dois mini-submarinos MIR 1 e 2 (a palavra tem duplo significado de mundo e paz) mergulharam ao longo de nove horas. No final, os cientistas russos comparavam o mergulho a "colocar uma bandeira na Lua". Nas palavras do líder da expedição, Artur Chilingarov, de 68 anos, "a nossa missão é lembrar ao mundo que a Rússia é um grande explorador polar e uma potência científica".
A expedição não foi apenas uma proeza técnica, que estimula o orgulho nacional, mas visou encontrar provas geológicas de que a Dorsal de Lomonosov (uma cadeia montanhosa submersa) é extensão da plataforma continental russa. A reivindicação coloca a Rússia em rota de colisão com as outras quatro potências árcticas (Dinamarca, Noruega, Canadá e EUA).
Em 2001, a Rússia apresentou na Comissão da ONU sobre os limites das plataformas continentais um pedido de extensão da sua zona económica de 200 milhas, com base no mesmo argumento. Na altura, o pedido foi recusado e Moscovo terá de apresentar nova exigência. Este tipo de disputa é regulado por tratados internacionais.
Calcula-se que um quarto dos recursos mundiais de petróleo e gás natural estejam a norte do círculo polar Árctico. Mas a zona tem depósitos de outros recursos, incluindo urânio, diamantes, prata ou zinco.
A questão torna-se mais complexa no contexto do aquecimento global, que está a reduzir a camada de gelos do Árctico, facilitando a exploração das riquezas e a abertura de novas vias marítimas. A região é também rica em peixe. A Rússia é o segundo maior produtor de petróleo do mundo, logo a seguir à Arábia Saudita, mas as suas reservas estarão esgotadas em 2030, o que explica as novas ambições polares.