Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko, os ex-fuzileiros acusados da morte do agente da PSP Fábio Guerra, foram esta sexta-feira condenados a 20 e 17 anos de prisão, respetivamente, em cúmulo jurídico..O Tribunal Central Criminal de Lisboa condenou Cláudio Coimbra a uma pena de 20 anos de prisão pelos crimes de homicídio qualificado na forma consumada de Fábio Guerra e por dois crimes de homicídio na forma tentada de João Gonçalves e Cláudio Pereira. Já Vadym Hrynko foi condenado a 17 anos de prisão pelos crimes de homicídio qualificado de Fábio Guerra e um de homicídio na forma tentada de João Gonçalves. .O tribunal decidiu ainda aplicar uma indemnização de 432 500 euros à família de Fábio Guerra, que esteve presente na leitura do acórdão..A defesa de Vadym Hrynko já fez saber que vai recorrer da decisão. "Perdemos aqui três vidas. A mais grave foi a do agente Fábio Guerra, que faleceu. É o maior dano de todos, mas não podemos deixar que a emoção destrua a vida de outros dois jovens", disse o advogado José Teixeira da Mota, em declarações à saída do Campus de Justiça, em Lisboa..Na leitura da sentença, a presidente do coletivo de juízes e jurados dirigiu-se a Vadym Hrynko e Cláudio Coimbra lançando uma questão: "Como podem os arguidos estar a defender-se de quem jaz inerte no chão? Como podem estar a defender-se se as imagens refletem uma euforia agressiva desmedida? As imagens desmentem os arguidos", sublinhando ser "irrefutável que os arguidos tinham consciência da sua superioridade física".."Se dúvidas houvesse, e não há de todo, basta proceder à visualização dos vídeos. (...) Foi como se estivessem num ringue de boxe, com uma violência que deixava [os outros] no chão", notou, acrescentando: "Sabiam os arguidos que pontapear com violência a cabeça podia provocar a morte? Se sim, conformaram-se com esse facto? O tribunal analisou com muito cuidado esta questão e a resposta foi convictamente positiva"..Apesar de ter reconhecido uma "dúvida inultrapassável" relativamente à tese de os arguidos terem ou não tido conhecimento de que estavam envolvidos agentes da PSP na confusão no exterior da discoteca Mome, o tribunal refutou a ideia de que os agora ex-fuzileiros (ainda o eram à data dos factos) não tinham conhecimentos de defesa pessoal ou que haveria dúvidas relativamente ao relatório da autópsia de Fábio Guerra.."Fábio Guerra foi sujeito às agressões perpetradas pelos arguidos. O perito não é testemunha de factos. Não compete atestar se foram esses factos ou outros, compete atestar se os factos relatados são compatíveis com as lesões. [Isso] resulta cristalino e encontra-se indubitavelmente exarado no relatório", resumiu a juíza-presidente..Foi ainda sublinhada a prática de boxe pelos dois arguidos para fundamentar que estes deveriam saber que golpes na cabeça - nomeadamente, pontapés - podem ser fatais: "A vulnerabilidade da cabeça é um saber comum, não se pode alegar que não previram o desfecho, porque qualquer homem médio preveria isso"..Nas alegações finais do julgamento, o Ministério Público (MP) pediu para o ex-fuzileiro Cláudio Coimbra uma pena não inferior a 20 anos de prisão pelo crime de homicídio qualificado de Fábio Guerra, dois crimes de tentativa de homicídio relativamente a Cláudio Pereira e João Gonçalves, e dois crimes de ofensas à integridade física, em relação a Leonel Moreira e Rafael Lemos..Quanto a Vadym Hrynko, o MP defendeu a condenação por um crime de homicídio qualificado, um crime de homicídio na forma tentada, outro de ofensas à integridade física simples e um crime de ofensas à integridade física qualificada. O procurador pediu também o pagamento de uma indemnização de cerca de 184 mil euros à família do agente da PSP..Fábio Guerra, 26 anos, morreu a 21 de março de 2022, no Hospital de São José, em Lisboa, devido a "graves lesões cerebrais" sofridas na sequência das agressões de que foi alvo no exterior da discoteca Mome, em Alcântara, quando se encontrava fora de serviço..O MP acusou em setembro os ex-fuzileiros Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko de um crime de homicídio qualificado, três crimes de ofensas à integridade física qualificadas e um crime de ofensas à integridade física simples no caso que culminou com a morte do agente da PSP Fábio Guerra..O advogado da família do agente Fábio Guerra considerou que a pena parcelar de prisão aplicada aos dois ex-fuzileiros condenados pela morte do polícia devia ter sido mais pesada..Ricardo Serrano Vieira referiu não questionar os 17 e 20 anos de pena de prisão com que os ex-fuzileiros Vadym Hrynko e Cláudio Coimbra foram sentenciados por homicídio e outros crimes, mas disse não compreender que a pena parcelar de homicídio qualificado não tenha ultrapassado os 16 anos, após o tribunal ter concluído pelo elevado "grau de censurabilidade" da atuação dos arguidos..Além disso, notou Ricardo Serrano Vieira, ficou demonstrado em julgamento que ambos os ex-fuzileiros tinham "conhecimentos especiais", numa alusão ao facto de praticarem boxe e estarem conscientes de pontapés na cabeça da vítima, que estava no chão, podiam ser fatais..Quanto aos pais da vítima, o advogado salientou que "ninguém consegue esquecer a perda de um filho", tanto mais "pelas circunstâncias" que rodearam as agressões ocorridas à porta da discoteca Mome, em Lisboa, em março de 2022..Em relação ao facto de um terceiro suspeito da morte de Fábio Guerra se encontrar em parte incerta, sendo procurado pela justiça, Ricardo Serrano Vieira lembrou que o processo relativo a Clóvis Abreu foi separado deste processo, encontra-se em investigação e ainda não existe acusação..Mencionou a propósito que, caso o Ministério Público venha a acusar Clóvis Abreu, a família do polícia Fábio Guerra far-se-á também representar nesse eventual novo julgamento..Segundo Ricardo Serrano Vieira, resultou deste julgamento que Clóvis Abreu terá tido intervenção nos factos que culminaram na morte de Fábio Guerra. Se isso configura coautoria no crime ou não, isso será assunto a discutir em altura própria, acrescentou, dando ainda uma imagem ao dizer: "Tanto é ladrão o que vai à horta como o que fica à porta".