Morreu Simone Veil, antiga presidente do Parlamento Europeu

Sobrevivente do holocausto, foi ministra da Saúde e defendeu a legalização do aborto em 1974
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Mulher de convicções, pioneira nas ideias e sobrevivente do Holocausto, Simone Veil morreu hoje, aos 89 anos, informou a família.

Advogada, foi ministra da saúde em França e defendeu, em 1974, no governo de Valéry Giscard d'Estaing, a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, a qual seria aprovada meses mais tarde, já em 1975.

Foi ainda defensora apaixonada da União Europeia, tendo sido presidente do Parlamento Europeu entre 1979 e 1982, a primeira mulher nessas funções e eleita.

Entre 1984 e 1989, liderou o Grupo Liberal e Democrático do Parlamento Europeu. "O facto de ter feito a Europa reconciliou-me com o século XX", disse um dia.

Nascida a 13 de julho de 1927, em Nice, no seio de uma família judia e laica, sobreviveu ao extermínio nazi. Toda a sua família foi deportada em 1944 para campos de concentração: o seu pai e o seu irmão, Jean, para a Lituânia, uma das irmãs foi mandada para Ravensbruck, e ela, a sua mãe e uma segunda irmã foram deportadas para Auschwitz. Apenas as três irmãs sobreviveram.

"Penso que sou uma otimista, mas não tenho ilusões desde 1945", diria mais tarde esta inimiga da língua de pau, que nunca se esqueceu de acusar certos "amigos" políticos das suas "derivas pela extrema-direita".

Figura maior da vida política francesa, académica, incarnava para os franceses a memória do holocausto judeu.

Foi no pós-guerra, em 1946, que conheceu Antoine Veil, futuro presidente da companhia aérea francesa UTA, em 1946, com quem se casou e teve três filhos, um dos quais falecido em 2002. Antoine Veil morreu em abril de 2013.

O presidente francês, Emmanuel Macron, já enviou as condolências à família e, no Twitter, deseja que o exemplo de Simone Veil "possa inspirar os compatriotas, que nela encontram o melhor de França".

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Também o ex-chefe de Estado, François Hollande elogiou o percurso de Simone Veil. "Incarnou a dignidade, a coragem e a integridade", resume no Facebook, numa publicação em que lembra a "dignidade da criança judia", a luta pelos direitos humanos, a "retidão da juíza independente".

"A França perde uma das suas grandes consciências", remata.

Depois do trabalho no Parlamento Europeu, Simone Veil voltou à política francesa em 1993 para assumir as funções de ministra de Estado e da Segurança Social, Saúde e Cidades. Em 1997, presidiu ao Conselho de Integração e no ano seguinte assumiu um lugar no Conselho Constitucional, onde se manteve até 2007, ano em que apareceu ao lado de Nicolas Sarkozy na sua corrida à presidência francesa.

Simone Veil foi ainda eleita em 2008 para a Academia Francesa, tornando-se a sexagésima mulher a pertencer à instituição.

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