Morreu o ator Nicolau Breyner, o "Sr. Contente"

Tinha 75 anos e mais de 55 de carreira: foi ator, produtor, realizador e uma das figuras mais populares da ficção nacional
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O ator Nicolau Breyner morreu esta segunda-feira. Tinha 75 anos e mais de 55 de carreira: foi ator, produtor, realizador e uma das figuras mais populares da ficção nacional. Segundo fonte oficial da assessoria do ator, morreu em casa, de "causas naturais", ao que tudo indica de ataque cardíaco.

O ator estava desde outubro a gravar a telenovela A Impostora, para a TVI, que ainda não estreou, e tinha viagem marcada para o Brasil amanhã de manhã. A sua morte repentina chocou o mundo das artes e não só. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já expressou o seu "grande desgosto" pela morte do ator. Para o primeiro-ministro António Costa, "é uma grande perda para todos nós".

"A missão do ator é simplesmente emocionar as pessoas. Levá-las ao riso ou às lágrimas. Fazer com que nos odeiem ou nos amem. Enfim.... É fazê-las sonhar. Quando isso acontece, a vossa missão está cumprida". A frase, de Nicolau Breyner, inscrita no site da escola de atores NBAcademia, que fundou, possivelmente sintetiza o trabalho de uma vida ligada à representação, ainda que com um desvio pela política.

O ministro da Cultura, João Soares, reagiu em direto na SIC: "Estou aqui para me curvar modestamente perante esse grande homem. Fez coisas absolutamente decisivas que marcaram a minha geração." Soares lembrou ainda o "cidadão comprometido com o futuro do seu país e que formou e influenciou muitos dos jovens atores".

"Era um ator ímpar. Não havia ninguém como ele", resumiu o realizador António Pedro Vasconcelos. "O dom dos génios é fazer parecer fácil", acrescentou, em declarações à SIC Notícias. Nicolau Breyner participou no penúltimo filme do realizador, Os Gatos Não Têm Vertigens, e Vasconcelos recorda o "grande colega" que ajudava os mais jovens.

Já o ex-líder do CDS, Paulo Portas, falou à SIC Notícias da experiência política de Nicolau Breyner, que em 1995 se candidatou à câmara municipal de Serpa pelo CDS. Portas lembrou uma "campanha eleitoral absolutamente extraordinária" em que Nicolau Breyner conseguiu uma "votação muito alta", mesmo não tendo ganho. O ex-líder centrista afirmou que a carreira política não foi o mais importante no percurso do ator e até recordou que se riu "muito com ele nessa experiência [de se candidatar à autarquia alentejana]"

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Alentejano de Serpa, Nicolau Breyner nasceu em 1940 na vila alentejana, onde passou parte da infância. Foi como o "tanoeiro", um pequeno papel na peça Leonor Telles, que, a 20 de Abril de 1960, se estreou no teatro, depois de ter vindo para Lisboa, para estudar no Conservatório - canto e teatro. A estreia na televisão deu-se com "Cruzeiro de Férias", ao lado de António Silva.

Ao longo dessa década tornou-se numa das primeiras figuras do teatro de revista e na década seguinte num dos atores mais populares do país, graças à televisão. Para a maior a parte dos portugueses, será sempre o Sr. Contente, metade da dupla "Sr. Feliz e Sr. Contente", rábula que protagonizava com Herman José. Mas marcou a televisão com programas como Eu Show Nico (1980) ou Gente Fina é Outra Coisa (1983).

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Foi também ator e coautor da primeira novela portuguesa, Vila Faia, em 1982. Na telenovela desempenhou um papel marcante, o de João Godunha. Trabalhou também como realizador de várias séries e produtor de TV, tendo sido o fundador da NBP Produções.

No cinema participou, por exemplo, em " O Barão de Altamira" (1986), "Jaime" (1999), "Os imortais" (2003), "A Bela e o Paparazzo" (2009) e "Os gatos não têm vertigens" (2014) e assumiu o papel de realizador, entre outros, em "Contrato" e "Sete pecados rurais". Henrique Campos, Joaquim Leitão, António-Pedro Vasconcelos, Luís Galvão Telles, António da Cunha Telles, Leonel Vieira, Jorge Paixão da Costa e Fernando Lopes foram alguns dos realizadores com quem trabalhou.

Distinguido em 2005 com a Ordem de Mérito, Nicolau Breyner desejava ver no Alentejo a criação de uma estrutura profissional de captação de produções de cinema para a região, que nunca foi completamente concretizada.

Apesar do tempo passado em Lisboa, Nicolau Breyner nunca esqueceu o Alentejo e cumpriu funções políticas na região. Nos anos 1990, candidatou-se à autarquia de Serpa, pelo CDS-PP, e assumiu funções como vereador. Na década seguinte chegou a ser militante do PSD e, mais recentemente, integrou a candidatura de Nuno da Câmara Pereira pelo SIM - Movimento Independentes por Sintra à presidência da câmara.

Com Lusa

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