O cineasta José Fonseca e Costa faleceu hoje de manhã, confirmou à Lusa o produtor Paulo Branco, que estava a produzir o último filme do realizador, Axilas, baseado num conto do escritor Ruben da Fonseca.
A notícia foi avançada pelo Expresso, segundo o qual o realizador morreu hoje de manhã no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, de uma pneumonia, na sequência de uma pré-leucemia.
Em declarações à agência Lusa, o produtor Paulo Branco adiantou que apesar de já estar doente, o realizador decidiu avançar com o seu mais recente projeto, "que era muito importante para ele".
O filme "chama-se Axilas, é baseado num conto de Ruben da Fonseca, com argumento do Mário Botequilha", adiantou Paulo Branco.
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José Fonseca e Costa nasceu no Huambo, em Angola, a 27 de junho de 1933, e mudou-se para Lisboa em 1945.
Entre 1951 e 1955 frequentou o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que não terminou para se dedicar às atividades cinematográficas.
Membro da direção do Cineclube Imagem, fez crítica de cinema nas revistas Imagem e Seara Nova. Traduziu para português livros de teoria cinematográfica da autoria de Eisenstein, Guido Aristarco e alguns romances, entre eles, Il Compagno de Cesare Pavese e Passione di Rosa de Alba de Cespedes.
Concorrente ao lugar de assistente de realização da RTP (à data da sua fundação) foi impedido de entrar nos quadros da empresa por interferência da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), embora tenha ficado classificado em primeiro lugar.
Em 1960 foi-lhe recusada uma bolsa de estudo, solicitada ao Fundo do Cinema Nacional, para frequência de um curso de cinema no estrangeiro e, novamente por informação da PIDE, em cujas prisões foi encarcerado por atividades de oposição política à ditadura.
Iniciou a sua formação profissional estagiando em Itália, por volta de 1961, onde trabalhou com Michelangelo Antonioni no filme L'Eclisse (O Eclipse).
De regresso a Portugal, em 1964, produziu e dirigiu centenas de filmes publicitários e alguns documentários industriais e turísticos, atividade que interrompeu a partir dos anos 1970, quando dirigiu o seu primeiro filme de ficção (A Metafísica do Chocolate, 1967).
É um dos cineastas do movimento do Novo Cinema em Portugal. Seguem-se O Recado (1972), Os Demónios de Alcácer Quibir (1977) e Kilas o Mau da Fita (1981).
Foi sócio fundador e dirigente, nos anos 1960, do Centro Português de Cinema e, mais recentemente, da Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisuais, de cuja primeira direção foi presidente.
Em 1998, foi nomeado para representar o Ministério da Economia no recém-criado Conselho Superior do Cinema, do Audiovisual e do Multimédia, onde nunca chegou a exercer funções.
Foi eleito para o Conselho de Opinião da RTP em sessão da Assembleia da República realizada a 2 de novembro de 2000.
Dedicava a sua atividade ao ensino universitário de disciplinas cinematográficas, à escrita de crónicas jornalísticas e de argumentos dos seus filmes.
Depois de Cinco Dias, Cinco Noites (1996), filme premiado no Festival de Gramado, nos Globos de Ouro em Portugal e selecionado para o Montreal World Film Festival, Fonseca e Costa assinou ainda O Fascínio (2003) e Viúva Rica Solteira Não Fica (2006), seus mais recentes trabalhos.
A 09 de outubro de 2014, a Academia Portuguesa de Cinema atribuiu-lhe o prémio de carreira.