Belmiro de Azevedo morreu esta quarta-feira aos 79 anos. O empresário, fundador de uma dinastia nos negócios em Portugal e um dos homens mais ricos do país, estava internado no hospital da CUF no Porto.
Belmiro de Azevedo nasceu em Tuias, Marco de Canaveses, filho mais velho de entre oito irmãos, filhos de um carpinteiro e de uma costureira. A sua carreira iniciou-se na Efanor, e mais tarde surgiu a Sonae, que liderou desde 1974. Na década de oitenta tornou-se sócio maioritário.
No entanto, as coisas até começaram mal: chumbou logo na primeira classe. Mas esse desaire, atribuiu-o ao facto de ter tido um mau professor. Foi então que um outro professor lhe reconheceu as capacidades e o potencial, convencendo a família a deixá-lo prosseguir os estudos. Seguiu assim para o Porto, onde ficou ao cuidado do tio e padrinho, que tinha o mesmo nome e era fiscal de obras.
Depois de frequentar o liceu Alexandre Herculano foi, em 1956, para a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Licenciou-se em Engenharia Química com nota 16, em 1964, depois de cumprir o serviço militar em 1959/1960. Escapou, por pouco, à guerra colonial, que começou em 1961. As especializações em gestão ficaram para mais tarde, em universidades norte-americanas como Harvard e Stanford.
Começou a trabalhar na Efanor no último ano de faculdade e casou com Maria Margarida Carvalhais Teixeira, com quem teve três filhos: Paulo, Cláudia e Nuno.
Por achar que faltava "estratégia" à empresa, sai da mesma ao fim de dois anos, entrando para a Sonae (Sociedade Nacional de Aglomerados e Estratificados) que era de Afonso Pinto de Magalhães, dono do banco do mesmo nome e presidente do FC Porto.
Belmiro de Azevedo entra na Sonae em 1965 enquanto quadro técnico, numa empresa que veio a rotular como "falida" naquele momento da década.
"Quando lá entrei percebi que era preciso mais bom senso que investigação. Eu insisto nessa regra de que é preciso ter educação, formação, informação e muito bom senso. Adotei algumas medidas de bom senso que corrigiram coisas evidentes e daí criei uma aura de tipo capaz de dar a volta às situações", disse ao Diário Económico.
[artigo:4444237]
De acordo com o livro "O Homem Sonae" do jornalista Filipe Fernandes, o capital social da Sonae começou por ser de mil contos (cinco mil euros), subindo para 25.000 contos quatro anos depois e triplicando no final do ano da revolução.
Depois da morte de Pinto de Magalhães em 1984, Belmiro de Azevedo, já diretor-geral, torna-se administrador-delegado da Sonae, agora com uma posição acionista maioritária, enquanto Carolina Pinto de Magalhães, viúva de Afonso, se torna presidente, cargo que deteve até 1991 (substituída por Álvaro Barreto), numa dinâmica de relações tensa entre o empresário do Marco de Canavezes e a família do fundador da Sonae que só terminou em 1994 com um acordo entre as duas partes e a saída da família do capital da empresa.
"A Sonae era uma tribo e eu era o chefe da tribo", disse, anos depois, para se referir às disputas pelo controlo da empresa que se seguiram ao 25 de abril, em particular com envolvimento do Partido Comunista Português.
Em 1983, a Sonae passa a incluir "Indústria e Investimentos" no nome da empresa, quatro anos depois de se tornar numa Sociedade Gestora de Participações Sociais (SGPS), que já englobava 75 empresas em seis áreas (distribuição, agroindústria, comunicação e tecnologias de informação, imobiliário e turismo).
O destaque iria para a distribuição alimentar, com relevo para a Modelo Continente (Sonae MC, atualmente, depois de várias encarnações): "a distribuição alimentar em Portugal, que era então um desastre, com pobres mercearias em cada esquina, sem tratamento higiénico dos produtos, sem cadeia de frio", disse ao Diário Económico, lembrando a inauguração do primeiro hipermercado em Matosinhos, no ano de 1985.
Em 21 de janeiro de 1991, o Diário de Notícias escrevia que "Sonae deixa de ser um grupo industrial e concentra-se no setor da distribuição", citando um estudo da Universidade Católica, que também lembrava a entrada da empresa na comunicação social com o surgir do jornal Público e com a Rádio Nova.
No ano seguinte, dá-se a entrada no Banco Português do Atlântico, instituição financeira na qual a Sonae vai aumentando a sua participação até 1995, quando é dada "luz verde" pelo Ministério das Finanças de Eduardo Catroga à Oferta Pública de Aquisição (OPA) do BCP.
Em 1996, o Financial Times considerava a Sonae como a empresa portuguesa de maior prestígio na Europa, num ranking de 20 companhias do continente liderado pela British Airways.
De acordo com dados de dezembro de 2012, a Sonae tinha presença em 66 países, desde as tecnologias de informação nos Estados Unidos ao Médio Oriente no retalho especializado.
Belmiro de Azevedo, do grupo Sonae, surgiu na edição da Forbes, este ano, na posição 1376 dos mais ricos do mundo, com uma fortuna avaliada em 1,5 mil milhões de dólares (1,39 mil milhões de euros).
"Em 1965, quando Belmiro de Azevedo tinha 27 anos, aceitou um trabalho numa pequena empresa portuguesa. Tornou-se CEO aos 29 e, durante mais de quatro décadas, tornou a empresa numa grande holding internacional chamada Sonae SGPS. Em 2015, deixou o cargo de chairman da Sonae, embora ainda seja dono de 53%. Em 1985 expandiu-se para a área dos supermercados, para os hotéis em 1986, tecnologia em 1988, imóveis em 1989 e media em 1990 [...] O seu professor favorito convenceu os pais a enviá-lo para a faculdade.", diz o perfil da Forbes sobre Belmiro de Azevedo.
O velório de Belmiro de Azevedo realiza-se esta quarta-feira na Paróquia de Cristo Rei, no Porto, a partir das 21:00.
A missa de corpo presente decorrerá no mesmo local, na quinta-feira, às 16:00, seguida de uma cerimónia fúnebre reservada à família.
Também esta quarta-feira, morreu Ana Augusta Azevedo, irmã de Belmiro de Azevedo, que estava internada no Instituto Português de Oncologia, no Porto.