Morreu a mulher mais velha do mundo, aos 129 anos. Não foi feliz "um único dia"

Koku Istambulova afirmou em várias entrevistas que concedeu que via a longevidade como um "castigo", pois não tinha sido feliz "um único dia" da sua vida, durante a qual passou pelos "horrores de várias guerras", "muito miséria" e pelo desgosto de enterrar dois filhos quando estes ainda eram crianças.
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Aquela que era a mulher mais velha do mundo morreu em agosto, aos 129 anos, na Rússia, onde vivia, avança o Mirror.

Koku Istambulova, uma sobrevivente da repressão de Estaline, iria comemorar o 130.º aniversário a 1 de junho do próximo ano, e tornou-se famosa na Rússia depois de entrar para o livro de recordes do país.

No entanto, Istambulova afirmou em várias entrevistas que concedeu que via a longevidade como um "castigo", pois não tinha sido feliz "um único dia" da sua vida, durante a qual passou pelos "horrores de várias guerras", "muito miséria" e pelo desgosto de enterrar dois filhos quando estes ainda eram crianças.

Um dos seus netos, Iliyas Abubakarov, revelou esta semana que a avó jantou normalmente na casa dela, na Chechénia, no dia em que morreu. "Ela estava a fazer piadas, a falar. Subitamente sentiu-se mal, queixando-se de uma dor no peito. Chamámos o médico, que nos disse que a pressão arterial estava muito fraca. Deram-lhe injeções, mas não a conseguiram salvar. Morreu de uma forma silenciosa, totalmente lúcida, a rezar", contou.

Koku Istambulova, que era muçulmana, tinha cinco netos, todos filhos de uma filha que também já morreu, e 16 bisnetos. Foi enterrada na sua aldeia natal, em Bratskoe.

Embora se acredite que a sua data de nascimento era 1 de junho de 1889, o passaporte da centenária informava apenas do ano de nascimento, e não o dia nem o mês.

Nas várias entrevistas que deu, Istambulova recordou o dia em que o povo checheno foi deportado em massa por Estaline para o Cazquistão, há 75 anos. "Foi um dia mau, frio e sombrio", afirmou, sobre um episódio que aconteceu em fevereiro de 1944, lembrando que os vagões onde os chechenos seguiam estavam cheios de sujidade, lixo e fezes e que havia corpos de pessoas mortas que eram atiradas para fora dos vagões para serem comidos por cães famintos.

Istambulova contou também que várias mulheres morreram por roturas da bexiga, pois tinham vergonha de ir à casa de banho em comboios lotados e fedorentos.

Tudo porque Estaline acreditava que os chechenos estavam a colaborar com os nazis. "Disseram-nos que éramos más pessoas e que, por isso, tinhamos de ir embora", contou, lembrando-se dos "assustadores" tanques nazis que passavam à porta da casa da sua família.

Foi já no Cazquistão que perdeu os dois filhos, que não sobreviveram às condições adversas. "Não havia médicos, ninguém para tratá-los. O meu filho mais novo contraiu alguma doença e morreu muito rapidamente. Coisas assim aconteciam em todas as famílias. Quando as mulheres davam à luz, os filhos muitas vezes morriam porque não havia obstetras, apenas vizinhos e amigos", recordou. "Só fiquei com a minha filha Tamara", acrescentou.

Depois de 13 anos exilada no Cazaquistão, os chechenos foram autorizados a regressar à terra natal após a morte de Estaline. Mas quando Istambulova voltou, muitas casas haviam sido ocupadas por russos, pelo que teve de trabalhar na construção de uma nova casa.

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