Morreu a menina cantora de "Serenata à Chuva"
A filha, Carrie Fisher, célebre pela interpretação da Princesa Leia, morreu no dia 27 de dezembro, em Los Angeles, aos 60 anos. A mãe, Debbie Reynolds, ícone perfeito da idade de ouro do cinema americano, morreu um dia mais tarde, também em Los Angeles. Ironia cruel: se nos contassem tal história num filme, muitos diriam que não passava da invenção gratuita de um argumentista de Hollywood... O certo é que a vida, como bem sabemos, não reconhece as leis da ficção: Debbie Reynolds encontrava-se em casa do filho, o ator e produtor Todd Fisher, preparando as cerimónias fúnebres da filha, quando sofreu um AVC, vindo a falecer poucas horas mais tarde no Centro Médico de Cedars-Sinai - contava 84 anos.
Como outras actrizes reveladas ao longo dos anos 40/50, deu entrada no universo de Hollywood depois de ter ganho um concurso de beleza, de Miss Burbank (na cidade onde a família se instalara em 1939, tinha sete anos). Contratada pela Warner Bros., o seu batismo cinematográfico implicou uma "tradicional" mudança de nome: Mary Frances Reynolds passou a chamar-se Debbie. A sua participação em Serenata à Chuva (1952), com Gene Kelly como ator principal e realizador (função partilhada com Stanley Donen), definiu a sua imagem de marca: uma figura ingénua, ma non troppo, com dotes de cantora e uma dimensão romântica salpicada de humor.
A sua carreira consolidou-se através de filmes em que contracenou com Frank Sinatra (A Armadilha Amorosa, 1955), Bette Davis (The Catered Affair, 1956) ou Bing Crosby (O Céu por Testemunha, 1959). Com Os Milhões de Molly Brown (1964), obteve uma nomeação para o Óscar de melhor atriz (ganho nesse ano por Julie Andrews, em Mary Poppins), interpretando uma figura da sociedade americana do começo do séc. XX, célebre pela sua filantropia. Curiosamente, foram também as atividades humanitárias de Debbie Reynolds que levaram a Academia de Hollywood a atribuir-lhe, em novembro de 2015, o prestigioso prémio Jean Hearsholt - ausente da respetiva cerimónia, foi representada pela sua neta Billie Lourd, filha de Carrie Fisher.
O teatro depois do cinema
Casou-se três vezes, a primeira das quais com o cantor Eddie Fisher (1928-2010), pai de Carrie e Todd Fisher. O seu divórcio, motivado pela ligação do marido com Elizabeth Taylor, entrou para a mitologia dos escândalos de Hollywood (levando mesmo ao cancelamento do programa de televisão The Eddie Fisher Show, na NBC).
Como aconteceu com outras estrelas ligadas ao período clássico de Hollywood, foi sendo cada vez menos solicitada a partir de finais da década de 60, tendo repartido o seu trabalho pelo palco (com especial sucesso na Broadway, em 1973, com o musical Irene) e pela televisão. Esporadicamente, foi surgindo em filmes como O Guarda-Costas (1992), com o par Kevin Costner/Whitney Houston, em que assumia o seu próprio papel, e Quando o Céu e a Terra Mudaram de Lugar (1993), sob a direção de Oliver Stone. O seu derradeiro papel importante ocorreu num telefilme que viria ser estreado nas salas de cinema de muitos países: Por Detrás do Candelabro (2013), de Steven Soderbergh, compondo a personagem da mãe do cantor Liberace, interpretado por Michael Douglas.
Foi uma obsessiva colecionadora de peças de cenário e guarda-roupa, fotografias e cartazes de muitos filmes - era dela o célebre vestido esvoaçante que Marilyn Monroe usou em O Pecado Mora ao Lado (1955). Problemas financeiros impediram a concretização de um museu para conservar esses materiais. Seriam todos leiloados ao longo de vários anos, até 2014 - o vestido de Marilyn foi adquirido por 4,6 milhões de dólares.