Morreu a eterna primeira-dama Maria Barroso
Maria Barroso morreu esta madrugada, aos 90 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa. A antiga primeira-dama estava internada, em estado grave, desde 26 de junho.
A família Soares já fez saber que o corpo estará em câmara ardente no Colégio Moderno, a partir das 18.00 horas de hoje, e o funeral será amanhã, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, após uma missa de corpo presente na Igreja do Campo Grande, pelas 10.00. Em comunicado, lido à porta do hospital pelo porta-voz da instituição, José Barata, a família avisou que não será permitida a recolha de imagens no interior do Colégio Moderno e pediu privacidade.
Maria Barroso estava internada devido a uma queda, em coma, tendo-lhe sido diagnosticado um derrame intracraniano. O seu estado de saúde agravou-se esta madrugada e acabou por morrer às 5.20.
O desaparecimento da ex-primeira dama já motivou dezenas de reações. O Presidente da República enviou condolências à família e elogiou o seu "amor ao seu país e dedicação à família". Aníbal Cavaco Silva descreveu a antiga primeira-dama como "uma lutadora pela liberdade e pela democracia".
Também o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho exprimiu a sua tristeza pela morte de Maria de Jesus Barroso, cuja "vida ímpar, toda ela dedicada ao serviço dos outros e à causa pública" deixou marca em várias vertentes da vida portuguesa.
No Partido Socialista, as manifestações de pesar não se fizeram esperar. O PS colocou as bandeiras a meia-haste, e a sua presidente, Maria de Belém Roseira, disse que se perdeu uma "mulher e pedagoga extraordinária, que vai deixar muitas saudades". O secretário-geral António Costa e a direção socialista manifestaram "profunda emoção e consternação".
António Guterres, alto comissário das Nações Unidas para os Refugidos (ACNUR) e ex-primeiro-ministro, considerou hoje que é uma "perda irreparável" de uma "figura inigualável", que deixa uma "saudade infinita". "Recordarei Maria de Jesus como uma muito querida amiga que sempre mostrou uma extraordinária solidariedade e apoio em alguns momentos difíceis da minha vida pessoal, o que nunca poderei esquecer", disse o ex-secretário-geral do PS numa nota enviada à Lusa.
O ex-Presidente da República Jorge Sampaio disse hoje ter ficado "impressionado com o desaparecimento" de uma "figura tão brilhante e notável" como Maria Barroso, cujo legado o país "não vai esquecer". "Fico muito impressionado porque desaparece uma figura brilhante, que teve uma vida cheia em numerosos domínios e por quem eu tinha uma amizade e consideração enormes", declarou à Lusa.
O antigo Presidente da República lembrou que Maria Barroso distinguiu-se na vida cultural e pedagógica, primeiro como atriz e depois professora no Colégio Moderno.
"Foi uma pessoa muito envolvida na resistência contra o regime anterior, em atividades políticas permanentes e grande combatente pela democracia, a quem tive o enorme prazer de distinguir com a ordem da liberdade, porque a merecia", sublinhou.
Também o dirigente histórico socialista Manuel Alegre destacou hoje Maria de Jesus Barroso como "grande figura da luta pela liberdade" e da cultura, considerando que foi primeira dama mesmo antes de Mário Soares ser eleito Presidente da República.
Maria de Jesus Simões Barroso, nasceu a 2 de maio de 1925, filha de uma professora primária e de um tenente do exército. Diplomou-se em Arte Dramática na escola de Teatro do Conservatório Nacional, foi atriz, e licenciou-se depois em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras de Lisboa, onde conheceu Mário Soares. Casaram-se em 1949, e teve dois filhos, João e Isabel.
Foi também uma das fundadoras do Partido Socialista, liderado por Mário Soares, em 1973.
O Partido Comunista Português, por sua vez, emitiu um curto comunicado em que exprime condolências à família e relembra a participação de Maria Barroso na luta contra o fascismo nos tempos que precederam o 25 de abril.
A porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, também já lamentou a morte de Maria Barroso, a quem se referiu como uma mulher muito determinada e apegada "à liberdade e dignidade humana".
O candidato à Presidência da República, António Sampaio da Nóvoa, disse partilhar "o silêncio e a dor com a sua família e amigos", daquela que é uma figura maior do Portugal da liberdade e da cultura.
O presidente do Grupo Parlamentar socialista, Ferro Rodrigues, considerou hoje que Maria de Jesus Barroso, fundadora do seu partido e casada com o ex-Presidente da República Mário Soares, foi uma "grande mulher, grande portuguesa e grande socialista".
A atriz Carmen Dolores afirma que recorda a ex-primeira dama "como a mulher mais importante, a que mais admiro da minha geração". Lembrou ainda o papel de Maria Barroso - que, como ela, andou no liceu lisboeta Filipa de Lencastre - como atriz do Teatro Nacional D. Maria II, durante a ditadura, quando foi impedida de trabalhar.
Um dos seus últimos cargos públicos foi a presidência da Cruz Vermelha Portuguesa, tendo também dirigido a associação Pro Dignitate, que ajudou a fundar.