Morreu "a voz da América Latina" (VÍDEO)

Símbolo da renovação da música popular no seu país na década de 60, Mercedes Sosa, que morreu aos 74 anos, em Buenos Aires, foi também activista política.
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"Ela viveu plenamente os seus 74 anos, fez praticamente tudo o que quis, não conheceu nenhum tipo de barreira nem medo. Viveu uma vida muito plena, que foi dolorosa, por causa do exílio", declarou Fabián Matus, o filho de Mercedes Sosa, a cantora argentina e activista política que morreu ontem, aos 74 anos, no hospital de Buenos Aires onde estava internada desde 18 de Setembro.

Sosa tinha um problema hepático, agravado por complicações pulmonares. Já havia estado hospitalizada em Março, com uma pneumonia. Estes problemas de saúde impediram-na de participar no lançamento do seu álbum duplo Cantora, em que fazia duetos com nomes da música espanhola e da América Latina, caso de Joan Manoel Serrat, Caetano Veloso ou Shakira, e que está nomeado para três Grammys latinos.

Com uma carreira de mais de quatro décadas, Mercedes Sosa foi uma das vozes mais representativas da música popular argentina e da América Latina, apelidada de La Negra devido aos seus longos cabelos negros. Militante comunista, Sosa era também o símbolo da renovação da música folclórica do seu país, socialmente empenhada. O músico Victor Heredia, seu amigo e compositor de muitas das suas canções, chamou-lhe "a voz da maioria silenciosa, dos que não podiam falar no tempo da ditadura".

Apoiante de Péron na juventude e opositora ao regime dos generais (1976-1983), a cantora foi presa em 1979, durante um concerto, e exilou-se na Europa, primeiro em Paris e depois em Madrid. Regressou à Argentina em 1982, poucos meses antes da queda da junta militar, na sequência da derrota na Guerra das Falklands, e deu vários concertos no Teatro Colón de Buenos Aires, que originaram um álbum duplo com vendas recorde.

Em 2000, definiu-se numa entrevista: "Sou cantora. Sou viúva. Tenho um filho, Fabian Ernesto, e duas netas. Conduzo um Audi pequeno. Estive muito doente e reencontrei Deus. Sou progressista. Sou embaixatriz da UNICEF".

Mercedes Sosa nasceu em Tucumán, numa família modesta, de origem índia, e revelou-se num concurso de rádio aos 15 anos, que ganhou. Foi professora de danças folclóricas e lançou-se na música com o marido, o músico Manuel Oscar Matus, tornando-se ambos representantes maiores do Movimiento del Nuevo Cancionero latino-americano, que renovou a música popular argentina e lhe deu uma carga política. Gravou o primeiro disco, Canciones con Fundamento, em 1965, e em 1967, fez uma digressão de sucesso pela Europa e pelos EUA. Também entrou em filmes.

Entre as suas canções mais conhecidas estão Hasta la Victoria, Gracias a la Vida (da chilena Violeta Parra), Traigo un Pueblo en mi voz ou A que Florezca mi Pueblo. Pouco antes da morte de Mercedes Sosa, a presidente chilena, Michelle Bachelet, tinha-lhe chamado "a voz mais vigorosa da América Latina".

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