Moonspell: "O medo de um terramoto é sempre atual"
O vosso próximo passo vai ser lançar um álbum em português, sobre o Terramoto de 1755.
Sim, é o nosso primeiro álbum em português, não por imposição dos nossos amigos do movimento "venham mais cinco" mas porque o assunto é português, é um álbum sobre um acontecimento português que teve impacto na Europa e no Mundo. A ideia era fazer um EP para o nosso DVD, que já não gravamos há muito tempo. Entusiasmámo-nos com a experiência, este é um disco bastante diferente do Extinct, muito menos melódico, muito mais sísmico, muito mais metaleiro. Tem a particularidade de ter havido uma descoberta de uns Moonspell diferentes, que nos interessou até ao ponto de irmos fazer um álbum inteiro. Ganhou uma vida própria, vai sair daqui a um ano, já tínhamos o EP feito mas agora estamos a acrescentar material. O medo de um terramoto é sempre atual, mas também o tema nos interessa pela importância religiosa, política, de mudanças de costumes, a relação das pessoas com Deus na altura e como essa relação mudou também, o sagrado e o profano, há ali muito sumo. É um álbum que além do metal cria também um ambiente sonoro que recria o cruzamento de culturas em Lisboa naquela época.
Olhando por exemplo para bandas como Napalm Death e Kreator, com quem vocês já fizeram digressões, são ostensivamente políticos - mais os Napalm Death, ainda assim - nas mensagens das letras. Vocês têm um lado mais poético e místico nas vossas letras. Em relação a temas como a eleição do Donald Trump, têm alguma opinião, querem passar alguma mensagem política?
Queremos desde logo expressar o nosso mais profundo horror pela eleição do Trump e por as pessoas agora estarem a dar o benefício da dúvida a uma pessoa que teve uma campanha eleitoral completamente misógina, completamente racista, que evocou todos os maus valores da América.
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Mas conseguiriam passar isso para uma letra de uma canção?
Eu escrevo em blogs, na minha página de artista, há sempre uma discussão complicada, porque as pessoas querem que os artistas se afastem da política. Mas eu penso que a política é que se aproxima de nós, não há como ser não político. É curioso porque quase todas a letras que eu escrevi para o terramoto são de amor e de devoção, é mais aí que eu quero chegar. Mas há uma que reflete o desaparecimento da Europa e essa sim é uma letra mais política. Provavelmente não o faria em inglês, mas em português vou aproveitar a ocasião. Também porque o terramoto resultou num fenómeno político. Não quer dizer que o país precise agora de um terramoto político, embora pessoalmente tenha apoiado uma mudança e uma alternativa de governo. Calhou que fosse um governo PS com apoio do PCP e do Bloco de Esquerda e eu estou a gostar do rumo. Mas os Moonspell não são como os Napalm Death, não têm esse berço hardcore e ativista. Somos pessoas interessadas, mas a nossa banda é mais dada à ficção, ao romance e à obscuridade das palavras.
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Depois de tudo o que já conseguiram, qual é o grande desafio que ainda se coloca aos Moonspell?
Grande ou pequeno, tivemos a sorte de tocar há pouco tempo em dois países onde nunca tínhamos tocado, Israel e Malta. Nós não pensamos em grandes desafios, temos 25 anos e isso já foi um grande desafio. O grande desafio para nós agora vai ser este álbum em português, fazer uma tournée em Portugal como fazemos lá fora, provavelmente a tocar todos os dias, com tour bus, queremos levar bandas portuguesas nessa digressão. Isto, parecendo que não, já é um desafio brutal. De resto o nosso desafio é sempre dar passos para a independência da banda, não estar dependentes de ninguém para tomar decisões.
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