O tema da coleção era a beleza interior e a estação era quente, mas nem por isso Dino Alves deixou de levar um problema pessoal para o palco da ModaLisboa para servir de alerta: "Eu fui despejado do ateliê de onde estava há 10 anos por via daquilo que está a acontecer na cidade, com o turismo e a especulação imobiliária"..Foi isso mesmo que se viu no final do desfile: manequins tentando encontrar novos rumos ou destinos, enquanto carregavam malas pesadas às costas..Ao mesmo tempo, iam expondo as apostas de Dino Alves para a próxima primavera/verão - coordenados femininos e masculinos de tons terra e claros com elementos como aberturas, transparências e sobreposições, que obrigavam a uma leitura para o interior de cada um..Coordenados estes que Dino Alves criou durante o mês de agosto num espaço temporário em Lisboa, "quase um quartinho", cedido por uma amiga, e não no ateliê que teve durante anos na Rua da Madalena.."Percebi com isso que é o que está cá dentro é que importa", adiantou o criador, que deixou como mensagem final no desfile que "tudo o que somos está dentro de nós"..E se na anterior coleção de Filipe Faísca o bordado da Madeira tinha sido o rei, desta vez voltou a sê-lo, mas em forma de abelha, de borboleta e de libelinha, tudo isto para mostrar "muita feminilidade e muita alegria" em coordenados femininos de tons claros (creme, amarelo, branco) e em materiais fluidos (seda e linho), explicou o 'designer' à Lusa.."Eram duas formas de trabalhar o bordado da Madeira: a primeira era aquilo que já existia [...] em toalhas, 'napperons', guardanapos e toda a linguagem do que estava dentro de casa, e desta vez essa parte mantém-se, mas havia a necessidade de fazer roupa de raiz", acrescentou..Filipe Faísca decidiu fazê-lo, mas ao mesmo tempo "introduzir novos elementos", os insetos.."A abelha é um símbolo mítico [...] e que neste momento está muito presente naquilo que é a sustentabilidade no mundo", enquanto a borboleta e a libelinha são "símbolos de felicidade e de transformação", precisou..Nas suas propostas a próxima primavera/verão, a criadora Lidija Kolovrat teve como mote o "Passaporte", criando, em cada coordenado, diferentes identidades para homem e mulher através de cores vivas e com peças fortes, como os casacos desconstruídos, sapatos brilhantes ou chinelos em forma de peixe..Antes, Gonçalo Peixoto, da plataforma LAB, exaltou o liberalismo feminino para formar conjuntos românticos e florais de cortes clássicos, que foram "reinterpretados" a partir de um olhar mais urbano, de acordo com o criador..Numa viagem ao passado embarcou a 'designer' de joias Olga Noronha, que recuperou materiais em extinção, como a celuloide, bem como técnicas do renascimento italiano e asiático, tendo como objetivo final criar joias que captam a "perceção do tempo e do espaço", segundo a criadora..Hoje, os desfiles começaram no exterior, no lago do Botequim do Rei, no alto do Parque Eduardo VII, com as apresentações das coleções da Imauve, de Inês de Oliveira, e da Duarte, de Ana Duarte, no âmbito da plataforma LAB, dedicada aos novos talentos..Para criar a coleção da próxima primavera, Inês de Oliveira deixou-se influenciar pela "escultura grega e neoclássica e na sua atmosfera formal de equilíbrio e harmonia", resultando em peças de silhueta "longilínea, cintada e evasé" em cores como branco, carmesim e cobre, nas quais as lantejoulas estiveram em destaque..Duarte recriou o Grande Prémio do Mónaco, de Fórmula 1, com uma coleção que "explora o 'lifestyle' [estilo de vida] da competição". "Seguindo o conceito de 'sportswear luxury' [algo como roupa desportiva de luxo], tudo é cuidadosamente planeado, resultando em peças de qualidade", descreveu Ana Duarte..Ainda no âmbito da plataforma LAB, mas já dentro do Pavilhão Carlos Lopes, Carolina Machado apresentou "Trópico", uma coleção que teve o ponto de partida na "Cuba dos anos 50"..De acordo com a 'designer' de moda, trata-se de "uma coleção fluida, onde se destacam as mangas abaloadas, os franzidos, cortes assimétricos, drapeados e a vivacidade dos tons terracota, complementada pelos estampados tropicais"..Hoje, foi também apresentada a coleção do luso-canadiano Andrew Coimbra, uma estreia na ModaLisboa..A 51.ª edição da ModaLisboa termina hoje.