Moçambique precisa de segunda operação humanitária

Desta vez o governo retirou as populações das casas para evitar mortes, mas falta agora alimentar e ajudar quem ficou sem qualquer bem para sobreviver. ONU alerta para a necessidade de assistência humanitária a larga escala.
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Macomia está ao relento. Escolas, hospitais e habitações ficaram sem telhado, incapazes de resistir a rajadas de ventos superior a 280 km por hora. As populações do norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado, foram retiradas de casa para centros de acolhimento antes do impacto do ciclone Kenneth, mas já falta comida.

Um mês depois do ciclone Idai, que matou mais de 600 pessoas e devastou a zona da Beira, o governo moçambicano tomou precauções e retirou as pessoas de casa, instalando-as em campos de acolhimento. Mas ainda não iniciou qualquer programa de assistência alimentar no dia seguinte ao ciclone.

"As pessoas saíram esta manhã de sexta-feira dos centros de acolhimento para irem ver como estão as suas casas e também à procura de comida porque não há qualquer assistência alimentar. Jovens locais voluntários estão a tentar recolher comida e água para distribuir às pessoas", contou ao DN Alexandre Nhampossa, jornalista do Zitamar News que, a partir de Maputo, tem estado em contacto com outros jornalistas e ativistas sociais na província de Cabo Delgado, onde o ciclone teve grande impacto.

As Nações Unidas já alertaram para a necessidade de uma nova operação humanitária em larga escala para responder à devastação deixada a norte. A segunda depois do ciclone Idai. Duas calamidades que deixaram um rasto de destruição num dos países mais pobres do mundo.

"O ciclone Kenneth pode requerer uma nova operação humanitária em larga escala ao mesmo tempo que a resposta ao ciclone Idai, que visa três milhões de pessoas em três países, se mantém criticamente subfinanciada", afirmou esta sexta-feira o sub-secretário-geral das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários e coordenador da Ajuda de Emergência, Mark Lowcock.

ONU já deslocou pessoal para o Norte

O Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) já deslocou o seu pessoal em Moçambique para Pemba, capital de Cabo Delgado, para ajudar a coordenar a resposta governamental. Os três distritos mais afetados pela tempestade de categoria 4 foram Macomia, Ibo e Quissanga.

O Kenneth, que esta quinta-feira entrou na costa norte de Moçambique, entre as 16 e as 18 horas, já deu lugar a uma depressão tropical mas agora é tempo de recuperar os estragos e de garantir assistência alimentar e sanitária a quem ficou sem casa e sem bens. E é muita gente.

Os ventos fortes que chegaram a atingir 285 km já acalmaram mas há chuvas torrenciais que se podem estender a Nampula e Niassa.

Ainda não há dados oficiais sobre o número de pessoas afetadas - há a registar um morto devido à queda de um coqueiro - mas as ONU refere que as áreas atingidas ainda são difíceis de aceder. Há "necessidade urgente" de abrigos, água potável, kits sanitários e de higiene, bem como comida, geradores e equipamentos de telecomunicações.

"As famílias cujas vidas foram viradas de cabeça para baixo pelas catástrofes causadas pelo clima precisam urgentemente da generosidade da comunidade internacional para sobreviver nos próximos meses", apelou Mark Lowcock.

Alexandre Nhampossa explica que as consequências do ciclone na Beira valeram muitas críticas ao governo e que por isso, desta vez, foram tomadas medidas de precaução, sendo criados previamente os centros de acolhimento. Na Beira, só foram instalados depois da tragédia que matou 600 pessoas e deu origem a um surto de cólera. Mas falta a assistência alimentar.

"Os habitantes foram retirados das zonas consideradas de maior risco. A diretora-geral do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades andou nos campos a falar com as pessoas e os colaboradores dela gravaram essas conversas que disponibilizaram nas redes sociais", diz o jornalista.

Mais de 30 mil pessoas terão sido retiradas das áreas de maior risco. A área atingida pelo ciclone tem mais de 600 mil habitantes.

Sobretudo em Macomia "está tudo destruído", conta o jornalista. Os telhados e casas foram levados pelo vento. As infraestruturas públicas também ficaram destruídas, com escolas e hospitais sem telhado e a dificultar a assistência às populações. E começa a faltar comida.

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