Moçambique. O desafio económico e político com a paz no horizonte

Líder da Renamo avisou neste mês que vai começar a governar o Centro e o Norte do país a partir de março
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Quando tomou posse como presidente a 15 de janeiro de 2015, cargo a que juntou a liderança da Frelimo, Filipe Nyusi herdou a crise com a Renamo, que não reconhece os resultados das eleições gerais de outubro de 2014 e exige governar sob ameaça da força nas regiões onde reivindica vitória. Nessa altura, o desejo de Nyusi era chegar a entendimento com o líder da Renamo. Desejo que voltou a reafirmar no seu discurso do estado da Nação, há duas semanas. Mas a verdade é que um ano depois Moçambique vive um agravamento da crise política entre as duas partes e que poderá vir em 2016 a transformar-se numa crise militar.

"A réstia de esperança reside no facto de o presidente Nyusi nunca se ter posicionado explicitamente como estando por trás da abordagem mais radical e preferir uma solução militar. Essa ambiguidade, intencional ou não, permite a Nyusi manter a ideia de que prefere uma solução de diálogo", explicou ao DN José Jaime Macuane, professor de Ciência Política da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Do outro lado está Afonso Dhlakama, que não é visto em público desde 9 de outubro e que há duas semanas avisou que a Renamo de que vai começar a governar o Centro e o Norte do país em março, ameaçando partir para a destruição em caso de intervenção da Frelimo. "Quanto a Dhlakama, a minha preocupação é a centralização excessiva deste processo nas suas mãos. Dá a impressão de que as decisões e a abordagem do processo giram em torno do líder da Renamo. Isto faz que haja alguma intransigência no próprio diálogo, que só pode ser eficaz se ambos os lados souberem ceder", prosseguiu o investigador.

Pelo meio há que ter em conta a economia. Moçambique entra em 2016 com a folga do empréstimo de 261 milhões de euros do FMI, mas com a dívida próxima do vermelho, depois de a economia ter sido atingida no final deste ano por um choque externo - redução das cotações das matérias-primas e forte valorização do dólar. "A situação económica pode levar a alguma tensão social, mas não creio que possa pôr a paz em perigo. Pelo contrário, eu esperaria que o presidente evitasse gerir duas crises complexas ao mesmo tempo. Ou seja, que a crise económica force uma tentativa de se chegar a um acordo político o mais rápido possível, para criar as condições necessárias para a saída da crise económica", vaticinou Macuane.

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