MNE explica voos da CIA em Portugal
Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros, vai hoje ao Parlamento dar explicações sobre a escala em Portugal de alegados voos da CIA. Em causa está a utilização de aeroportos portugueses e do espaço aéreo nacional por aviões ao serviço dos serviços de informações dos Estados Unidos para o transporte de presumíveis terroristas.
Neste momento, o Governo está "a avaliar os termos" do pedido de esclarecimentos do Parlamento Europeu, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Miguel Angel Moratinos, vai comparecer, no dia 14, perante a comissão do Parlamento Europeu sobre as alegações de actividades ilegais da CIA na Europa.
Ontem, em Estrasburgo, Carlos Coelho confirmou que já enviou uma carta a Luís Amado, a convidá-lo a comparecer perante a sua comissão, entre os meses de Outubro e Novembro. Carlos Coelho disse que "ficaria muito surpreendido" se fosse negativa a resposta do Governo, que "seria um péssimo sinal para Portugal, no plano europeu, e para o Governo, porque, quem se recusa a colaborar com uma comissão com estas características, dá a ideia de que tem algo a esconder".
Ana Gomes não se mostrou surpreendida com a carta que recebeu do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, a confirmar a passagem de aviões da CIA em Portugal, em contraste com declarações anteriores. Para aquela eurodeputada, "a primeira resposta dos serviços, facultada ao professor Freitas do Amaral, em Dezembro, era extremamente superficial e isso é o que explica que ele tenha dito o que disse. Os elementos que hoje existem são mais substantivos".
Ana Gomes indicou que recebeu a carta no dia 18, datada de 26 de Junho, e que está a "aguardar outras respostas do Governo, relacionadas com listas de passageiros e tripulações de alguns desses vôos". Na opinião de Ana Gomes, "10 a 12 por cento dos vôos da CIA, referenciados no Parlamento Europeu, passaram por Portugal". A eurodeputada considerou que, "nesta fase" não lhe parece necessário convidar Freitas do Amaral a depôr perante a comissão de inquérito.
Ana Gomes mostrou-se convencida de que os voos ainda continuam a ocorrer "porque este tipo de aviões muda, frequentemente, de matrícula. Por exemplo, um dos aviões, chamado de "Expresso de Guantánamo", que passou variadíssimas vezes pelo nosso país, começou por ter a matrícula, N379P, depois mudou para outra matrícula um ano depois, mudou mais vezes, e agora é N126CH, e amanhã pode mudar. São companhias da CIA, de fachada, completamente identificadas, que operam muitas vezes como táxis aéreos, com o beneplácito de muitas autoridades para não serem controlados. Por isso, não excluo que isso possa continuar a passar-se".