MNE a sós com mentor da ideia que Sócrates rejeita
Dois dias antes de surgirem notícias de que Luís Amado estaria perto de abandonar o Governo, o ministro dos Negócios Estrangeiros esteve reunido com o vice-ministro das finanças alemão, Stephen Kampeter. O encontro - que o DN noticiou na sexta-feira - ganhou uma particular importância porque Kampeter é um dos mentores da ideia de inscrever um limite do défice na Constituição. Precisamente, o motivo que levou à tensão entre Luís Amado e José Sócrates.
O jornal i chegou mesmo a noticiar no sábado que Luís Amado estava novamente perto da saída, algo que foi prontamente desmentido pelo primeiro-ministro, José Sócrates. No entanto, é inegável a crispação existente entre Amado e o primeiro-ministro, o que somado ao "cansaço" do ministro (revelado em Setembro) poderia significar a primeira baixa do segundo Governo de Sócrates.
Apesar de o primeiro-ministro ter dito que "não vem daí mal ao mundo", uma das grandes desavenças está relacionada com a inscrição de um limite do défice na Constituição. Luís Amado defendeu a medida numa entrevista ao Diário Económico, tendo sido desautorizado dias depois em plena Assembleia da República. "Não sou favorável", disse Sócrates quando o líder do CDS, Paulo Portas, o questionou sobre a medida. O primeiro-ministro acrescentou ainda que esta colocava em causa "o dever do Estado", que ficaria incapacitado de responder a "situações excepcionais".
Já antes, o líder parlamentar do PS, Francisco Assis, havia recusado a ideia, tal como um dos seus "vices", Sérgio Sousa Pinto, que rotulou a declaração de Amado de "infeliz".
Numa semana horribilis, Amado viu ainda o PS aprovar um voto de condenação a Israel no Parlamento, ao lado de Bloco de Esquerda e PCP, os mesmos que criticaram a benevolência do MNE para com o Estado hebraico. Esta não é a primeira vez que Luís Amado está em dissonância de outros membros do Governo neste mandato. Já no final de 2009, o MNE e o ministro da Defesa, Santos Silva, falaram a duas vozes a propósito do reforço do contingente militar no Afeganistão.
Voltando à economia, Luís Amado defendeu que, com o limite de défice, haveria "uma reacção positiva dos mercados". A ideia já foi aplicada na Alemanha pela mão da chanceler Angela Merkel, do ministro das Finanças Wolfgang Schäuble e do vice-ministro das Finanças Stephen Kampeter.
Ao deslocar-se a Lisboa na quinta-feira, o vice-ministro alemão não se reuniu com o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos - que no dia seguinte era esperado na Conferência de Bilderberg em Barcelona -, mas sim Luís Amado, e terão debatido a situação económica e financeira da Europa.
Na passagem por Lisboa, Kampeter não esqueceu a questão do limite de défice na Constituição. Em entrevista concedida ao Expresso, após o encontro com Amado (e também Passos Coelho), Kampeter disse saber que "em Portugal há uma discussão política sobre o assunto" e lançou um desejo em jeito de conselho: "Para a Alemanha, que deu o primeiro passo, seria muito interessante que os outros a seguissem."