Mitsotakis. Quem é o homem que derrotou Alexis Tsipras?

Kyriakos Mitsotakis tem apelido de uma das mais importantes dinastias políticas gregas, mas o seu discurso é contra o nepotismo e a favor da meritocracia. Quer ficar na história como um reformista.
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Tem um discurso contra o populismo, o clientelismo e o nepotismo e promete não levar familiares para o governo porque "as práticas do passado não podem continuar a ser toleradas". É visto como um verdadeiro reformista e quer mudar a cultura política da Grécia. Por outro lado, enfrenta também rejeição de parte do eleitorado porque advoga o mercado livre e a redução do Estado social. Quer desbloquear as privatizações, reduzir o peso do Estado e garantir que a Grécia contraia empréstimos ao mesmo custo que outros países europeus. Também planeia negociar com os credores para reduzir a meta de 3,5% de superavit primário anual da Grécia em 2020-2022, uma medida que permitiria reduções fiscais.

Kyriakos Mitsotakis nasceu em Atenas a 4 de março de 1968, filho mais novo do antigo primeiro-ministro e presidente honorário da Nova Democracia, Konstantinos Mitsotakis. Ou seja, com ascendência numa das mais poderosas famílias políticas gregas com raízes no século XIX, e subsidiada pelo Estado através da Fundação Konstantinos Mitsotakis. A irmã Dora Bakoyannis é deputada e foi ministra dos Negócios Estrangeiros entre 2006 e 2009. O seu sobrinho, Kostas Bakoyannis, foi eleito presidente da Câmara de Atenas e irá iniciar o mandato em setembro.

Nascido durante o tempo da junta militar, o pai exilou-se em Paris e levou consigo a família. Quando a democracia foi restaurada, em 1974, a família Mitsotakis regressou. Aos 18 anos, Kyriakos foi estudar para os Estados Unidos. Primeiro na Universidade de Harvard, onde se formou em Estudos Sociais, e depois com um MBA. Pelo meio, concluiu o mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Stanford. Nos anos 90, conciliou a formação académica com o início da carreira profissional, na banca, primeiro em Londres, depois em Atenas.

Kyriakos Mitsotakis é casado com Mareva Grabowski, com quem tem três filhos. O nome de Grabowski foi apanhado nos Paradise Papers: é um dos 130 gregos com dinheiro em offshores na investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação conhecida como Paradise Papers. A investigação, publicada no jornal Ethnos , mostra que Grabowski-Mitsotakis detinha 50% da Eternia Capital Management, uma empresa offshore sediada nas Ilhas Caimão que por sua vez administrava um fundo nas Ilhas Virgens Britânicas. Na altura, Grabowski rejeitou as alegações de transações suspeitas, tendo alegado ignorar a legislação específica aplicável nas Ilhas Caimão.

Não há provas de que Mareva Grabowski tenha infringido a lei ou de que Mitsotakis tenha estado envolvido, conta o jornalista Nikolas Leontopoulos da Investigate Europe no site EU Observer, mas há uma ligação com a Nova Democracia. O seu advogado é Stavros Papastavrou, um ex-dirigente de topo da Nova Democracia. Em 2012, enquanto lidou com a Eternia em nome de Grabowski, o advogado era diretor de Relações Internacionais do partido e negociador do governo em questões relacionadas com os paraísos fiscais.

Nos últimos 16 anos Kyriakos dedicou-se à vida política. Estreou-se na campanha da Nova Democracia em 2000, mas só quatro anos depois foi eleito deputado. Em 2013, o primeiro-ministro Antonis Samaras nomeou-o ministro da Reforma Administrativa, cargo que ocupou até à vitória do Syriza há um ano, tendo regressado ao Parlamento.

No início de 2016 é eleito líder da Nova Democracia, tendo ganhado ao líder interino Vangelis Meimarakis. Rapidamente se atirou ao primeiro-ministro Alexis Tsipras, a quem chamou mentiroso. Uma semana depois de Mitsotakis ter sido eleito líder da Nova Democracia, o partido surgiu como o mais popular do país, e não mais saiu dessa posição, relegando o Syriza para segundo.

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