"Morte, violação ou boca de palhaço?" Perante a abordagem, as raparigas não hesitam em escolher a última opção. E zás, num ápice, são esfaqueadas dos lábios às orelhas. O gangue "boca de palhaço", não perdoa e já deixou marcas em Lisboa, Algarve e Santarém. Os ataques mais recentes foram no Bairro Alto e no Largo Camões. Isto, se fosse verdade. Mas na realidade, tudo não passa de um mito urbano que nasceu em 1990, com o movimento dos hooligans, em Inglaterra..Esta mensagem, que segundo a PSP "visa provocar o pânico", consta de um e- -mail que circula há meses pelas caixas de correio electrónicas e que nos últimos tempos tem atingido maiores proporções e mais alarmismo. Este sentimento aumenta à medida que o conteúdo do e-mail vai sendo actualizado. O último que chegou ao DN relata a mesma situação, mas desta vez no Largo Camões, um local que ainda não tinha sido referenciado..A PSP tem recebido tantos pedidos de esclarecimento sobre relatos como este que não é "possível quantificar os mesmos". Em todos os pedidos de esclarecimento, o Departamento de Investigação Criminal da PSP verificou a veracidade dos conteúdos dos e-mail e concluiu "não existir qualquer fundo de verdade nos mesmos". Nem em relação ao do gangue "boca de palhaço", nem a nenhum outro (ver topo da página)..No entanto, de acordo com o comissário Paulo Flor, da Direcção Nacional da PSP, "a proliferação de e-mails [a principal forma de difusão deste tipo de mensagem] faz com que alguns mitos urbanos tomem grandes proporções e levem as pessoas a pensar que aquilo corresponde mesmo à realidade"..Ao DN, a psicóloga Teresa Andrade, diz que "os mitos sempre existiram e continuarão a existir e, em muitos casos, acabam por simbolizar uma luta entre o bem e o mal". Quando se acredita neles (são pessoas mais frágeis que os interiorizam) vence o mal. Quando se tentam racionalizar é o bem que triunfa..Segundo esta responsável, "a humanidade precisa dos mitos para encontrar sentido no que não compreende". E exemplifica: "Quando não se sabia porque é que o sol nascia e se punha todos os dias, dizia-se que era devido à intervenção divina que nos enviava a noite como forma de punição pelos nossos pecados e o dia significava uma remissão". Esta teoria, diz, é válida hoje para qualquer tipo de situação para a qual a ciência não tem explicação. "Os mitos dos nossos dias continuam repletos de coisas para as quais não se encontra explicação, mas revestidos de um look mais avançado" .Recordando que, o avanço tecnológico contribui para a difusão dos mitos urbanos, Teresa Andrade, não teme pelos efeitos que algumas mensagem de conteúdo tenebroso venham a afectar as novas gerações. E justifica: "Se os mais novos têm acesso a muita informação má, também têm ao seu alcance meios para a investigar e descodificar de forma racional." Quanto ao objectivo de quem difunde a informação, a psicóloga diz que "há quem tire dividendos com assuntos como a gripeA, que como está a ser abordada já é um mito urbano".