Mitos e verdades
De acordo com o dicionário de sinónimos da Porto Editora, mito significa alegoria, enigma, fábula, lenda, mistério, quimera, utopia. Vem isto a propósito da queixa do primeiro-ministro pelo facto de ser objeto de várias más interpretações sobre as coisas que diz. Já com os motores da pré-campanha eleitoral a funcionar, Pedro Passos Coelho defendeu o regresso dos que emigraram. Os jornalistas, vislumbrando uma aparente contradição no discurso do chefe do governo, confrontaram-no. "Mito urbano", lamenta-se - ironias do destino de um primeiro-ministro que, há não muito tempo, apelava aos portugueses que fossem "menos piegas" - garantindo que nunca incentivou ninguém a emigrar. Pois não foi mito nem foi lenda, aconteceu. Em dezembro de 2011, Passos Coelho sugeriu aos professores desempregados - e muitos eram jovens - que emigrassem para Angola ou para o Brasil para fugirem à falta de trabalho em Portugal. Não era isto que queria dizer? Talvez. Mas a verdade é que o disse. Está escrito e está gravado. Pedro Passos Coelho, como já fez questão de dizer noutras ocasiões, "não é um cidadão perfeito". É natural, a perfeição não existe e o erro faz parte da natureza humana. Daí que, em vez de atirar culpas para cima de quem interpreta ou reproduz, talvez não tivesse ficado mal ao primeiro-ministro, em vez do queixume e da pieguice, um pedido de desculpas a todos aqueles para quem a emigração forçada não foi fábula nem quimera. A verdade é que, não só mas também, foi à custa dos que saíram que a taxa de desemprego baixou - mais de 400 mil portugueses nos anos da troika. E a interrogação que fica é a de saber, tanto mais que outros no governo PSD-CDS o fizeram sem qualquer reprimenda pública, se as afirmações de 2011 foram mesmo um lapso ou uma estratégia pensada. Uma coisa é certa: mito é coisa que não existe. Já as palavras de Passos Coelho, essas, estão escritas na pedra.