Mísseis soviéticos, chamada de aviso: ficheiros de JFK não calam teorias
Oficialmente foi Lee Harvey Oswald, mas podem ter sido os cubanos, ou os russos, ou a máfia, ou até a CIA ou o FBI. As teorias sobre o assassínio de John F. Kennedy, em Dallas, a 22 de novembro de 1963, são mais do que muitas, mesmo passados 54 anos sobre uma morte que chocou a América e o mundo. Agora, com o presidente Donald Trump a autorizar a divulgação de grande parte dos documentos ainda classificados, ficámos a saber que os americanos recearam que com a morte de JFK um general soviético "irresponsável" lançasse um míssil contra os EUA, que um jornal local britânico recebeu uma chamada minutos antes do crime a alertar para "grandes notícias" vindas dos EUA e que o FBI fora alertado para as ameaças à vida de Oswald. Nada de bombástico, portanto, confirmando a ideia de que os ficheiros não acabarão com as teorias da conspiração. Pelo contrário.
O governo autorizou a abertura de 2800 ficheiros, mantendo 300 classificados. Trump defendeu o direito do público a estar "informado", mas acabou por ceder à pressão da CIA e FBI para manter alguns documentos secretos.
Em 1992, o Congresso ordenou que todos os registos ligados à investigação à morte de JFK fossem desclassificados, dando como limite 26 de outubro de 2017. No dia 22, o presidente Trump confirmou que ia autorizar a divulgação dos documentos. "De todos os presidentes desde 1963, este é o que menos se vai preocupar com a divulgação de documentos que prejudiquem a CIA ou o FBI", explicou então ao The New York Times o historiador presidencial Michael Beschloss. Trump nunca escondeu a desconfiança pelas duas agências secretas americanas. Mas desta vez não as enfrentou.
Trump ajudou ele próprio a alimentar as teorias da conspiração durante a campanha presidencial, ao sugerir que o pai do rival Ted Cruz, de origem cubana, esteve envolvido na morte do ex-presidente.
Nos ficheiros agora divulgados, um dos aspetos que mais curiosidade está a despertar é a chamada recebida a 22 de novembro de 1963 por um repórter do Cambridge Evening News a alertar para entrar em contacto com a embaixada americana em Londres por causa de "grandes notícias" vindas do outro lado do Atlântico. Um memorando da CIA enviado ao diretor do FBI cita os serviços secretos britânicos e sublinha que segundo os cálculos destes, a chamada foi feita 25 minutos antes dos disparos contra JFK.
Noutro ficheiro ficamos a saber que o FBI fora avisado de que queriam matar Oswald. "Notificámos o chefe da polícia [da ameaça] e ele garantiu que Oswald iria receber proteção suficiente [...] Mas não foi assim", lê-se no documento assinado por J. Edgar Hoover, o diretor do FBI a 24 de novembro de 1963.
Um ficheiro com documentos da CIA relata como o embaixador cubano em Washington reagiu com "visível felicidade" à morte de JFK. Anos mais tarde, numa visita a Cuba em 1978, investigadores da Congresso receberam, no entanto, a garantia de Fidel Castro de que o seu país não esteve envolvido.
Que pouco mais de um mês antes da morte de JFK, Oswald esteve na Cidade do México já se sabia. Mas os ficheiros agora desclassificados mostram que o ex-marine não só se encontrou com o cônsul soviético Valeriy Vladimirovich Kostikov, como revelam que a CIA considerava o diplomata membro do Departamento 13, uma unidade "responsável por sabotagens e assassínios".
O mito de Kennedy
Jovem, elegante, bom orador, Kennedy conquistou o coração dos americanos, fascinados também pela sua mulher, Jackie, e pelos filhos pequenos - com Caroline e John John a deixarem-se fotografar com o pai na Sala Oval. Talvez por isso a morte do presidente, aos 46 anos, e a meio do mandato, tenha causado tanto choque, com os media na altura a descreverem cenas de choro e histeria coletiva.
Atingido a tiro quando desfilava pelas ruas de Dallas, com Jackie e o governador do Texas, John Connally, JFK acabaria por morrer no hospital. A imagem da primeira-dama, de tailleur cor-de-rosa, debruçada sobre o marido ferido dentro do carro ficou para sempre na memória, tendo a história do presidente inspirado inúmeros documentários, filmes e séries de TV. Era o mesmo tailleur ainda manchado de sangue que Jackie usava, horas depois quando no Air Force One o vice-presidente Lyndon Johnson jurava sobre a Bíblia, tornando-se no 36.º presidente dos EUA.
Pouco depois de os tiros soarem, Lee Harvey Oswald, um antigo marine que desertara para a União Soviética antes de regressar aos EUA, era detido. Mas nunca foi julgado, tendo sido abatido por Jack Ruby, um dono de um clube de striptease ligado à máfia e aparentemente indignado com a morte de JFK.
Este mistério em torno do assassínio do 35.º presidente dos EUA, tem alimentado toda a espécie de teorias. E apesar de a Comissão Warren, que na altura analisou o assassínio, ter concluído que Oswald agiu sozinho, em 2013 uma sondagem revelava que meio século após a morte de JFK, 61% dos americanos ainda acreditavam que outros estiveram envolvidos no crime.
"Temos de compreender que nunca haverá uma explicação para o assassínio de Kennedy que agrade a toda a gente", afirmou Beschloss.