Missão impossível
Nada fazia prever que, após o anúncio feito, em Abril de 2002, pelo ex-primeiro-ministro António Guterres, de que Faro seria, depois de Coimbra, a próxima Capital Nacional da Cultura em 2004, o processo iria ser tão longo e penoso. Muitos contratempos e vicissitudes marcaram o evento desde a primeira hora, a começar pela grande sala de espectáculos que se impunha para a ocasião - o Teatro Municipal de Faro, anunciado em Maio de 1999, com pompa e circunstância, pelo ex- -ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, muito antes de estar assegurada a conquista de FCNC. O primeiro obstáculo surgiu em Março de 2002, quando, já com o novo Governo PSD chefiado por Durão Barroso e com um presidente também social-democrata, José Vitorino, à frente da Câmara de Faro, foi denunciada a falta de fontes de financiamento para o projecto. Oito meses depois, ao lado do então responsável pela pasta da Cultura, Pedro Roseta, numa cerimónia em Faro, o edil confirmava que "Faro não pode ser Capital Nacional da Cultura em 2004, porque as obras do novo equipamento só vão estar prontas em finais de 2003".
Em Janeiro de 2003, ainda sem se saber se o Governo aprovaria ou não Faro como CNC, José Vitorino reconhecia ao DN ser difícil a programação começar antes do primeiro trimestre de 2005, devido aos atrasos nas obras do teatro. E em Novembro do mesmo ano, numa visita posterior ao Algarve, Pedro Roseta adiantava que só "depois da avaliação do processo Coimbra é que o Governo, em conjunto, tomará uma decisão". Foi preciso esperar por finais de Maio de 2004 para que Durão Barroso anunciasse oficialmente a escolha da cidade e também da figura convidada para liderar o processo - o lisboeta António Lamas, que passados cinco meses viria a ser substituído pelo algarvio António Rosa Mendes.
A partir daqui, foi um caminhar difícil, primeiro devido à falta de instalações para que a estrutura de missão pudesse iniciar o seu trabalho, depois em virtude de algumas das principais instituições culturais algarvias terem batido com a porta. Agravaram o processo, nos últimos três meses, os cortes orçamentais do Ministério da Cultura, num avanço e recuo constantes que levou a maioria dos programadores a regressar a Lisboa por falta de remuneração. Até ao momento, ainda só lhes foi paga uma primeira fatia das avenças em atraso.