Ministro engana-se nas datas ao acusar UE de resposta "vergonhosa"

Eduardo Cabrita lamentou atrasos, dizendo que foi Marrocos primeiro a enviar ajuda, quando já havia aviões espanhóis e franceses no terreno
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Eduardo Cabrita disse ontem em Bruxelas que os incêndios são "tema prioritário" em Portugal e classificou como uma "vergonha" a resposta dos países europeus ao pedido de auxílio durante os incêndios de Pedrógão Grande. Mas, no entanto, acabou por se baralhar nas datas quando se referiu a atrasos na chegada de ajuda proveniente da União Europeia.

O ministro da Administração Interna falava perante uma plateia de agentes de proteção civil europeus, na qual estava também o comissário Christos Stylianides, titular da pasta da Ajuda Humanitária e Gestão de Crises. Este tem sido um defensor de um sistema de proteção civil de coordenação europeia. Eduardo Cabrita também é um defensor deste mecanismo, que já existe mas que não dispõe de meios. Ao procurar ilustrar com exemplos, para vincar a importância desse "mecanismo europeu de resposta a riscos de grande dimensão", o ministro fez aquilo que deveria ser um relato do pedido de socorro europeu, durante os incêndio de Pedrógão Grande.

"Pedimos apoio bilateral a Espanha, França e Itália. Mas foi vergonhoso para a Europa. Na primeira semana, o único país que nos ajudou foi Marrocos. Só uma semana depois recebemos apoio dos nossos amigos europeus", lamentou.

Porém, nos registos do Centro de Coordenação da Resposta de Emergência consta o momento em que "a Autoridade Nacional Portuguesa de Proteção Civil ativou o Mecanismo de Proteção Civil da União, solicitando um módulo de combate a incêndio aéreo", composto por dois aviões Canadair. No pedido lançado "no dia 18 de junho", às 04h21, hora de Lisboa, é solicitado "um módulo de combate a incêndio aéreo para responder à emergência". E, em menos de três horas, às 07h01, "França ofereceu um módulo voluntário de emergência, composto por dois Canadair e um avião de reconhecimento", que era esperado ao final da tarde desse mesmo dia - notícias de dia 19 já davam conta da presença destes aviões em território nacional. Entretanto, já dois aviões espanhóis operavam, desde o final da manhã, em Pedrógão Grande. Os aviões marroquinos eram, na realidade, esperados na terça-feira, dois dias depois da chegada de meios de países europeus.

Contactado pelo DN, o gabinete do ministro disse que Eduardo Cabrita estava, de facto, a referir-se à ausência do mecanismo europeu de Proteção Civil na altura e que estava acompanhado pelo comissário da Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, que estava sentado à sua frente. Eduardo Cabrita frisou que os alvos desta estrutura não serão apenas os "incêndios florestais". Durante a sua intervenção, o ministro deu também exemplos de situações a que o país está sujeito como "as inundações, risco químico ou epidemias", que podem encontrar resposta nesse mecanismo de proteção, coordenado numa base europeia, agora que o "exemplo português" alterou os modelos de "perceção do risco" na Europa.

"Foi o exemplo português que motivou a Comissão Europeia a adotar, num tempo recorde, a proposta de um novo mecanismo europeu de proteção civil", disse o ministro, tendo também aproveitado para afirmar, em Bruxelas, que "em Portugal, este é um tema prioritário".

"Se perguntarem agora a qualquer um em Portugal, a grande prioridade já não é o défice, já não é a dívida publica. Se perguntarem, dirão que é a proteção civil [e] evitar que volte a acontecer algo como no ano passado", disse o ministro, acrescentando que "pare isso" Portugal "precisa do apoio" europeu.

Porém, o ministro salientou que, este ano, "no início de Março, é possível já dizer que se está a fazer muito mais do que em qualquer ano", tendo ainda manifestado o "firme compromisso" de avançar para a "contratação imediata por ajuste direto dos meios aéreos", em "qualquer momento", em caso de "condições excecionais que o justifiquem".

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