Ministro culpa aumento do emprego jovem pela quebra nas candidaturas ao superior
Nem despacho de vagas, nem quebra nas notas dos exames de Matemática, nem fatores demográficos. Para o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, o que explica a redução "relativamente baixa" de cerca de três mil candidatos (2956) na primeira fase de acesso ao ensino superior, que terminou com 49 624 inscritos, é "o aumento brutal do mercado de trabalho de relativas baixas qualificações, particularmente induzido pelo crescimento do turismo". Uma evolução, diz, que torna ainda mais urgente a diversificação do tipo de cursos oferecidos nas instituições.
Em declarações ao DN, Manuel Heitor cita dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), segundo os quais, entre jovens com menos de 24 anos que concluíram o ensino secundário, "o emprego aumentou quase 40%" nos últimos anos. Hoje, são cerca de 165 mil", diz, acrescentando que alguns destes jovens "nem sequer se inscrevem nos exames" do ensino secundário antes de tentarem a sua sorte no mercado de trabalho.
Se o critério for apenas o dos estudantes que se candidatam ao ensino superior face aos que realizaram os exames nacionais, defende, a média de candidatos deste ano continua a estar "num dos patamares mais altos" de sempre. "Ficou nos 57%. No ano passado, que foi o mais alto de todos, atingiu os 58%, sendo que durante os anos da crise essa percentagem foi muito baixa", recorda. "No entanto, neste ano houve uma redução em 2700 no número de estudantes que se inscreveram nos exames nacionais, o que obviamente teve um impacto muito grande", defende.
Estes dados levam também o governante a afirmar que a quebra nas candidaturas "não tem nada que ver" com as alterações introduzidas no despacho de matrículas deste ano, em que instituições das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto sofreram um corte de 5% nas vagas, em benefício das restantes regiões do país. "Há uma redução de candidatos mas mantêm-se os patamares mais altos face aos que se inscreveram nos exames."
Facilitar a condição de trabalhador-estudante
Para o ministro, a maior procura dos trabalhadores com o ensino secundário ou menos "tem coisas positivas e coisas negativas". Se, por um lado, é um movimento "associado a uma dinâmica económica" interessante para o país; por outro, "implica claramente a evolução para um novo perfil de estudante e uma necessidade absoluta de conjugarmos as estratégias das instituições do ensino superior com uma população de estudantes que trabalham ao mesmo tempo". "Não é o perfil típico das instituições do ensino superior, que se especializaram sobretudo em jovens da formação inicial", considera. "Muitas instituições não têm um único curso noturno."
A esse nível, Heitor defende que o governo está já a apontar o caminho, nomeadamente através do novo regime legal de graus e diplomas que, entre outras medidas, como a possibilidade de os politécnicos atribuírem doutoramentos, vêm "alargar a oferta de cursos curtos", tanto nos ciclos iniciais como no que respeita pós-graduações.
No entanto, admite, mexer na oferta não será o suficiente para conseguir que mais jovens conjuguem o trabalho com o estudo. "Existe a necessidade de aumentar a ação social escolar, porque muitos optam por ir trabalhar porque também têm necessidades financeiras", ilustra, acrescentando que é preciso "aprofundar a relação com os empregadores, para que estes também tenham a responsabilidade social de garantir que estes jovens vão estudar".
"Apesar do mercado de trabalho, não podemos abdicar de qualificar mais a nossa juventude", resume, lembrando que, "em muitas zonas da Europa, os jovens [que terminam o secundário] antes de estudar vão trabalhar. Isso não tem mal nenhum", defende. "Temos é de garantir que eles voltam."