Ministro critica filme "Pantera Negra" pela representação do exército francês
O ministro da Defesa francês condenou este domingo o mais recente filme da saga Pantera Negra - "Black Panther: Wakanda para Sempre" -, que mostra tropas francesas a serem apanhadas a tentarem roubar recursos pertencentes ao fictício reino africano de Wakanda.
"Condeno veementemente esta representação falsa e enganosa de nossas forças armadas", escreveu Sebastien Lecornu no Twitter, respondendo a um clipe do filme de novembro partilhado por um jornalista.
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A cena gira em torno de um grupo de soldados franceses algemados e levados para uma reunião da ONU, embaraçando a embaixadora de Paris neste organismo, depois de terem sido apanhados numa missão secreta numa base wakandana no Mali.
O jornalista Jean Bexon, que partilhou o clipe do filme, escreveu: "Os malvados mercenários franceses que operam no Mali estão vestidos como soldados da Operação Barkhane", uma missão militar da vida real.
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A França é particularmente sensível à sua imagem na África Ocidental após juntas militares no Mali e no Burkina Faso terem exigido a saída das tropas francesas, enviadas para a região do Sahel desde 2013 para combater os jihadistas.
"Estou a pensar e honrar os 58 soldados franceses que morreram defendendo o Mali, a seu pedido, diante de grupos terroristas islâmicos", escreveu Lecornu.
O Ministério da Defesa disse à AFP que a França não estava a pedir a retirada ou censura de uma obra de arte. Mas "nenhum revisionismo pode ser permitido sobre as recentes ações da França no Mali: intervimos a pedido do próprio país para combater grupos terroristas armados, longe da história contada no filme, ou seja, um exército francês vindo para pilhar recursos naturais", acrescentou o ministério.
Fontes próximas de Lecornu disseram que ele ficou "zangado ao ver o filme", que foi lançado quando a Rússia parece estar a conseguir colocar as populações da África Ocidental contra a França e as suas intervenções militares.
O Mali pediu ao grupo mercenário Wagner da Rússia para reforçar o seu exército assim que as tropas francesas partirem - embora a junta continue a negar a contratação de combatentes - e tem havido especulações de que o Burkina Faso pode seguir-lhe o exemplo.
Na internet, cartoons divulgados por contas e influenciadores pró-Rússia mostraram a França enviando esqueletos e uma cobra gigante para "conquistar toda a África", de acordo com vídeos analisados este mês pela AFP Factcheck.
Homens brancos armados e com fardas de combate do Grupo Wagner são vistos a resgatar soldados que carregam bandeiras do Mali, Burkina Faso e Costa do Marfim. "Enfrentamos um rolo compressor que brinca com as perceções das pessoas locais que estão em dificuldades existenciais" devido à guerra e à fome, reconheceu uma fonte militar francesa no início deste mês.
Em novembro, o presidente Emmanuel Macron enfatizou que atualmente a "influência" é uma "prioridade estratégica".