Ministério Público pediu condenações e valorizou escutas
Ao repisar os termos da acusação sobre os 24 arguidos, o procurador do Ministério Público (MP), Gonçalo Silva, pediu a condenação de todos eles, concedendo apenas benefício no julgamento de António Eustáquio, árbitro que, tal como o observador João Mesquita, foi dos únicos arguidos a falar em tribunal.
De resto, enfatizou a importância das escutas telefónicas, concluindo que os réus Valentim Loureiro e José Luís Oliveira tinham por ambição a subida de divisão do Gondomar, "por todos os meios possíveis". Dada a produção de prova, sustentou o magistrado, o presidente da câmara de Gondomar e, na altura, da Liga, da Junta Metropolitana do Porto e da Metro, Valentim Loureiro, "era cúmplice moral e material destes crimes".
Gonçalo Silva relevou também o entendimento entre o antigo líder do Conselho de Arbitragem da FPF, Pinto de Sousa, e José Luís Oliveira (ex-presidente do Gondomar e vice da autarquia) no sentido de serem nomeados 23 árbitros para a época 2003-04 "com o intuito de beneficiarem" o clube.
Dessa permeabilidade resultava a sua eleição para o Conselho de Arbitragem, graças ao apoio da Liga, protagonizado por Valentim Loureiro. Ainda na versão do MP, Pinto de Sousa usufruia de acesso aos corredores do poder, como, por exemplo, a viagem a Moçambique, na comitiva oficial de Durão Barroso. Daí Gonçalo Silva supor que, "se não tivesse havido a intervenção" de Valentim, "os crimes não teriam decorrido desta forma e fica ainda por saber se teriam mesmo chegado a ocorrer".
Satisfeito, o advogado dos Dragões Sandinenses, Coelho dos Santos, criticou a "actividade fraudulenta, as ligações perigosas" e as pontuações e promoções que permitem a um árbitro "passar de 400 euros mensais para receber sete mil". Na óptica do causídico, a FPF também deveria estar a ser julgada.
Durante mais de três horas e meia, Artur Marques, defensor de José Luís Oliveira, sublinhou que o processo nasceu de uma "falsidade grosseira, de escutas ilegais, de facciosismo". Aludiu à falta de provas e a uma investigação vocacionada contra Oliveira como "alter-ego de Valentim". Enfim, notícias de primeira página, "mas que não contêm uma linha para aplicação de uma pena". |