Minha querida praia da Rocha

Novas estruturas, melhores vias rodoviárias e mais oferta na restauração, hotelaria e lazer contribuem para que Portimão registe taxas de ocupação a rondar os 100%. O DN foi à procura de famílias que façam do local um retiro obrigatório nos últimos 25/30 anos e constatou que também há críticas. Mas o sol, o extenso areal e a água limpa ganham de goleada.
Publicado a
Atualizado a

"A grande diferença? Bem, há 25 anos tinha lugar para estacionar o carro, agora é quase impossível." O número de turistas em Portimão tem aumentado exponencialmente, na linha do registado a nível geral em todo o Algarve - 18 milhões de dormidas em 2016, um valor recorde -, pelo que não admira o desabafo da família Reis. Na lista do que mudou para melhor e para pior, contudo, não há volta a dar, pelo que a Praia da Rocha, a exemplo do que se verifica em todos os locais de veraneio espalhados pela província mais a sul do país, continua a ser local privilegiado de férias para milhares e milhares de visitantes, quer estrangeiros quer nacionais. Nos meses mais quentes, a população é superior a 200 mil, quadruplicando o número de habitantes da cidade (46 mil) no restante período do ano.

"Adoro esta praia! O enorme espaço do areal permite que haja lugar para todos e Portimão ainda não perdeu o charme algarvio", destaca a família Moreira, emigrante em Paris e adepta incondicional dos encantos da Rocha, que frequenta há cerca de 25 anos. Mas não são só o sol, o tempo quente e as águas límpidas e convidativas a congregar as vontades de quem não troca o Algarve por nada deste mundo. Novas estruturas, melhores condições e uma maior e mais diversificada oferta encabeçam o rol das mudanças, como explica José Luís Taborda Carvalho, cliente assíduo da região há 37 anos. "As alterações são significativas, desde logo com as vias rodoviárias, que tornaram a viagem muito mais cómoda e rápida." Este lisboeta residente em Linda-a-Velha frequentou a praia Verde, depois Ferragudo e agora radicou-se na Praia da Rocha. "Gosto de uma boa praia, bom sol e água limpa", prossegue, com uma justificação comum a milhares de vizinhos, tal como a já citada família Reis, composta por José, Antónia e quatro filhas, que durante este período trocam o Porto pelo Algarve. "No Norte também temos praias, mas o tempo é mais frio e mais instável, ao passo que aqui existe a garantia de muito sol e calor constantes."

O calçadão na Rocha (ou passadiço, como alguns lhe chamam), o saneamento e a oferta dos concessionários das praias são rotulados de melhoramentos positivos das últimas décadas, a par dos passeios pelo mar, dos parques temáticos e da constante animação, tanto a nível de bares e discotecas como de eventos e festas mais populares espalhados um pouco por todo o lado. "Muita gente? Estamos em agosto, temos de ser razoáveis e tolerantes", comenta Abel Moreira, enquanto a mulher, Amélia, enfatiza a "boa comida". Seja como for, os preços disparam nesta altura do ano. "Às vezes somos mal atendidos e paga-se mais caro na restauração e comércio alimentar", queixa-se o patriarca da família Reis. Os reparos, aliás, não ficam por aqui, sendo apontado um sem-número de exemplos que não têm acompanhado, segundo estes turistas, o progresso dos últimos anos. "Falta melhorar e há muito por fazer, dos parques de estacionamento aos acessos às praias, à vigilância e à qualificação do pessoal da restauração, para além de pequenas obras de reparação em jardins e passeios", acrescenta Taborda Carvalho.

De uma forma mais vincada, os visitantes criticam os acessos à praia (longas escadarias para palmilhar) e a falta de iluminação de algumas zonas também junto à praia. "É muito complicado! Devia ser como em Albufeira, onde existe escada rolante. Veja o caso dos deficientes e dos carrinhos de bebés, que têm de dar uma enorme volta para chegar à praia. E sei que há um projeto de um elevador ou de uma escada rolante que continua na gaveta", atira José Reis. Por sinal, Vítor Matos, empresário há 33 anos no Algarve e proprietário do restaurante Âncora, em plena praia, confirma a existência desse projeto, "ainda à espera de aprovação", e sobre a escassa iluminação reconhece que "o passadiço tem sítios demasiado às escuras", lembrando dispor de "iluminação própria", que pagou do seu bolso. Aproveitando o balanço, Vítor Matos mostra-se satisfeito com a "proteção, mais polícia e muitos melhoramentos na praia". A sua concessão, de resto, está devidamente equipada em termos de assistência médica, um tema que não escapa ao olhar atento da família Reis, crítica em relação ao tempo que o pessoal do INEM leva a chegar à praia em caso de alarme, aludindo, de novo, à dificuldade dos acessos. Um posto médico temporário na praia é uma das soluções preconizadas para evitar males maiores.

Mais vigilância

Sobre a segurança, as opiniões divergem: Taborda Carvalho reclama "mais vigilância para evitar o vandalismo, sobretudo à noite", e tornar a Praia de Rocha "uma opção de maior qualidade", enquanto os Moreiras sentem-se tranquilos com "o efetivo policial" e com o clima pacífico que os rodeia. Sendo emigrantes, sentem aqui e ali uma "ligeira discriminação", mas sem razão para grandes queixas. Ao fim e ao cabo, "Portimão e a Praia da Rocha vivem do turismo, e mal seria se não fôssemos bem tratados".

No confronto de ideias no deve e haver entre os progressos dos últimos 25/30 anos e aquilo que falta ainda desenvolver, há uma ideia transversal a todos os comentários: "Minha querida Praia da Rocha!" Por mais gente que apareça - agora são mais de 200 mil, nos finais dos anos 1980 seriam à volta de metade -, por mais problemas que surjam numa simples ida a um restaurante ou a um supermercado, o sol e a praia ganham de goleada. "Chapéus-de-sol? Não, aqui não precisamos de vir para a areia guardar lugar às seis ou sete da manhã. Há espaço para todos."

ENTREVISTA

Há quatro anos à frente da Câmara de Portimão, a autarca do PS orgulha-se de estar a mudar o paradigma de uma cidade que quadruplica o número de habitantes nos meses de verão. Depois de recuperada a confiança das pessoas e dos empresários, aponta a investimentos que aumentem a qualidade de vida do residente e do turista.

Como se prepara uma cidade que durante os meses de verão quadruplica o número de habitantes?

De várias formas. Acautelando a limpeza, o saneamento básico, o fornecimento de água. Importa que, chegados ao verão, tenhamos qualidade. Depois, através de um programa cultural, de atratividade, a cargo da autarquia e de empresários que animam a noite, promovendo festas e espetáculos. Em termos de mobilidade, procuramos criar condições para que os acessos sejam mais fáceis. Temos dois grandes parques de estacionamento na zona de Alvor, e aqui, na rotunda da Marina, um outro para centenas e centenas de viaturas. São investimentos não monetários, mas sim de disponibilidade de espaço, de trabalho dos nossos operacionais e das forças e serviços de segurança, com um reforço que vamos acompanhando na área da GNR, SEF, PSP e Proteção Civil, para que não sejamos confrontados com situações que manchem este destino turístico de eleição.

Está satisfeita com as estruturas, com a oferta...

Deixe-me dizer uma coisa extraordinária. Tínhamos três hotéis de 5 estrelas - Penina, Alvor Praia e Algarve Casino - e agora duplicámos a oferta: o Grupo Pestana está a construir o maior cinco estrelas da cadeia, há um outro da responsabilidade do Hospital Privado do Alvor e mais um no autódromo. Para atestar, segundo os dados do mês passado da AHETA, as maiores subidas de volume de vendas por zonas geográficas foram em Lagos/Sagres e Portimão/Praia da Rocha. E a maior taxa de ocupação é aqui, com 92,8%. Até ao ano passado, não podíamos fazer investimentos, mas agora estamos a melhorar a imagem da cidade, com obras de pavimentação, novos espaços e jardins. Vamos mudar o paradigma, nós e os empresários que olham para Portimão de outra forma. Acabou a ideia dos grandes prédios e mamarrachos. Agora, vejo apetência em construir coisas pequenas, mas de grande dignidade.

Tem sido feito muitas críticas à falta de iluminação na Fortaleza e os acessos à praia...

A Fortaleza não é nossa, não podemos intervir, é da Administração Portuária de Sines e Algarve. Mas a boa notícia é que já está no programa Revive [recuperação e valorização de edifícios do património histórico e cultural], através do qual os empresários se podem candidatar a dispor de uma área de excelência. E acredito que há muitos interessados. Em relação aos acessos à praia, temos dois espaços para carrinhos e cadeiras de rodas, na entrada da Marina e em frente ao Hotel Júpiter. Mas estamos sensibilizados para que, logo que haja possibilidades, os elevadores ou escadas rolantes possam chegar à praia.

Durante estes quatro anos à frente da Câmara, o que mais mudou?

Sobretudo, mudou a confiança das pessoas. E isso é extremamente importante. Destaco a disponibilidade dos cidadãos, o movimento associativo e os empresários. Assumo que não tinha dinheiro nem fundos e a primeira preocupação foi restaurar a credibilidade do município. Havendo desconfiança, ninguém queria fazer negócios. Neste momento, o problema esta ultrapassado, as dívidas de curto e médio prazo foram renegociadas para longo prazo, através de programa estatal, e sabemos agora exatamente o que podemos fazer. Temos seis milhões por ano para investir, dois milhões para espaços públicos, temos a nossa vida organizada. Pagámos dívidas a todos os pequenos credores, até aos 50 mil euros, de uma só vez, num total de mais de 600 mil euros.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt