Relativamente à publicação da semana passada, "Páscoa, Ramadão e Pessach", esqueci-me de referir que a Páscoa Ortodoxa se realizou no passado fim-de-semana e por falta de espaço, não referi que as "pressões de abril" sobre o Secretário-Geral das Nações Unidas, também se enquadram neste momento ecuménico, que poderia no mínimo ter criado um ambiente mais propício para garantir abertura para a ajuda humanitária aos civis "entre a mira e a parede". Isto relativamente à Ucrânia.."Mimouna", trata-se também de uma celebração pascal muito específica, a das comunidades judaicas oriundas do norte de África, vulgo judeus-berberes. O responsável pela divulgação desta realidade chama-se Kamal Hachkar, através do filme-documentário "Tinghir-Jerusalem, les echos du mellah" (2012), uma verdadeira pedrada no charco positiva no processo identitário das comunidades amazighs do norte de África. O filme retrata o êxodo da comunidade judaica de Tinghir, no "Marrocos profundo" dos anos 50 e que tem na região Errachidia como "capital de distrito". Hachkar colocou Tinghir no mapa e também colocou em causa a narrativa judaica sobre o êxodo, já que a "arqueologia antropológica" que o roteiro seguiu, aponta para a existência de comunidades judaicas norte africanas de origem e não fruto da chegada dos expulsos da Terra Santa..É nesse sentido que a celebração desta "Páscoa Mimouna" ganha algum relevo no panorama norte africano e em particular em Marrocos, sobretudo após a assinatura dos Acordos de Abraão que marcam também a amizade e boas relações do reino com Israel. A origem do nome desta "Páscoa berbere judaica" tem várias versões e significados, mas o que importa reter é a colagem que é feita, a partir do exterior, entre estas celebrações e a do Yennayer (janeiro), o ano novo berbere e Norouz, o ano novo persa. Esta colagem é de certa forma importante e oportuna para as reivindicações amazighs, já que um dos seus cavalos de batalha é a consagração do ano novo amazigh enquanto feriado nacional. Por isso mesmo, não se dão ao trabalho em esmiuçarem a origem da terminologia, que tem uma versão árabe, onde Mimoun significa "oportunidade", já que este dia seria o mais propício à celebração de casamentos e na versão hebraica Emouna, que significa "crença", reafirmando a crença que Israel foi criada e entregue ao seu povo durante o corrente mês de Nisan e que será também num Nisan futuro que a verdade será revelada. Esta verdade, creio tratar-se da vinda do Messias..Importante elemento identitário no processo em curso da descoberta e resgate das origens e memórias dos homens e mulheres livres do.norte de África, é assim que se traduz amazigh, a celebração desta festa terá futuramente cada vez mais visibilidade, à imagem do Norouz persa dos últimos anos, constituindo-se assim em mais um instrumento cultural e identitário de pressão perante os poderes políticos árabes na região. Por outro lado, abril é tão importante para os autóctones do norte de África, como o é para a Esquerda política portuguesa, por via do que ficou conhecido por "Primavera Amazigh", a partir dos acontecimentos na Kabilya, região separatista no norte da Argélia, em 1980..Em resumo, Páscoa é quando um homem quiser!.Politólogo/Arabista .www.maghreb-machrek.pt.O Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.