Mimo regressa a Amarante em 2017

O festival, que entre sexta-feira e este domingo se estreou fora do Brasil, regressa de 21 a 23 de julho, avançou a organização
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"Já foi ao Mimo? Afinal o que é aquilo?" pergunta Bruno, vendedor de frutas de Amarante, quando começava o segundo dia do festival que entre sexta-feira e ontem teve a sua estreia em Portugal e fora do Brasil. A meio da tarde do último dia do Mimo, não parecia já haver quem não soubesse "o que é aquilo", talvez pela chuva de poesia que acabara de cair no largo S. Gonçalo, característica inalterada de todas as edições do festival no Brasil. Ou talvez o soubessem devido à música que, durante três noites, se fez ouvir junto ao rio Tâmega. Música como a que expressa a irreverência do "tropicalista" Tom Zé, o brasileiro que este ano se tornará octogenário e que na sexta-feira pôs Amarante a cantar clássicos seus como Nave Maria e Xique Xique. E quem ainda assim não desse pelo Mimo, haveria de notá-lo pela ocupação de igrejas como a de São Pedro, que ficou repleta para ouvir a guitarra portuguesa de Custódio Castelo, ou a de São Gonçalo, que ontem recebeu a estreia mundial do 2.º Concerto para piano e orquestra "Amarante", de António Victorino d'Almeida, tocado pela Orquestra do Norte e dirigido pelo próprio.

E se ainda assim não se souber o que é o Mimo, temos o próximo ano. A organização do festival, que nasceu na cidade brasileira de Olinda, já anunciou as datas de 2017: 21, 22 e 23 de julho. À hora do anúncio, onde foi ainda avançado que 20 mil pessoas terão passado pelo festival nesta primeira edição, nem Mário Laginha e Pedro Burmester, num concerto de dois pianos ou quatro mãos, nem os veteranos americanos Pat Metheny e Ron Carter tinham subido ao palco. Mas sobre Amarante já chovera poesia de Teixeira de Pascoaes - homem da terra -, Mário Cesariny, António Maria Lisboa ou Mário de Sá-Carneiro.

"Parecem notas de 500 euros", comentou um senhor que passava quando as centenas de papéis coloridos com poemas gravados começavam a cair. Não o disse por acaso. As pessoas atropelavam-se e empurravam-se, saíam do epicentro da atenção com as mãos cheias de poemas. Há uma senhora que não tem tempo a perder, responde que é da zona do Porto e nada mais, reúne algumas crianças, cheias de Cesariny e Pascoaes na mão, e continua a labuta.

"Acho que deviam declamar pelo menos um ou outro poema antes" da chuva, alvitra Joaquim, amarantino que ganhou o gosto pela poesia ao ouvir João Villaret declamá-la. "Estes são poetas muito introspetivos, não são fáceis..."

Luís Costa, arquiteto de São João da Pesqueira, apanhou "Comutador", de António Maria Lisboa, poeta que desconhece. Veio sobretudo para ver Pat Metheny e Ron Carter, e é um dos muitos que, por estes dias, fizeram com que a cidade atingisse "taxas de ocupação inéditas" na hotelaria , ao esgotar o alojamento num raio de quilómetros, anunciou a organização.

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