"Já foi ao Mimo? Afinal o que é aquilo?" pergunta Bruno, vendedor de frutas de Amarante, quando começava o segundo dia do festival que entre sexta-feira e ontem teve a sua estreia em Portugal e fora do Brasil. A meio da tarde do último dia do Mimo, não parecia já haver quem não soubesse "o que é aquilo", talvez pela chuva de poesia que acabara de cair no largo S. Gonçalo, característica inalterada de todas as edições do festival no Brasil. Ou talvez o soubessem devido à música que, durante três noites, se fez ouvir junto ao rio Tâmega. Música como a que expressa a irreverência do "tropicalista" Tom Zé, o brasileiro que este ano se tornará octogenário e que na sexta-feira pôs Amarante a cantar clássicos seus como Nave Maria e Xique Xique. E quem ainda assim não desse pelo Mimo, haveria de notá-lo pela ocupação de igrejas como a de São Pedro, que ficou repleta para ouvir a guitarra portuguesa de Custódio Castelo, ou a de São Gonçalo, que ontem recebeu a estreia mundial do 2.º Concerto para piano e orquestra "Amarante", de António Victorino d'Almeida, tocado pela Orquestra do Norte e dirigido pelo próprio..E se ainda assim não se souber o que é o Mimo, temos o próximo ano. A organização do festival, que nasceu na cidade brasileira de Olinda, já anunciou as datas de 2017: 21, 22 e 23 de julho. À hora do anúncio, onde foi ainda avançado que 20 mil pessoas terão passado pelo festival nesta primeira edição, nem Mário Laginha e Pedro Burmester, num concerto de dois pianos ou quatro mãos, nem os veteranos americanos Pat Metheny e Ron Carter tinham subido ao palco. Mas sobre Amarante já chovera poesia de Teixeira de Pascoaes - homem da terra -, Mário Cesariny, António Maria Lisboa ou Mário de Sá-Carneiro.."Parecem notas de 500 euros", comentou um senhor que passava quando as centenas de papéis coloridos com poemas gravados começavam a cair. Não o disse por acaso. As pessoas atropelavam-se e empurravam-se, saíam do epicentro da atenção com as mãos cheias de poemas. Há uma senhora que não tem tempo a perder, responde que é da zona do Porto e nada mais, reúne algumas crianças, cheias de Cesariny e Pascoaes na mão, e continua a labuta.."Acho que deviam declamar pelo menos um ou outro poema antes" da chuva, alvitra Joaquim, amarantino que ganhou o gosto pela poesia ao ouvir João Villaret declamá-la. "Estes são poetas muito introspetivos, não são fáceis...".Luís Costa, arquiteto de São João da Pesqueira, apanhou "Comutador", de António Maria Lisboa, poeta que desconhece. Veio sobretudo para ver Pat Metheny e Ron Carter, e é um dos muitos que, por estes dias, fizeram com que a cidade atingisse "taxas de ocupação inéditas" na hotelaria , ao esgotar o alojamento num raio de quilómetros, anunciou a organização.