Militares mais fortes, um rei doente e uma oposição à espreita
No trono desde 1946, não só o rei Bhumibol Adulyadej é o monarca com o reinado mais longo do mundo - sim, mais do que Isabel II, coroada rainha de Inglaterra seis anos mais tarde -, como é o único rei que a maioria dos tailandeses conheceram. Hoje, se a sua fotografia é visível em outdoors gigantes um pouco por todo o país, o próprio Bhumibol raramente aparece em público. Aos 88 anos, Bhumibol está doente. E a sua sucessão está a deixar nervosos os analistas que anteveem um aumento da instabilidade num país que na última década se dividiu entre os populistas fiéis ao ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra e o establishment representado pelos monárquicos e pelos militares.
No poder desde o golpe de 2014, os militares viram os poderes reforçados depois da aprovação da nova Constituição no referendo de dia 7. Maior teste à junta desde que derrubou a primeira-ministra Yingluck Shinawatra, a irmã de Thaksin, há dois anos anos, o escrutínio visava, segundo os militares, acabar com as divisões e dar um governo estável e limpo ao país. Mas para os críticos, não passa de uma manobra para travar a influência de Thaksin e garantir à junta o controlo sobre o processo político.
Aprovada com mais de 61% dos votos num referendo em que participaram 60% dos eleitores, a nova Constituição prevê que o país seja governado por um primeiro-ministro não eleito em caso de impasse político. Além disso, os membros do Senado também são nomeados pela junta, tendo lugares reservados para os militares. Caberá ao Senado supervisionar o trabalho dos deputados durante um período de transição de cinco anos. O governo saído das eleições de 2017 terá ainda de seguir o plano de desenvolvimento nacional para os próximos 20 anos traçado pelos militares. Caso contrário, a junta poderá intervir.
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"Como em qualquer eleição, há os que acharam os resultados favoráveis e os que não gostaram. No entanto, peço a todos que deixem de lado as diferenças e sigamos em frente juntos para enfrentar os desafios complexos que nos esperam", disse o primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha num discurso após o referendo. Entre esses desafios está o terrorismo, com uma série de explosões sucessivas a terem feito quatro mortos em locais turísticos esta semana. As primeiras suspeitas recaíram sobre os rebeldes que desde o início dos anos 2000 têm lutado por um Estado islâmico independente no Sul. Mas o governo veio depois falar em motivos políticos.
[citacao:Peço a todos que deixem de lado as diferenças e sigamos em frente juntos para enfrentar os desafios complexos que nos esperam]
Esta é apenas uma das ameaças à união da Tailândia. Único país do Sudeste Asiático a ter escapado ao domínio colonial, tem sido governado pelos militares desde 1947, com uns breves intervalos de governos democraticamente eleitos. Os números falam por si só: desde o fim da monarquia absoluta, em 1932, a Tailândia foi palco de 12 golpes de Estado militares.
Um dos poucos líderes civis foi Thaksin Shinawatra. O magnata dos media chegou ao poder em 2001, mas cinco anos depois os militares aproveitaram a sua ida aos EUA para a Assembleia Geral da ONU para tomar o poder, acusando-o de corrupção e nepotismo. Apesar do exílio, Thaksin continua influente através do seu partido, o Pheu Thai, cujos apoiantes, conhecidos como os "camisas vermelhas", protagonizaram manifestações por vezes violentas contra os "camisas amarelas", os militantes anti-Thaksin.
O Pheu Thai venceu as eleições de 2011, com Yingluck Shinawatra à frente. Afastada em 2014, acusada de abuso de poder, a empresária foi detida enquanto os militares assumiam o governo do país.
A economia tailandesa deverá crescer 2,5% este ano e 2,8% em 2017, segundo o Banco Mundial. Mas os ataques contra turistas e a instabilidade política podem ameaçar este crescimento. Visto como o "pai da nação" e muito amado pelos tailandeses pelo seu trabalho a favor da saúde pública e do desenvolvimento rural, Bhumibol poderá em breve deixar de fazer o papel de unificador que parece manter, mesmo afastado dos olhares dos súbditos. Aos 63 anos, o príncipe herdeiro Vajiralongkorn tem multiplicado os escândalos. E o seu recente divórcio foi visto como um passo para a sua ascensão ao trono.