Milhares em protesto nos Restauradores

Milhares de pessoas protestam esta tarde em todo o país. Em Lisboa, a marcha de protesto, com milhares de participantes terminou nos Restauradores.
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"Estou aqui porque quero derrubar esta gente do governo", disse à Lusa um manifestante que empunhava uma enorme bandeira nacional no meio da praça. "Um ladrão terá sempre lugar na governação", lê-se num cartaz nas mãos de um jovem frente à rua do Alecrim, junto a outro manifestante que transporta um pano onde se lê: "Esta sopa dos pobres cheira mesmo muito mal". Ao lado, um homem leva vestido um disfarce de esqueleto simbolizando a "fome".

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, participou na manifestação em Lisboa e disse que o Governo está a levar o "medo" aos locais de trabalho.

A CGTP-IN promove hoje manifestações em todos os distritos do país em protesto contra o agravamento da austeridade e o empobrecimento da população e para exigir novas políticas económicas e sociais.

De acordo com a CGTP-IN, o "Dia Nacional de Luta Contra a Exploração e o Empobrecimento" tem como objetivo a defesa do emprego, o aumento dos salários, os direitos sociais e a contratação coletiva, a melhoria das condições de trabalho, as Funções Sociais do Estado e os serviços públicos.

A demissão do Governo, a convocação de eleições antecipadas, o cumprimento da Constituição da República e a Defesa do Regime Democrático são outras das reivindicações na base do protesto de hoje. Em Lisboa, a intervenção de encerramento será proferida pelo secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos.

Em Coimbra, uma centena de pessoas estão concentradas na Praça da República. Mário Nogueira é um dos sindicalistas presentes. Salta à vista a faixa etária de quem integra o protesto. Gente madura vai desfilar até aos Paços do Município. "Face à ofensiva deste Governo, a luta tem de ter a mesma dimensão", disse aos jornalistas o coordenador da União dos Sindicatos de Coimbra (USC), António Moreira.

Para o dirigente da USC e da CGTP-IN, a intensificação da luta, já em fevereiro, "é um dever cívico das pessoas que sofrem com as políticas" do Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.

O executivo tem afirmado que a situação económica e social "está a melhorar" e que o desemprego "está a diminuir", mas isso "é uma mentira", disse.

António Moreira reconheceu que a participação de jovens na manifestação, em Coimbra, foi reduzida, sendo mais visível a presença de trabalhadores com idades acima dos 40 ou 50 anos, além de reformados e pensionistas, mas realçou que, desses ausentes, "muitos estão a emigrar" por falta de emprego ou trabalham numa situação precária. "Alguns são filhos de muitos pais e mães que estão aqui hoje", acrescentou.

Na sua opinião, existe "ainda um divórcio entre a juventude" e as conquistas sociais e políticas que a revolução do 25 de Abril permitiu, há 40 anos. "O que o Governo tem vindo a dizer é que há sinais positivos, mas isso não é verdade", corroborou, por sua vez, o secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira, que também participou no desfile da CGTP-IN, entre a Praça da República e a Baixa de Coimbra.

A solução dos atuais problemas dos trabalhadores dos setores privado e público, mas também dos jovens e idosos, "passa pela demissão deste Governo", defendeu.

Integrando uma delegação do Sindicato dos Professores da Região Centro, Mário Nogueira reiterou as principais críticas da Fenprof às políticas na área da educação e ao ministro da tutela.

Nuno Crato, segundo Mário Nogueira, protagoniza "um ataque violentíssimo contra a escola pública, tal como está no guião da reforma do Estado" do Governo.

"Nuno Crato é um mero funcionário do ministro das Finanças", acusou. Segundo estimativas da organização, cerca de 500 pessoas terão participado na manifestação da CGTP, em Coimbra.

Na Praça dos Leões, no Porto, algumas centenas de manifestantes estão já concentrados sendo visível uma forte participação de jovens, mas também de idosos que protestam contra os cortes nas reformas e pensões.

No Funchal, cerca de duas centenas de pessoas associaram-se ao dia de luta nacional contra a exploração e desemprego convocada pela central sindical CGTP-In, exigindo o fim do "filme de terror que nunca mais acaba".

"O que estamos a passar na Madeira e no país dá a ideia de que é um filme de terror que nunca mais acaba", disse o coordenador da União dos Sindicatos da Madeira (USAM) aos jornalistas no início da concentração, junto ao edifício da Assembleia Legislativa da Região Autónoma.

Para Álvaro Silva "é urgente acabar com esta longa-metragem de austeridade e exploração" que tem como "protagonistas Pedro Passos Coelho, Paulo Portas, Aberto João Jardim e Cavaco Silva".

"[Este dia de luta é para] exigir ao Presidente da República, que é também é um dos culpados desta situação, a demissão imediata deste Governo que já não tem legitimidade, nem o apoio popular", disse. O sindicalista insistiu que a "luta tem de prosseguir" lembrando que se está a assinalar o 40.º aniversário do 25 de Abril estando em "causa tudo o que se conseguiu".

"Os reformados tão fartos de ser roubados", "com políticas de direita o país não se endireita", "25 de abril sempre - fascismo nunca mais", "basta de exploração e desemprego -- é tempo de lutar", "derrubar o jardinismo", "pelo direito à habitação", "Portas, Passos, Jardim e Cavaco são farinha do mesmo saco", "a luta continua -- Alberto para a rua", "tá na hora do Governo ir embora" foram algumas das frases inscritas nas faixas e gritadas pelos manifestantes no Funchal.

Nesta concentração foi aprovada uma resolução intitulada "reforçar a luta dos trabalhadores contra a exploração e o empobrecimento -- abril e maio de novo, com a força do povo".

Os manifestantes passaram no Palácio de São Lourenço, a residência oficial do Representante da República para a Madeira, tendo o secretariado da USAM dito que na segunda-feira vai pedir uma audiência para entregar o documento.

A marcha continuou e findou, conforme informou Álvaro Silva, "dentro do programado, sem incidentes e com civismo", na Quinta Vigia [presidência do Governo Regional], onde os dirigentes sindicais deixaram na porta, a um funcionário, uma cópia da resolução e, num gesto simbólico, uma cadeira usada e com as pernas de diferentes tamanhos para Alberto João Jardim.

Álvaro Silva explicou que "o movimento sindical, pensando no futuro e bem-estar do presidente do Governo Regional, ofereceu uma cadeira para [Alberto João Jardim] usar nos dias da sua aposentação, para se sentar e pensar nas maldades que fez ao povo madeirense e trabalhadores da Região".

Sobre o estado da cadeira, observou: "Ele que faça ginástica como nós estamos a fazer diariamente, é uma questão de se adaptar às situações como os trabalhadores estão a fazer".

A partir das 15.00 decorreram manifestações e concentrações em outras localidades: Porto (Praça dos Leões), Coimbra (Praça da República), Faro (Largo do Mercado), Aveiro (Largo da Estação), Beja (Portas de Mértola), Braga (Parque da Ponte), Bragança (Praça Cavaleiro Ferreira), Covilhã (Ponte Mártir-in-Colo), Évora (Praça 1º de Maio), Guarda (Largo João de Deus), Leiria (Mercado Santana), Elvas (Rua Alcamim), Santarém (Segurança Social), Viana do Castelo (Praça da República), Vila Real (Avenida Carvalho Araújo), Viseu (Rua Formosa), Angra do Heroísmo (Praça Velha), Ponda Delgada (Portas da Cidade) e no Funchal (junto à Assembleia Legislativa da Madeira).

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